"O amor que começa com o clarão de um relâmpago geralmente acaba com o clarão de um tiro..."
P.
Nesta quinta-feira melancólica, meia chuvosa, com o clima pesado e com os jornais internacionais dizendo abertamente que a epidemia no Brasil está se transformando numa ameaça para o mundo... (mas não se impressionem que eu conheço o pedigree de muitos jornalistazinhos de lá) encontrei a velhinha mística no mercado. Estava com duas embalagens de Damasco turco nas mãos e quase gritando com o gerente porque, segundo ela, a que comprou na semana passada, com 140 gramas, custou menos do que esta outra de hoje, com 100 gramas. Isto é um roubo! Os senhores estão assaltando a população! Com o pretexto dessa merda de vírus estão espoliando os clientes. Ladroezinhos de bosta! E depois reclamam quando os mendigos vem roubar uma penca de bananas ou uma maçã... ou cagar nas escadas do mercado... Na essência vocês são todos larápios enrustidos, basta uma oportunidade para que se transformem nessa excrescência! E tudo com a cumplicidade do Estado. (Aponta para o Alvará pregado à parede). Os senhores não tem vergonha! São uns crápulas de quinta qualidade. Protegidos pela Constituição. Ir ao PROCON? Desde quando que para pegar bandidos é necessário seguir os tramites legais? Ligar para o PROCON? Contratar um advogado... Frescura. Protocolos, leis e obrigações engendradas pelas próprias raposas, para terem tempo de deixar os galinheiros. Se você não cumpre o Contrato Social, meu amigo, não tem mais regalia nenhuma seu merda e qualquer um tem o direito de fuzila-lo, sem a lenga-lenga e a autorização do judiciário ou do Papa. Me entende, seu bosta?
O gerente ficou completamente atordoado. Pediu desculpas. Explicou que o produto era importado. Que o dólar subiu, que seus funcionários estavam estressados pela pandemia e, por fim, que ela poderia levar os Damascos sem pagar nada.
Ela o olhou com fúria, mandou que ele enfiasse os damascos turcos no cu e abandonou o mercado...
Lá fora, o sol ameaçava aparecer...
Acompanhei-a por uns passos e ela, já sorridente, me perguntou: gostou do esporro que dei naquele idiota? Senti até pena, continuou. Frequentemente sinto pena dos homens... - Iniciou a travessia da rua e concluiu- : sobre os homens, penso como Faíza Hayat, em seu livro: o Evangelho da serpente: "os homens são como a chuva, imprescindíveis à vida, revigorantes, mas quando chegam, e em demorando um pouco mais, logo sentimos saudades dos dias de sol..."
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