quinta-feira, 18 de março de 2021

O novo ministro da saúde e o Mendigo K... OU: Um morto é uma tragédia, milhares de mortos, apenas um dado estatístico...




 Nesta quinta-feira igual a todas as do último século, encontrei o mendigo K na padaria do português que, aliás, está prestes a declarar falência. Estava com uma nova esposa que, segundo ele, parece ser bem mais louca do que as anteriores.

Lia a página do jornal local que tratava da epidemia e das declarações do novo ministro da saúde. Perguntei-lhe o que achava e ele, movendo a cabeça negativamente foi implacável. Ridículo! Ridículo que seja médico! Médico é médico! Não tem nada a ver com Ministério, com administração, com burocracia. Colocaram um general que só fez merda. Agora colocam um médico? Que tal, daqui a uns dias, experimentar um advogado? (com suas tramóias jurídicas); um jornalista? (com seu escatológico sigilo de fonte); um engenheiro? (destes que não dominam nem uma regra de três simples); um poeta? (especialista em Cora Coralina ou em Florbela Espanca); um bispo? (com suas feitiçarias medievais)... Quem sabe... Bazzo, conhece aquele ditado popular: "sapateiro, não vá além das sandálias!?"

Mas o cara é médico... Alerto.

Sim, mas o saber de um médico é de outra natureza. Não é treinado para administrar e gerenciar burocratas. Quem conhece as entranhas do serviço público e dos ministérios sabe que dentro dessa máquina infernal, para mudar um mísero sofá de ambiente, de uma sala para outra, são necessários meses de discussões, de intrigas e de memorandos... Assembléias de sindicatos; consultas à OIT e até ao Rerum Novarum do Papa Leão XIII... E sabe que a república em si é uma máquina travada. Iatrogênica. Onde ninguém consegue fazer nada. Onde tudo é sabotado.

Veja o estado geral dos hospitais. Todos administrados por médicos... Um médico, por mais competente que seja na sua especialidade, não consegue administrar nem mesmo sua própria agenda. Me entende?

O combate a epidemia teria sido menos desastroso se tivessem, desde o início, colocado, um burocrata dos Serviços Gerais ou do almoxarifado para administra-lo. Aquele cara que administra a garagem, o armazém, as folhas de ponto, o roubo de papeis e de garrafas térmicas, o funcionamento da descarga dos banheiros... Me entende? Esses caras são os únicos dentro da máquina pública que são práticos, rápidos, objetivos, cartesianos, pragmáticos, competentes... me entende?  O médico está limitado por seu saber sobre bactérias. A sociedade humana, apesar das semelhanças, funciona de maneira diferente. Como lhe dizia, dentro dos ministérios existe uma guerra civil permanente. Um funcionário de quinta categoria, se quiser, inviabiliza a decisão de um diretor ou do próprio ministro com um simples gesto: arrancar uma folha de um determinado processo, por exemplo; deixar de enviar um memorando para a sala ao lado; entupir o vaso sanitário da presidência... Provocar um curto-circuito no auge de uma reunião... Quem é que não conhece o Catecismo de sabotagens da máquina pública? Me entende? E o que fará um médico, desarmado e sem conhecer os imperativos categóricos e os códigos, no meio de uma guerra dessas? E com a mídia lá, desde as sete da manhã, tendo que "cumprir pauta" e querendo saber de onde vão sair os recursos para se comprar um trilhão de vacinas paraguaias; se há realmente algum risco do sujeito vacinado transmutar-se num crocodilo ou num veadinho do cerrado; se a cloroquina fez mais alguns milagres pelo mundo; se o ministro vai usar black-tie ou andar de pijama ou de cuecões cor-de-rosa pelos corredores; se será sua terceira ou quarta "esposa" que estará no jantar e se este será na mansão Y ou X . E os mortos? Bem, sobre os mortos, senhores e senhoras, homens e mulheres  eleitores e eleitoras, sobre os mortos... todos, bolcheviques ou não, seguimos pensando como o velho Stálin: "um  morto é uma tragédia, milhares de mortos, apenas um dado estatístico..."

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EM TEMPO: Assim que ele acabou de falar, sua mulher colocou-me a mão no ombro e cochichou : Bazzo, não o leve muito a sério, ele também é filho da pequena burguesia. Dessa camada esotérica, messiânica e delirante da sociedade que ainda finge acreditar que, quando, por fim, os operários fizerem a revolução social, todos, do dia para a noite, como prometeu Lênin, passaremos a ter até urinóis de ouro em baixo de nossas camas... 

Um comentário:

  1. o mindigo K nao pega virus...e tanta cachassa que o virus morre muito alcou

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