quarta-feira, 31 de março de 2021

"Nous sommes des oiseaux de passage"... E O MUNDO ESPERNEIA (cada tribo com suas ficções e de seu jeito...) SOB A PANDEMIA... (Danser encore...)



 "Mantenho-me a igual distância de Pôncio Pilatos e de Nietzsche. O primeiro indagava a si mesmo o que é a verdade, e o segundo perguntava de si para si o que é a mentira..."  Pitigrilli
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terça-feira, 30 de março de 2021

O Mendigo K e o primeiro dia da Eternidade...

 Nesta terça-feira exuberante de sol, com o país e o mundo atordoados pela pandemia e pelos sintomas mais miseráveis e bizarros que ela tem feito emergir nas populações, deparei-me com o mendigo K numa dessas padarias mixurucas que, pela qualidade dos pães que produzem, só sobreviveram até aqui por milagre...

Estava acompanhado por um professor de filosofia de uma das muitas escolas que há por aqui e que são do mesmo naipe e categoria  da padaria. Estavam em pé, no balcão, esperando por uma nova fornada que estava para sair, e discutiam sobre a eternidade.

O professor, sentindo necessidade de diferenciar-se daquele que todo mundo sabia ser um mendigo e que não tinha "formação acadêmica" passou a questionar suas teses num tom mais pernóstico e mais alto".

Num desafio, e querendo exibir-se para as pessoas que também esperavam pela nova fornada, indagou: Mas então me diga, o que é para você a eternidade?

O mendigo, um pouco cínico, foi gesticulando e reproduzindo algo de um poeta persa que recentemente havia lido num velho pergaminho árabe: "Existe uma alta, uma imensa montanha numa ilha que surge no meio do mar. De mil  em mil anos um pássaro aí chega, pela madrugada. O dia inteiro bate e escava com o bico, e à tarde, ao por do sol, torna a partir, levando consigo um graozinho de rocha. Ninguém sabe aonde vai; ninguém sabe donde vem. Desaparece e volta após mil anos. Quando o pássaro tiver arrasado ao nível do solo a montanha que surge no meio do mar, então terá transcorrido o primeiro dia da Eternidade..."

O alarme do forno disparou. Uma moça com um avental branco apareceu trazendo num cesto enorme a nova e fumegante fornada...


sábado, 27 de março de 2021

Enquanto isso...

Das vacinas; da "política Café com leite"; da supremacia racial... e do chauvinismo patógeno...




"GOSTARIA DE NÃO SABER ESCREVER!"

(Palavras de Nero antes de assinar um decreto de condenação)


 Esta semana foi extremamente pródiga, para mim. Acontecimentos cotidianos me fizeram entender três coisas que até então me eram nebulosas: A "POLÍTICA CAFÉ COM LEITE"; a  "SUPREMACIA RACIAL" e o CHAUVINISMO.

Lembram daquele gesto feito anteontem por um funcionário do Senado Federal, aquele gesto (fazendo um circulo com dois dedos) que, para os inocentes é apenas um gesto obsceno, mas que para os entendidos é um gesto dos grupos que defendem a supremacia de uma raça sobre as outras? Gesto que fez os ciganos, os ianomamis, os judeus, os negros, os armênios, os árabes, os japoneses e até os chineses protestarem?

Lembram dos empresários mineiros, munidos de seringas, ontem, se encontrando clandestinamente numa garagem, para vacinarem uns aos outros? Cenas que no passado, só eram protagonizadas por jovens marginais, drogadictos, esqueléticos e barbudos que driblavam a policia?

E lembram do  governador de São Paulo que ontem à tarde, apareceu anunciando uma nova vacina contra o coronavirus? Uma vacina, segundo ele, genuinamente brasileira, mas que logo em seguida foi desmentido pelos pesquisadores do Hospital Mount Sinai de Nova Iorque? Com quê moral essa gente quer retirar os craqueiros das ruas?

Corado de vergonha, tive um insight (para não dizer uma iluminação): aquilo ali era a tal "Política Café com leite" que veio engabelando o país há um século; aquilo ali era a tal "Supremacia racial dos miseráveis"; aquilo ali era o tão falado chauvinismo dos beócios...


 


A pandemia e a psicologia de massas...

 E o número de mortos não para de crescer. Parece que não há mais o que se possa fazer!. E, quase mais terrível do que essa mortandade toda, é o cabotino silêncio nacional. Há uma paralisia esotérica no ar. Uma discussão interminável entre palhaços, alguns histrionismos perfumados a soldo e por ofício, desde seus esconderijos, e nada mais. Sim, quase por vício e por merchandise... Onde se meteram os  movimentos sociais e os  partidos? Todos calados e paralisados diante do horror. Mais de 3 mil cadáveres, todos os dias.  Sim, é compreensível, já não comovem mais ninguém. Onde estão os heróicos partidos? Os heróicos sindicatos? Os heróicos delirantes de turno que vieram fazendo teatro e demagogia por décadas? E as Universidades? Por que baixaram as lonas? Como conseguirão encarar seus alunos no porvir?

Ah!, apenas discussões entre palhaços! Frases mal pronunciadas! O horror dos hospitais e dos cemitérios... Só a passividade social nos une. Uma sociedade de Barnabés! O rebanho está fatigado. Passivo e sob uma mortalha... Desde sua miopia não quer compreender que a miragem que tremula diante de si e que o confunde é a de um cemitério. Todo mundo inebriado em seus próprios resmungos estéreis e a espera por um milagre, por uma anunciação, ou que Godot aparecendo na esquina interrompa o desastre. Um fracasso que comprometerá gravemente mesmo àqueles que sobreviverem. Uma república ajoelhada, que restringiu seu 'gesto revolucionário' ao histérico bater de panelas nas varandas para, no dia seguinte, em desespero, colocar a cabeça quase que voluntariamente sob a lâmina da guilhotina. Inércia. O que aconteceu com as massas? O que acontece com os responsáveis por essa chacina? 3 mil mortos todos os dias e o silêncio. E muitos, por falta de ar. Respirar! Como deve ser melancólico ouvir um moribundo pedindo ar. Deixando a vida por falta de ar... E não poder sequer abrir-lhe uma janela... Quem é, afinal, que verdadeiramente está pisoteando o Contrato Social?

Mesmo no meio desse horror e dessa passividade de ovelhas, não para justificar-se, mas para sair da inércia, é importante lembrar que "freqüentemente nem os criminosos estão à altura de seus atos: eles o diminuem ou o caluniam..."

quinta-feira, 25 de março de 2021

Viagem ao fundo dos galinheiros... (Recall)

 Tenho percebido que em alguns exemplares do livro Viagem ao fundo dos galinheiros/Por quem os galos cantam, há cadernos que estão repetidos ou trocados. Evidentemente, não é nada grave, fato que não vai alterar em nada o movimento das galáxias, mas.., mas..., quem comprou o livro e encontrar nele o referido defeito, se quiser fazer um recall, e solicitar-me outro exemplar, enviarei imediatamente. (sem custos).

Esclareço que o tal defeito se deve única e exclusivamente aos gráficos que:

1. Trabalharam no livro num horário excepcional;

2. pressionados pela pandemia  e

3. com um garrafão de cachaça recém chegado de Januária dissimulado no meio dos fotolitos...




quarta-feira, 24 de março de 2021

Pelo menos os guatemaltecos têm o seu vulcão...






Frustrados por ainda não terem conseguido com suas pragas, epidemias e outras safadezas aniquilar completamente com a humanidade, de vez em quando os demiurgos, quase em desespero, acionam seus vulcões. Há uns meses foi o do Havai; há uns quinze dias o Etna, na semana passada o da Islândia e agora o da Guatemala.  O que é que o Popocatepetl está esperando?

Diante da mediocridade estética de nossas galerias, de nossos ateliers, e de nosso imaginário, a beleza desses rios subterrâneos de lavas que saltam inesperadamente para fora da terra como salmões, é inigualável. É bem provável que foi essa beleza que levou o filólogo alemão, já em sua época, a recomendar que, para se ter uma vida plena, seria bom ir viver ao lado do Vesúvio...

terça-feira, 23 de março de 2021

E já com a corovac nas veias... Et moi? Et moi? Et moi?...



 
Nesta primeira terça-feira de outono e de LOCK-DOWN, indo na direção de um DRIVE-TRHU para tomar minha vacina (Seria a monarquista OXFORD-ASTRAZENECA? Ou a comunista?) ia conferindo várias vezes o endereço para não ser vítima de uma FAKE NEWS e acabar me FODENDO, ao passar por um grupo de neo-moradores de rua, homens e mulheres de uns 25/30 anos, um deles dirigindo-se a mim gritou: 

- "Eita véião, você já passo da hora!". 

Confesso que senti uma leve flechada na vaidade e em minha probidade intelectual.., mas disfarcei. 

Um outro velhinho, mais ou menos de minha idade, que vendia amêndoas chilenas açucaradas sobre uma mesa improvisada, achando que a agressão havia sido dirigida contra ele, tirou calmamente um dos 4 pés de sua mesa e foi na direção do agressor.

O primeiro golpe foi na nuca. O segundo no occipital esquerdo, o terceiro e definitivo, no teto solar. O moço caiu de boca na grama. Fiz sinal de positivo e de solidariedade para com aquele mais novo assassino da cidade e entrei na fila para a vacinação que já estava de uns dois quilômetros.

Eram 8:49. Velhinhos inquietos e ansiosos em seus automóveis e com sua suposta grandiloquência oculta atrás de suas focinheiras. Quem esqueceu de mijar em casa já estava preocupado. Quem não levou uma barra de chocolate no bolso já estava com medo de uma hipoglicemia...Uns saiam de seus carros e davam uma volta para espichar as pernas e não correrem o risco de terem uma trombose. Quase todos gorduchinhos, as perninhas finas, os olhinhos infantis e alguns com gestos estereotipados que lembravam a síndrome de Korsakov... Reconheci vários deles: esse aí foi diretor geral de uma multinacional. Costumava obrigar suas secretárias a sentarem em seu colo para ensinar-lhes como empenhar uma despesa. No outro dia estava sempre na missa das 6:00, levando uma parte das propinas aos padres e se comungando. Esse outro era tão submisso que até ia comprar calcinhas para a mulher do Figueiredo. Esse aí era um aprendiz de tirano. Rastejava nos pés dos superiores e pisava nos subalternos. Esse aí foi editor chefe de um jornal, submetia todas as matérias à arquidiocese antes de publicá-las. Esse aí foi quem prorrogou por mais um ano e meio minha bolsa de estudos e minha permanência numa escola em Paris. Esse aí foi Secretario Geral de quase todos os ministérios, andava com uma garrafa de cachaça no bolso interno do casaco. Esse limpava os óculos do Jânio Quadros e mais tarde, levava galos pretos para a Casa da Dinda... Esse aí era o mais famoso criador de galos de briga do Planalto... Todos uns puxa-sacos desprezíveis, mas todos uns caras legais. Seus pais haviam chegado em Brasília quase antes de sua inauguração, vindos num êxodo miserável dos mais variados cafundós do país.. No inicio, comiam poeira, conviviam com sapos no jantar, viviam em barracos... Mas depois, foram pegando a manha, se apropriando dos melhores terrenos à beira do lago, comprando barcos, fazendas, caravelas... e mandando vir suas amantes do interior e tiveram filhos com elas, com elas e com suas vizinhas, filhos que quando não eram enviados para estudar na Suíça  eram "plantados" nos cargos mais bem remunerados da República. Ficaram ricos, passaram décadas e décadas só comendo o filé mignon das vacas nacionais... e estão aí, apesar das perninhas finas e das barrigas, querendo viver mais uns dez anos...

Os vendedores de jojoba e de água vão passando ao lado dos automóveis imensos que parecem até ônibus e chamando todo mundo de sua excelência. Vai uma jojoba aí sua excelência? Os velhinhos riem. Lembram dos bons  tempos no Lido e no Moulin Rouge de Paris; das noitadas de Vodka pelo underground de San Petesburgo ou nos arredores do kremlin; dos vinhos das adegas italianas; das viagens pelo Rio Nilo; Das gravatas feitas a mão por uma adolescente indiana;  Das secretárias recém contratadas. Dos  calhamaços de flores e de dinheiro que sempre encontravam sobre suas mesas... Da chegada do Che Guevara na cidade, e do Jânio, com seu estrabismo, lhe passando uma faixa ao redor do pescoço.

E a fila não andava. O relógio já marcava 9:00 horas e as enfermeirazinhas, como se tivessem esquecido que estamos numa epidemia, se moviam com a mesma lentitude como se ao invés de vacinas, aquela velharada estivesse esperando por umas três cartelas de Viagra...

Confesso que senti uma certa alegria ao revê-los. Talvez, depois de hoje, não os veja nunca mais. Com vacina ou sem vacina, morrerão, porque estão, como dizia o moço lá fora, passados da hora... De meus demônios interiores vinha uma humilhante indagação: Bazzo, onde está a superioridade do homem moderno?

Et moi? Et moi? Et moi?




 

segunda-feira, 22 de março de 2021

O vírus e a república. Esse imã de parasitas incompetentes... Essa interminável discussão entre palhaços...

"Todo rato tem um buraco, mas não é todo rato que sai para fora..."

V. Nabokov

 


E a pandemia continua por aí, batendo à porta tanto dos mais beatos como dos mais niilistas; tanto dos mais ilustrados como dos mais energúmenos... Dos mais portentosos como dos mais miseráveis... Dos politicamente corretos, como dos bandidos de turno... Dando um show de imparcialidade e causando um horror com uma mortandade absurda e vergonhosa... Desconstruindo não apenas o mito do Sistema de Saúde como o da República... Esses dois tabernáculos a quem os barnabés de sempre vieram queimando incenso  e espargindo água benta há décadas. Tudo idealizado; falsificado; tudo sucateado; tudo maquiado... Teatro de fantoches, onde até os mais otimistas e alienados estão absolutamente decepcionados, não apenas com a sociedade, mas até com a tal civilização. Se sentem traídos. Expostos. Vulneráveis! Quase bucha de canhão! Tantos anos pagando impostos e Planos de Saúde!!! É quase inacreditável que o mundo, depois de tantas epidemias, de tantos cacarejos e de tantas bravatas, se encontre prostrado e vulnerável desse jeito diante de um vírus... 

 E o desastre é de tal envergadura que até os tais economistas; os tais empresários e os tais  banqueiros resolveram expressar seu espanto através de uma carta. Repito: até os banqueiros! Uma carta? Mas uma carta endereçada a quem? Ao vírus? Ao papado? A Godot? Teatro de fantoches! O que é um empresário? O que é um economista? O que é um banqueiro? 

O que é essa gente que até bem pouco tempo antes da aparição do vírus, todo mundo, de esquerda e de direita a considerava como a mais longa e a mais destrutiva das epidemias? A epidemia das aves de rapina, a dos empréstimos, a da especulação financeira e a da usura... Uma epidemia que veio silenciosamente fazendo vítimas desde, os mercadores e os usureiros das ruas de Florença. Desde o Banco San Giorgio de Gênova, (1400); desde a família dos Rothschilds... Até os pequenos e miseráveis agiotas que ainda emprestam dinheiro por aí...  A pandemia da moeda...

É curioso que diante do desastre e do desmascaramento que o vírus vem causando mundo afora em todas as REPÚBLICAS (tanto as gigantes como as  republiquetas; tanto as com bombas atômicas como as que não dispõem sequer de papel higiênico), ninguém se atreva a questionar essa idéia fajuta e esse "balão de ensaio" de Platão. Esse teatro de fantoches e esse imã de parasitas incompetentes que é a república... Bah! Quase dois mil e quinhentos anos de fiascos!

Uma odisseia de beócios e de vira-latas...

 meu ip


Depois da manchete das semana passada acusando o Brasil de ser uma "COLÔNIA DE LEPROSOS", recentemente surge outra, tão mórbida e cretina como aquela: "O BRASIL É O CEMITÉRIO DO MUNDO".

Repito: isto é de um ressentimento, de um vira-latismo e de uma falta de auto-estima abominável tipica de babacas veneráveis que, na compulsão por atacar os palhaços-de-turno, acabam fragilizando o país e a si próprios diante das hienas internacionais... Ao invés de uma panorâmica planetária, uma visão beócia, doméstica, funérea, míope e cabotina de chacareiros...

Para fazer um contraponto a essas duas idiotices masoquistas & suicidas, cito um pensamento popular lá no país de Confúcio e de Mao Tsé Tung:

"LEVANTAR UMA PEDRA PARA DEIXÁ-LA CAIR SOBRE OS PRÓPRIOS PÉS, É UM DITADO COM O QUAL OS CHINESES DESCREVEMOS O COMPORTAMENTO DE CERTOS IDIOTAS..."



quinta-feira, 18 de março de 2021

O novo ministro da saúde e o Mendigo K... OU: Um morto é uma tragédia, milhares de mortos, apenas um dado estatístico...




 Nesta quinta-feira igual a todas as do último século, encontrei o mendigo K na padaria do português que, aliás, está prestes a declarar falência. Estava com uma nova esposa que, segundo ele, parece ser bem mais louca do que as anteriores.

Lia a página do jornal local que tratava da epidemia e das declarações do novo ministro da saúde. Perguntei-lhe o que achava e ele, movendo a cabeça negativamente foi implacável. Ridículo! Ridículo que seja médico! Médico é médico! Não tem nada a ver com Ministério, com administração, com burocracia. Colocaram um general que só fez merda. Agora colocam um médico? Que tal, daqui a uns dias, experimentar um advogado? (com suas tramóias jurídicas); um jornalista? (com seu escatológico sigilo de fonte); um engenheiro? (destes que não dominam nem uma regra de três simples); um poeta? (especialista em Cora Coralina ou em Florbela Espanca); um bispo? (com suas feitiçarias medievais)... Quem sabe... Bazzo, conhece aquele ditado popular: "sapateiro, não vá além das sandálias!?"

Mas o cara é médico... Alerto.

Sim, mas o saber de um médico é de outra natureza. Não é treinado para administrar e gerenciar burocratas. Quem conhece as entranhas do serviço público e dos ministérios sabe que dentro dessa máquina infernal, para mudar um mísero sofá de ambiente, de uma sala para outra, são necessários meses de discussões, de intrigas e de memorandos... Assembléias de sindicatos; consultas à OIT e até ao Rerum Novarum do Papa Leão XIII... E sabe que a república em si é uma máquina travada. Iatrogênica. Onde ninguém consegue fazer nada. Onde tudo é sabotado.

Veja o estado geral dos hospitais. Todos administrados por médicos... Um médico, por mais competente que seja na sua especialidade, não consegue administrar nem mesmo sua própria agenda. Me entende?

O combate a epidemia teria sido menos desastroso se tivessem, desde o início, colocado, um burocrata dos Serviços Gerais ou do almoxarifado para administra-lo. Aquele cara que administra a garagem, o armazém, as folhas de ponto, o roubo de papeis e de garrafas térmicas, o funcionamento da descarga dos banheiros... Me entende? Esses caras são os únicos dentro da máquina pública que são práticos, rápidos, objetivos, cartesianos, pragmáticos, competentes... me entende?  O médico está limitado por seu saber sobre bactérias. A sociedade humana, apesar das semelhanças, funciona de maneira diferente. Como lhe dizia, dentro dos ministérios existe uma guerra civil permanente. Um funcionário de quinta categoria, se quiser, inviabiliza a decisão de um diretor ou do próprio ministro com um simples gesto: arrancar uma folha de um determinado processo, por exemplo; deixar de enviar um memorando para a sala ao lado; entupir o vaso sanitário da presidência... Provocar um curto-circuito no auge de uma reunião... Quem é que não conhece o Catecismo de sabotagens da máquina pública? Me entende? E o que fará um médico, desarmado e sem conhecer os imperativos categóricos e os códigos, no meio de uma guerra dessas? E com a mídia lá, desde as sete da manhã, tendo que "cumprir pauta" e querendo saber de onde vão sair os recursos para se comprar um trilhão de vacinas paraguaias; se há realmente algum risco do sujeito vacinado transmutar-se num crocodilo ou num veadinho do cerrado; se a cloroquina fez mais alguns milagres pelo mundo; se o ministro vai usar black-tie ou andar de pijama ou de cuecões cor-de-rosa pelos corredores; se será sua terceira ou quarta "esposa" que estará no jantar e se este será na mansão Y ou X . E os mortos? Bem, sobre os mortos, senhores e senhoras, homens e mulheres  eleitores e eleitoras, sobre os mortos... todos, bolcheviques ou não, seguimos pensando como o velho Stálin: "um  morto é uma tragédia, milhares de mortos, apenas um dado estatístico..."

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EM TEMPO: Assim que ele acabou de falar, sua mulher colocou-me a mão no ombro e cochichou : Bazzo, não o leve muito a sério, ele também é filho da pequena burguesia. Dessa camada esotérica, messiânica e delirante da sociedade que ainda finge acreditar que, quando, por fim, os operários fizerem a revolução social, todos, do dia para a noite, como prometeu Lênin, passaremos a ter até urinóis de ouro em baixo de nossas camas... 

terça-feira, 16 de março de 2021

Brennand, a Serpente de cobre e os ladrões...




Se você já passou por Recife alguma vez, com certeza foi ver  a Serpente de bronze (do Brennand), no Parque das esculturas inaugurado em 2000, com 90 obras, das quais só restam umas 10. As outras 80 foram roubadas, derretidas e vendidas como sucatas. A serpente de bronze, uma das mais famosas, já foi roubada e derretida há alguns anos, mas nesta semana os gatunos voltaram e levaram outras peças. Onde estariam os guardas? Dormindo ou pulando frevo?
Qual seria o perfil dos ladrões? Teriam ódio à arte, como Goebbels, ou um interesse puramente comercial? Lembram do velho Goebbels (o assessor de Hitler) que gostava de declarar: sempre que vejo alguém falar em arte, saco a pistola? 
Derreter as peças dá num significado ainda mais macabro ao roubo. E foram roubar logo a serpente... Esse animal asqueroso que tem um lugar de destaque em praticamente todas as religiões. Lá em Gênesis, por exemplo, pode-se ler esta frase:  "Moisés fez então uma serpente de bronze e a colocou num poste. Quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, permanecia vivo" . Brennand e os ladrões conheciam esta lenda?


segunda-feira, 15 de março de 2021

Você não precisa ser chauvinista e nem nacionalista para considerar essa manchete uma infâmia de vira-latas...


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Esta manchete apareceu esta semana num jornal de Minas Gerais. Que tenha sido engendrada por alguém daquele jornal ou replicada de algum outro jornal (estrangeiro ou nativo), é uma infâmia, uma deslealdade, um vira-latismo e uma cretinice (cretinice no sentido clinico) inadmissível. Uma espécie desprezível de suicídio; a pequena burguesia querendo salvar as aparências perante patrões imaginários... E minha manifestação não está alicerçada em nenhum tipo de chauvinismo e muito menos de nacionalismo. Só o faço porque considero a referida manchete uma canalhice tanto contra a população em geral, como com os doentes da COVID 19, como com os milhões que ainda sofrem de hanseníase no Brasil. E, forçando um pouco a barra, até mesmo com os países vizinhos que, duvido, se atreveriam a fazer uma acusação semelhante... Em síntese: NÃO, não somos um depósito de leprosos! A não ser que na  referida manchete, o leprosário seja apenas uma manifestação histriônica e meramente projetiva de seu autor... Além disso, há truques e meios bem menos cafajestes para promover a venda de jornais...
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https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2021/03/14/interna_nacional,1246545/covid-brasil-e-tido-como-colonia-de-leprosos-vizinhos-fecham-fronteiras.shtml

E lá fora, apesar de tudo, até as abóboras continuam florindo...


sábado, 13 de março de 2021

Março, o mês do massacre em Roma...


"Um livro te faz sofrer? Leia-o. Esse livro te salvará..."

V.Vila

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 Se você quiser ter noção do que o fascismo e o nazismo juntos causaram à população de Roma durante os anos de ocupação, deve ler o livro de Robert Katz: Massacre em Roma

Já ouviu falar da gruta de Ardeatine? Não!? 

Em Roma, além do Coliseu, das basílicas, do Vaticano, das pizzarias, das boutiques da Via Dei Condotti, além daquele velhinho tocando Bella Ciao, em seu realejo, existe também Le Fosse Ardeatine. Sabia?



"No Norte da Itália, onde os exércitos de Kesselring foram completamente derrotados, em 25 de abril de 1945, existe um testamento em memória do Marechal-de Campo nazista. Gravado numa placa de mármore, está colocado na cidade de Cuneo. Seu autor é o prof. Piero Calandrei, Reitor da Universidade de Florença.
[Você terá, Camarada Kesselring, o  monumento que exigiu de nós, italianos. Mas decidiremos de que pedra será construído. Não será com os tijolos arrancados das cidades indefesas que você ultrajou e destruiu. Não será com a terra dos cemitérios onde nossos jovens irmãos dormem, em paz. Não será com a neve inviolada das montanhas onde por dois invernos eles o desafiaram. Não será com a primavera destes vales que viram você fugir. Será somente com o silêncio torturado que é mais duro do que qualquer granito. Somente com a pedra deste voto solene, jurado por homens livres, que de bom grado se reunem, mais na dignidade do que no ódio, que decidiram redimir a vergonha e o terror de seu mundo. Nestas estradas, se algum dia você retornar, vai encontrar-nos mais uma vez em nossa casa, com a mesma disposição, na vida e na morte, uns juntos dos outros, em torno do monumento denominado, agora e sempre, Resistência.]" (p. 104)


 



sexta-feira, 12 de março de 2021

E as vacinas? Se não chegarem logo.., não terão mais utilidade, pois os mortos já não as desejam e nem precisam delas...)


"Lamento que a inteligência não tenha a sensibilidade dolorosa dos dentes..."

George Bataille

 E a vacina? Quando chegarão as vacinas? Estamos quase piores do que em 1918, no século da Gripe Espanhola... (saeculum obscurum!) 

Relaxem, relaxem, tenham paciência que se sobrarem algumas depois que as monarquias vacinarem seus súditos e vassalos, as despacharão também para a América Latina e também para nós... E, claro, a peso de ouro. Aliás, que  ninguém se espante se tentarem até fazer permuta ou propor um escambo com nossos governantes: uns milhões de doses por alguns alqueires da Amazônia ou por algumas minas de diamantes... 

O problema é que poderá ser tarde demais já que, pelo que se sabe, as vacinas, sejam elas da marca que for, não ressuscitam os mortos. Não é verdade?

Talvez essa infâmia, essa humilhação e essa falta de tesão sirva e venha a ser mais um motivo para que se comece a pensar em deixar de ser uma Colônia e um Terceiro Mundo que se contenta em seguir ordenhando vacas; servindo de "laboratório", exportando soja, deportando porcos e pedalando na maionese...  Quem sabe esta experiência terrível não leve o país a compreender que é fundamental passar a investir mais em soberania do que em misticismo... E misticismo aqui, entendam bem, não é apenas misticismo religioso, mas também misticismo cultural e político, essa neurose de ignorantes que tem jogado uns contra os outros por puro fanatismo, alienação e fé....

quinta-feira, 11 de março de 2021

Enquanto isso... (11 março 1921, nascimento de Piazzolla)











Os damascos turcos... e os ladroezinhos de turno...





"O amor que começa com o clarão de um relâmpago geralmente acaba com o clarão de um tiro..."

P.

 Nesta quinta-feira melancólica, meia chuvosa, com o clima pesado e com os jornais internacionais dizendo abertamente que a epidemia no Brasil está se transformando numa ameaça para o mundo... (mas não se impressionem que eu conheço o pedigree de muitos jornalistazinhos de lá) encontrei a velhinha mística no mercado. Estava com duas embalagens de Damasco turco nas mãos e quase gritando com o gerente porque, segundo ela, a que comprou na semana passada, com 140 gramas, custou menos do que esta outra de hoje, com 100 gramas. Isto é um roubo! Os senhores estão assaltando a população! Com o pretexto dessa merda de vírus estão espoliando os clientes. Ladroezinhos de bosta! E depois reclamam quando os mendigos vem roubar uma penca de bananas ou uma maçã... ou cagar nas escadas do mercado... Na essência vocês são todos larápios enrustidos, basta uma oportunidade para que se transformem nessa excrescência! E tudo com a cumplicidade do Estado. (Aponta para o Alvará pregado à parede). Os senhores não tem vergonha! São uns crápulas de quinta qualidade. Protegidos pela Constituição. Ir ao PROCON? Desde quando que para pegar bandidos é necessário seguir os tramites legais? Ligar para o PROCON? Contratar um advogado... Frescura. Protocolos, leis e obrigações engendradas pelas próprias raposas, para terem tempo de deixar os galinheiros.  Se você não cumpre o Contrato Social, meu amigo, não tem mais regalia nenhuma seu merda e qualquer um tem o direito de fuzila-lo, sem a lenga-lenga e a autorização do judiciário ou do Papa. Me entende, seu bosta?

O gerente ficou completamente atordoado. Pediu desculpas. Explicou que o produto era importado. Que o dólar subiu, que seus funcionários estavam estressados pela pandemia e, por fim, que ela poderia levar os Damascos sem pagar nada.

Ela o olhou com fúria, mandou que ele enfiasse os damascos turcos no cu e abandonou o mercado...

Lá fora, o sol ameaçava aparecer...

Acompanhei-a por uns passos e ela, já sorridente, me perguntou: gostou do esporro que dei naquele idiota? Senti até pena, continuou. Frequentemente sinto pena dos homens... - Iniciou a travessia da rua e concluiu- : sobre os homens, penso como Faíza Hayat, em seu livro: o Evangelho da serpente: "os homens são como a chuva, imprescindíveis à vida, revigorantes, mas quando chegam, e em demorando um pouco mais, logo sentimos saudades dos dias de sol..."




quarta-feira, 10 de março de 2021

O discurso do Lula: uma peça literária de qualidade...

 Dediquei três horas desta manhã de quarta-feira para ouvir o discurso do Lula. Pense você o que quiser sobre ele, sobre o mensalão; sobre o Petrolão; sobre aqueles trilhões que evaporaram e etc... duvido que discorde de suas teses sobre política exterior, petróleo, saúde, sobre a cadeia, o judiciário, as massas, a mídia e etc. Falou do Papa, do velhinho gagá lá do Uruguai; da prefeita de Paris e até do Raduan Nassar, o autor de um dos mais estupendos livros publicados no Brasil: Copo de cólera. Impressionante a clareza de seus razonamentos. Os 500 dias de cadeia não prejudicaram sua lucidez. Domina a linguagem e inclusive a ironia como ninguém. .

Mas então, o que aconteceu com os vinte anos que ele e seu partido estiveram no poder?

1. Esse discurso é só para boi dormir?

2. Nao é mais do que literatura?

3. Na prática a teoria é outra?

4. O formato em que está montada a república, a torna ingovernavel e induz seus atores à desonestidade e à corrupção?

5. Foi traído por seus camaradas?

Ninguém responde, principalmente por que ninguém se atreve a perguntar.

Enfim, se for novamente candidato, pelo voto, ninguém o derrotará. Assista, mas sem preconceito:


terça-feira, 9 de março de 2021

O Ministro Fachin - Ou: faça você mesmo a sua infelicidade...




"L'enfer de Dante est beaucoup plus ingénieux que son Paradis..."

  

 E o país amanheceu em surto com a decisão do Ministro Fachin a respeito do Lula e de outros condenados na Lava Jato. Uns em surto de felicidade, outros em surto de cólera. Pedantocracia e suicídio! Aberração judiciária! Resmungam uns... Os outros estão em festa. Afinal, os fins não justificam os meios, como pregava aquele poeta romano? E não são poucas as hipóteses e as teorias a respeito de tal decisão... O juiz teria enlouquecido? Ou, está mais lúcido do que podemos imaginar? Seria da linha: vamos implodir essa merda e faça você mesmo a sua infelicidade?

Qual é realmente o significado dessa decisão? O que o Lula, o Moro e nós temos realmente a ver com isso? Estaríamos sendo ludibriados? O buraco seria bem mais em baixo?

Uma coisa é certa: essa gente ainda não colocou os pés no iluminismo. Há uma caixa preta provinciana e uma Idade Média intacta no inconsciente dessa turma... 

E atenção: não importa o bando de tua preferência, vai comprando teus ingressos, pintando os lábios, tirando o dicionário de latim da prateleira e acendendo as velas do candelabro que a história, ao contrário do que profetizou Fukuyama, não acabou... Em nova temporada,  o espetáculo está de volta! O circo febril prolongou sua estadia... e por tempo indeterminado... Em outras palavras: Não é por acaso que o inferno de Dante é muito mais engenhoso que seu paraíso...




segunda-feira, 8 de março de 2021

Em 10 lições... Indispensável...

 "Un manual sobre cómo aprender técnicas efectivas para librarse de personas tóxicas y de los efectos nocivos que aquellos individuos ejercen sobre su salud mental y física..."

César Landaeta H.



O admirável mundo novo! Um mundo de farsantes, de ladrões e de estelionatários...


O que nos diferencia de uma hiena, é que a hiena jamais roubará a carteira de alguém..

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 Um dos multiples problemas de ter 70 anos, é que todos os golpistas e ladrões do orbe começam a gravitar ao redor de tuas contas bancárias, de tua carteira e de teus bolsos, mesmo que você seja um fodido que está quase caindo na mendicância. No mês passado, por exemplo, comprei umas três panelas estupendas, daquelas pós modernas, com tampa de vidro fumê, chips do Vale do Silício, relógio, termômetro e sal do Himalaia embutidos e também uma frigideira daquelas que os ovos se multiplicam e não grudam... e já se passaram quase 40 dias... Nada! Minhas panelas não chegaram e os caras desapareceram...

Golpe 2. Há menos de meia hora recebi o famoso telefonema de uma senhorita extremamente arguta e simpática. Haviam, segundo ela, clonado meu cartão e com ele comprando um Iphone de 4.920 reais num shopping de luxo da cidade.  Seu papo era educado, gentil, lúcido e de alguém que estava fazendo de tudo para ajudar-me. Deixei-a explicitar o plano e escapei nos últimos segundos. Liguei para o Banco e as orientações que me deram foram idênticas às da sedutora estelionatária... 

Conclusão: está tudo dominado!

90% de nossos contatos diários são com pessoas que nem sabemos se existem, ou com robots de cuja existência e endereço, não temos a mínima idéia. Não sabemos se estamos falando com alguém da casa da frente, com almas de outro mundo ou com alguém hospedado num hotelzinho vagabundo da Sibéria. E os velhinhos, acostumados a cumprimentar jumentos por aí, pisando em nuvens e no mundo da lua, como se ainda estivessem passeando com suas velhas naquelas carruagens com rodas de madeira enquanto faziam fumaça em seus cachimbos de argila, vão sendo enrabados e escalpelados sem nem sequer tomarem consciência. 

Ninguém nega que esses estafadores são admiráveis e que estão dando um baile nas policias e nos tais investigadores...

De minha parte, como bom cristão, e como um humanista exemplar, eu os perdoaria a todos, mas só depois de tê-los submetido a uma rajada de metralhadora ou de vê-los enforcados...

Mas, e minhas panelas? E minha frigideira?


VIII-III-MMXXI (Nem deusa nem mártir...)





sábado, 6 de março de 2021

Vai um atestado de óbito aí?


     (Correio Brasiliense) 

Depois dos vendedores de vacinas falsas na China e na Africa do Sul; das vacinas de vento enfiadas nos bíceps dos octogenários; dos hospitais de campanha e de uma infinidade de outros golpes que ainda nem temos consciência, nesta semana surgiu um novo e estupendo aqui na Capital da República. O golpe do Atestado de Óbito. O sujeito que, pela razão que for, quiser dar um sumiço em si mesmo, mas sem recorrer ao suicídio clássico, tendo dez mil reais para pagar um médico e o dono de uma funerária, já pode comprar um Atestado de Óbito registrado em cartório e tudo o mais e desaparecer do mapa. Que tal!?

É provável que nunca se tenha visto algo parecido no mundo. Os especialistas em malandragens, em cinismo e em aberrações coletivas estão curiosos para saber o que deve sentir o morto-vivo quando, no dia dos mortos, vê seus filhos, seus ex-sócios, seus credores, seus parentes longínquos e suas amantes chegando ao cemitério com sandálias tipo as de Pilatos, cheios de olheiras, se ajoelhando ao redor de sua tumba, depositando sobre ela um feixe de cravos vermelhos e jurando que o falecido foi-em-vida o homem mais dedicado, mais carinhoso, mais honesto, mais sincero... Um gentleman que tinha horror e desprezo pela morte e que, sobre a face da terra, era quem mais amava a verdade, a vida, a liberdade... os picos do Himalaia e o Monte de Vênus...



sexta-feira, 5 de março de 2021

E o vírus, além de popularizar a tragédia da condição humana, escancara também a miséria de competências...

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 E a pandemia avança, revelando de forma melancólica nossa dificuldade prática de organizar e de resolver até bagatelas e coisas elementares. 

Que tenhamos conseguido viver esses quinhentos anos como país e como nação, nos faz até começar a admitir que sim, existem milagres. Se você não entende muito bem o que estou querendo dizer veja como foi hoje a tentativa de vacinação no município de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro e em outros municípios do Estado de  Minas gerais. Inacreditável. Não é possível! Não é normal! O que é que aconteceu neste país e com essa gente? E não precisa nem ser um vira-lata para ficar estupefato. E os hospitais? Quem é que não se arrepia ao ver as imagens dos pacientes nos hospitais? Apesar dos administradores e gestores tentarem se esconder sob o manto da epidemia, qualquer um que não seja intelectualmente desonesto e nem um farsante, sabe, e muito bem, que essa zona e essa porra louquice vem de longe. Que a indiferença e o colapso já vinham sendo gestados e prosperavam... Vejam as primeiras páginas dos  jornais da época, de vinte ou de cinco anos atrás... Quem é que não se lembra das filas imensas ao redor dos hospitais durante semanas inteiras, com pacientes aniquilados vindos de todas as regiões para implorar uma consulta, um comprimido, um curativo, um diagnóstico? E tendo que voltar para suas casas com suas dores e com suas misérias...

O vírus, além de horrorizar a todos, está evidenciando um déficit administrativo e de caráter tremendo, deficit que de uma maneira ou de outra veio até aqui sendo mantido por debaixo dos panos. Um horror. Uma vergonha. Uma dívida, da qual as gerações de políticos das últimas décadas, uma hora-ou-outra, terão que prestar contas. 

E aos que sobreviverem, não basta apenas querer voltar à "normalidade"; mudar de religião; de partido ou de máscara. Aliás, voltar à normalidade seria um horror. É necessário que tenhamos claro que aquela normalidade é iatrogênica, abominável, não faz bem... e que, no momento oportuno, é necessário destruir tudo, inclusive as ruínas... Porque, como dizia o delirante Angelus Silesius: "é necessário descer aos abismos dos infernos de vez em quando, caso contrário, quem não faz essa descida vivo, terá que fazê-la morto..."

quarta-feira, 3 de março de 2021

O padre assaltante e sua pistola de brinquedo...

Acabo de receber, de minha correspondente lá no Rio Grande do Sul, a noticia de um padre que, no mesmo dia, cometeu três assaltos, a mão armada, numa cidadela conhecida por Tapejara. E digo a mão armada apenas para ser compreendido, pois aquele sujeito portava uma pistola  de brinquedo. De brinquedo? Sim! Aliás, o que é um guru senão uma criança disfarçada? E.., como a pistola é sempre um símbolo genital...  As gravatas também. Lembram daquele outro, lá em Miami?

Diz a noticia que o representante de deus é jovem e que confessou à policia que o fez num momento de desvario e de loucura. Tudo bem. O problema é que todos os beatos do país ainda estavam preocupados e tentando se recuperar da decepção com a história daquele outro padre da confraria do Pai Eterno, de Goiás... Lembram? Estaria acontecendo alguma confusão entre o profano e o sagrado? Teria sido contaminado e influenciado por alguma anedota histórica?  Ou pelos relatos dos que ouve diariamente no confessionário? Segundo os brigadistas de plantão, o "meliante", apesar de estar numa caminhonete dessas de latifundiários, pertencente à Diocese, com tração nas 8 rodas e que custam quase o preço de um helicóptero, roubou apenas duas ou três bagatelas para higiene... Haveria algum vaso comunicante entre a filosofia da miséria e o crime? Entre a abstinência e o furto? Sim, sobre a cleptomania, ninguém mais tem dúvidas. Mas a cleptomania normalmente é um transtorno de mocinhas...

Que barbaridade!!!

É bem provável que com esse escândalo, aquela pequena cidade, além de buscar um líder espiritual com outro perfil, também aproveitará para mudar de nome. Tapejara? Qual seria sua raiz etimológica?

2. E na Bahia, um avião que transportava vacinas da coronavac, ao pousar numa cidade do interior, chocou-se com um jumento distraído que zanzava pelo aeroporto. Nem o jumento, nem o avião e nem as vacinas sofreram danos sérios.

3. Uma comitiva governamental está prestes a viajar (se já não viajou) para Israel, para ver de perto (e comprar) o spray que, segundo nosso Presidente é milagroso no tratamento da COVID 19.  Lembro que nos anos 80-90, ali na parte superior da rodoviária, ficavam umas moças disfarçadas de hippies vendendo Óleo Sagrado de Israel e também garrafas de Água do Rio Jordão ungidas em Israel. Teria algum paralelo? Onde estão essas moças? Foram presas ou levantaram voo para os céus? Viajar? Tudo bem, mas uma comitiva? Para quê? Tudo poderia ser resolvido pelo WhatsApp ou com a ida de apenas um agente de saúde. Mesmo monoglota, com dois dias lá, resolveria tudo e ainda teria tempo de passar um final de tarde no interior das muralhas da velha Jerusalém, admirando aquela maravilha e comendo uns bolinhos de Falafel ou um sanduíche de pastrami com pepino e repolho...

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EM TEMPO: E as vacinas? Por quê a necessidade neurótica e burocrática de vacinar só nos horários comerciais? O que é que impede que se vacine a população durante as 24 horas do dia?


Uma existência ordinária e a workfobia...



 Nestas manhãs ensolaradas de quarta-feira, todo mundo costuma acordar embalado por um entusiasmo meio infantil que só dura até lembrar que há uma pilha de pratos para serem lavados, que estamos no meio de uma epidemia que colocou o mundo de cócoras e que ameaça bater à porta até dos mais delirantes... Sobreviveremos?

Na primeira página de um jornal a noticia metafísica de que aqui na cidade existe uma Sociedade Secreta maçônica e que muitos de seus membros já foram abatidos pela COVID. Penso em Allende e em um outro lacaio (seu inimigo) que pertenciam à mesma fraternidade... Mas sociedade secreta? Como, "secreta?" se colocaram até foto da logia, no jornal. Ficções. Contos da carochinha. Estão lendo de forma equivocada a E. A. Poe. Vício de turvar a água para amenizar a existência ordinária a que estamos expostos e para dar a impressão de profundidade.

E os hospitais, bem como os cemitérios, estão lotados. Lockdown  geral e nacional. Todos os sobreviventes coçando o saco em casa. Os alcoólicos Anônimos, os cirurgiões de bariátrica e os hospícios terão trabalho redobrado quando o vírus, saciado, se retirar. Sem falar da workfobia que está se tornando crônica. Apesar da ciência fazer de tudo para não ficar desmoralizada perante o populacho, está deixando claro que estava bem mais preparada para lidar com picadas de pulgas e de carrapatos, do que com parasitas intracelulares & invisíveis...

E os militantes profissionais continuam diariamente em suas lives e já começam a preparar-se para as eleições de 2022. É um espetáculo  impressionante ouvi-los. A matriz linguistica e o idealismo deles não se diferem em nada da dos pastores das seitas pentecostais; panteístas; romanas; ortodoxas; judaicas; islâmicas; africanas; gregas; espíritas; shintoístas e haitianas que há por aí e que ocupam todos os horários das TVS e das rádios...  todas fervorosamente esperando por Godot... Sim, há outras tantas mas que ainda nem estão catalogadas... pós-modernas e todas hebrefrênicas... Em cada esquina uma mais surrealista que a outra!. Aliás, um discípulo da Fé Bahá-i, me dizia, meio em broma e meio em sério, que Cristo foi o único judeu que não deu certo nos negócios... Partidos e seitas! Acho até que acreditam naquilo que dizem. Mas, o que é deprimente é! Vê-los afirmar que para 2022 só há duas alternativas: Bolsonaro outra vez!, ou Lula novamente!, é de arrepiar e de ter uma vertigem. Olho para a estante, na direção do I Volume do D.T.Suzuki... Zen Budismo! Um Evangelho do sossego! Lições para suportar o insuportável! Um outro ópio! O Sátori! Ou, em sânscrito, o Sambodhi. Uma cantoria opiácea que dizem ser a harmonia das esferas emerge de suas páginas... O Zem e a psicanálise. Um ou outro Koan daquele Evangelho com sushi, pretende acalmar-me: Bazzo, "o problema é que a maioria está cabalmente morta e não quer ser ressuscitada"... Curiosamente, ao lado desse livro publicado pela Kier, de Buenos Aires, está outro, também transcendente: Como a picaretagem conquistou o mundo, de Francis Wheen. 

O sol está amarelado, agradável e morno, igual ao de dois mil anos atrás... Ouço a gargalhada niilista do mendigo K que passa lá embaixo... E la nave va...

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EM TEMPO: Mais tarde, o cara da fé Bahá-i veio fazer um adendo à sua tese. "Bazzo, eu disse que Cristo foi o único judeu que não deu certo nos negócios. Errado! Ele foi o judeu que alcançou o maior sucesso empresarial de todos. Foi o fundador da maior multinacional que se conhece. Veja o vaticano. Só o que suas filiais faturam com a venda da Bíblia, no mundo inteiro, de rosários, patuás e com os dízimos, é muito mais, bem mais do que faturam os banqueiros descendentes da família Rotshild..." 

segunda-feira, 1 de março de 2021

Viagem ao fundo dos galinheiros (CANTO INTRODUTÓRIO...)


 

https://bilisnegraeditora.minhalojanouol.com.br/produto/358641/viagem-ao-fundo-dos-galinheiros  como fazer uma loja virtual


Canto Introdutório...

“Os burocratas e outros homens “práticos” costumam votar aos poetas um desprezo tão profundo que lhes é indiferente o que estes escrevem...” 

George Orwell

Devo apresentar-me? Apresentar minha obra? Mas de onde veio essa necessidade? Já não bastam as 400 páginas que o leitor terá que encarar daqui para diante? A propósito, enquanto escrevo, sempre de- dico um bom tempo para imaginar, e com um certo sadismo, tanto os alfarrabistas como os compradores compulsórios de livros lá no meio das estantes e das traças deparando-se com meus textos. O cheiro da linotipia e das impressoras importadas da Alemanha ainda impregnado nas portadas; os defeitos que foram inevitáveis; os crimes gramaticais; a poeira e as varejeiras que, segundo Orwel, adoram ir morrer sobre as lombadas empoeiradas. E os preços, sempre anotados em códigos e a lápis, para poder, de um dia para o outro, alterá-los. Basta a notícia de que o autor está sendo velado para que os livreiros passem a noite turbinando os preços de suas obras... Mas isto é o que menos interessa para quem escreve. Apesar de não ter mais do que vinte ou trinta leitores, fui sempre um sujeito sortudo e afortunado. Embaixo de praticamente todas as pe- dras em que tropecei pelo caminho, sempre havia, misteriosamente, um diamante, uma esmeralda ou o mapa de uma mina (a maioria, mais tarde,se mostrou falsi cada). Oxalá, os demiurgos não tenham vingativamentereservado todo tipo de sacanagens para infernizarem minha última dé- cada. Da única coisa que me ressinto e de que me queixo, é de nunca ter sido contratado por uma grande e respeitada editora ou por um grande erespeitado jornal para, com quinze mil euros por mês, car girando pelo mundo, com um único compromisso: uma vez por semana, enviar-lhes meia lauda, com a qual iludiriam e ludibriariam seus anunciantes e leito- res... O vacilo foi deles, por que eu, segui troteando pelo planeta assim mesmo, ora na real, ora de forma fantasiosa, o que, todos sabemos, dá no mesmo. Naveguei por todos os mares, escalei todas as montanhas e desci por uma corda em praticamente todos os abismos. Produzi mais de uma lauda por semana e as enviei de graça, às sociedades dos Sem-Pátria, dos Cidadãos do Mundo e a todos os outros fodidos da terra. E quando, preocupados com minha sobrevivência, queriam saber o número de minha conta bancária para enviar-me algumas libras ou dólares, eu lhes respondia com esta frase de Whitman: Não sejam idiotas, eu não digo e escrevo estas coisas por um dólar ou para passar o tempo enquanto espero o barco...

Whitman sabia que era uma infâmia negociar palavras e impres- sões, principalmente com bundões que não saíam do sofá há décadas, que precisavam de alguma bobagem risível para passar o tempo e que esperavam pelo juízo nal como quem espera por uma redenção.

Enfim, você que está aí, em pé, no meio das prateleiras, com meu livro na mão e em dúvida se deve roubá-lo ou não... Coragem! Saiba que nunca me senti confortável imaginando meu livro sendo lido por um sujeito que pôde pagar 50 reais por ele. Me entende? Os melhores leitores que tive foram sempre ladrões; gente que sabia como driblar as câmeras,como arrancar páginas, en ar um livro nas cuecas, simular um desmaio esair soberbo das livrarias. Coragem! Lembre-se: só há ladrões no mundo. Pense naquela velha indagação popular: o que é um ladrão? Resposta: um comerciante no escuro. E depois, ler um livro comprado, é ridículo! É mais ou menos como passar a noite com uma mulher de aluguel. Por mais atraente e desejável que seja teve que ser comprada. O que, convenhamos, faz mal para a autoestima e conspurca a parte principal do gozo. 

Tenho consciência que este livro é praticamente um palimpsesto, mas lhes garanto que pode ser lido sem que se sujem as mãos).

E atenção: não é um estudo veterinário e nem um decodicador do DNA dos galos. Sempre que me preparo para escrever um livro, lembro daquilo que dizia Swift: um manuscrito publicado pode ser comparado a uma prostituta. (Bilis-negra Editora, pp 11,12. Brasília, 2021)