terça-feira, 28 de julho de 2020

Os bilionários brasileiros e nós...

"Após longos aplausos, reforçados por um insistente bater de bengalas no assoalho, a dançarina dignou-se a conceder, como bis, uma dança inglesa que recordava a agitação doidejante de certos canibais africanos, quando um missionário bem nutrido lhes vem anunciar a doutrina de Cristo..."
Pitigrilli
(IN: Mamíferos de luxo, p. 43)

Até os indigentes estão incomodados com a noticia lida na Revista FORBES de que os milionários brasileiros, só nestes meses de CORONAVÍRUS, aumentaram suas fortunas, em 34 bilhões de dólares.  De 123,1 bilhões de dólares, saltaram para 157 bilhões.
Que tal?  Qual será o golpe? Ou será que até o vírus estaria a seu favor? Mas não dizem que o vírus é comunista?
E os sindicatos? E as igrejas? E as confrarias de humanistas? Y los hermanos en Cristo? Os exegetas babilônicos e os da astrologia judiciária? E as demagogias do "amor ao próximo?" E os cretinos do liberalismo? E os apóstolos da competência? Os missionários e os velhos filantropos? E os pastores da prosperidade? E os filósofos da ética primitiva e das promessas no além? E as bondosas e caridosas  esposas desses liberais e desses conservadores? E os banqueiros que só pensam no "bem e num porvir grandioso para a humanidade"?
Mas e não pensem que são apenas os indigentes e os invejosos que estão excitados com esta noticia, eu mesmo, "sem nenhum sintoma perceptível de inveja", quando vejo uma noticia destas e reavivo a consciência das hordas de famintos, de miseráveis, de explorados e do exército de lupemproletários que sobrevivem na mais abjeta infâmia, ao nosso entorno, corro para minha estante, especificamente para a prateleira dos utópicos, para reler o Manifesto de Marx e de Engels. Sei que faço isso numa espécie de surto religioso herdado dos meus antepassados, mas sigo em frente porque essa leitura, ao mesmo tempo que me enfurece, me deixa alerta.
Ninguém tem mais dúvidas de que Marx, o judeu/ateu/alemão, Marx, com sua filosofia da miséria, foi um revisor (revisionista!) do cristianismo...
Mas é evidente que esse problema não é só social, é também meio metafísico e genético. Somos uma espécie geneticamente acumuladora, ávara, sovina, cretina e gananciosa. É melancólico ver que mesmo quando o sujeito consegue sair da miséria economia e psicológica, elas (essas misérias) não saem dele! Nosso sentimento de abandono no mundo, desde o nascimento até a tumba, é tão intenso e crônico, que a neurose de acumular, seja dinheiro, comida, alparcatas ou móveis velhos, nos fornece uma chispa de alívio. Lembram da Síndrome de Diógenes? E das estatísticas de obesos mórbidos, no mundo? Todas as manhãs observo os mendigos que recolhem latinhas de cerveja e garrafas de vinho no conteiner que fica ali no estacionamento, e vejo que disputam uma peça, uma latinha amassada, ou uma mísera rolha de champanhe com a maior ferocidade, como se aquilo fosse salvá-los, arrancá-los da indigência e transporta-los para o Éden... não importando se é o de Cristo (lá atrás das nuvens) ou o de Marx (aqui nesta penitenciária de pauperismo...).
Enfim, motivado pela  noticia da Revista Forbes, continuo em minha leitura do apóstolo Marx, agora de sua Tese doutoral: (La diferencia entre la filosofia de la naturaleza de Demócrito y Epicuro).
No último parágrafo do prefácio vejo que está sublinhada a frase com a qual Prometeu acorrentado teria respondido a Hermes, porta-voz dos deuses: "Hás de saber que yo no cambiaria mi mísera suerte por tu servidumbre. Prefiero seguir a la roca encadenado antes de que ser el criado fiel de Zeus..."

Nenhum comentário:

Postar um comentário