Quando é que vão substituir o xarope Monteiro Lobato, por Pitigrilli, nas escolas?
1. Os tratados de boas maneiras do século passado foram compilados na época em que se sentenciava que beijar um homem sem bigodes era o mesmo que comer um ovo sem sal, e Matilde Serão recomendava às mocinhas que não exagerassem em dar mechas de cabelo e que não falassem se não fossem interrogadas. Era um convite subentendido para se calarem, pois falar passava por ato imodesto. Os diálogos permitidos se reduziam a este assunto:
- A senhorita gosta de Florença?
E a cândida criatura, sem erguer do bordado os olhos inocentes confessava com suave rubor:
- Nunca estive em Florença, mas sempre ouvi dizer que é uma cidade interessante.
- E em Veneza, já esteve?
-Nunca estive em Veneza, mas todos me dizem que é uma cidade belíssima. (p.4)
2. E quando chove, chove igualmente, como diz a Sagrada Escritura, sobre o justo e o injusto. (p. 7)
3. Reconhecer um rosto de mulher depois de que se fez esticar, reduzir e remendar a pele é tão difícil quanto individualizar num hipertenso e recozido rosbife o plácido vitelo primitivo. (11)
4. O homem que não se verga, que tem nos lábios o que traz no coração, que não manda outro dizer o que tem para dizer, o homem "de uma só peça", retire-se, como Buda, a fim de meditar na floresta, mas não pretenda circular no meio do género humano. (17)
5. Desde que ainda vivemos no período quaternário, e entre o homem de Neanderthal e o nosso gentleman não se nota uma diferença apreciável, continuamos a sujeitar-nos, além de outras selvajerias, à selvajeria de nos reunirmos para comer, enquanto que para as outras servidões fisiológicas, tal como dormir, já aprendemos a isolar-nos. Por conseguinte, será bom que esse uso bárbaro de comer em comum seja disciplinado e despojado de seu excesso de vulgaridade. (29)
6. A patroa que prepara os "canneloni à Rossini" a cozinheira despedida que cospe na sopa destinada aos patrões formam os dois expoentes extremos da luta de classes. (...) Quanto mais complicado for um prato, tanto maior será o número de dedos que nele mergulharam, de lábios que do mesmo se aproximaram e de gotas de Pflugge que o inundaram. As gotas de Pflugge, esses fantasmas que aparecem a meus olhos agitando-se em danças macabras diante dos pratos complicados, são as bolhinhas de saliva que cada um de nós emite, em quantidade maior ou menor, quando fala. O Dr. Pflugge, eminente bacteriologia, colocou uma gelatina a trinta centímetros da boca de diversas pessoas que conversavam, e poucas horas mais tarde observou na gelatina de cultura uma flora bacteriológica alarmante. Os "canneloni à Rossini" e todos os pratos que atingem o mesmo nível de complicações, de manipulações e de conversas, vem a ser outra tantas gelatinas de Pflugge, após a experiência que o convidado, cobaia inconsciente, ingere. (22)
7. Na suíça preparam um prato delicioso: a "fondue suisse", mistura de queijos de Emmenthal, Gruyère e vinho branco seco, que se coloca no centro da mesa a ferver, sobre uma chama de álcool, e onde todos os comensais metem o pão e o garfo, numa promiscuidade que, na escala dos usos repugnantes não tem outro equivalente senão na prática sul-americana de chupar, sucessivamente, na mesma bomba, a infusão de erva-mate. (23)
8. Um senhor que rói a galinha segurando-a com as mãos é tão vulgar quanto aquele que, após assoar o nariz, examina o conteúdo do lenço. (31)
9. O jantar de núpcias de Madame Bovary, com a duração de 16 horas, foi a origem dos chifres que a bela romântica da província plantou na fronte científica do doutor (32)
10. A propósito de linha, de classe, e dos meios de adquiri-las, podemos repetir a resposta do médico ao cliente que lhe perguntava como é possível evitar o artritismo:
- Basta escolher bons antepassados. (34)
11. Nascemos educados, tornamo-nos cafajestes (43)
12. Tudo deve ser discutido. Sobre isso não há discussão!
13. Escrever a nossa autobiografia é mostrar ao público a nossa roupa de baixo.
14. Sou vingativo como um pele vermelha e tenho o espírito vingativo dos elefantes.
15. Não há nada mais grotesco do que uma mulher nua, de óculos. Este espetáculo extravagante teve grande influência sobre minha vida, como certos sustos experimentados na meninice.
16. Vieram-me às mãos muitas virgens, mas deixei-as sair sem derramamento de sangue.
17. Se fechado numa capa impermeável inglesa, com um macaco de Gibraltar nos braços, pudesse passar longas horas fazendo girar um mapa mundi, viajando em sonhos por mares fabulosos e terras fantásticas, julgaria ter alcançado a felicidade.
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Fontes: 1. Não se come frango com as mãos. (Pitigrilli)
2. Mamíferos de luxo. (Pitigrilli)
Sítio do Picapau Amarelo...chu ru ru ru...
ResponderExcluir13:05 - Hora do...self-service...vixi...
ResponderExcluirAs escolas deveriam adotar os livros de autoria do Bazzo também - seria excelente para a juventude...
ResponderExcluirum dos melhores : Dicionário Antiloroteiro
ResponderExcluirPitigrilli , Bazzo, você precisa conhecer os livros do Pernambucano Liêdo Maranhão, entre eles, memórias de um sacanólogo, O Povo, o Sexo e a Miséria Ou o Homem é Sacana,Conselhos Comidas e Remedios para Levantar as Forcas do Homem entre outros, ele foi o nosso Marques de Sade, visse! Obrigado pelas boas dicas de livros!!
Uma lista de livros para você, Ezio:
ResponderExcluirEnrique González Duro
Biografía del miedo
Los temores en la sociedad contemporánea
Piergiorgio Odifreddi
Diccionario de la estupidez
Ramón Reig
Dioses y diablos mediáticos
Cómo manipula el poder a través de los medios de comunicación
Jean-François Revel
El conocimiento inútil
AA. VV.
El libro de la vagina
Todo lo que necesitas saber y nunca te has atrevido a preguntar
Alan Watts
El libro del tabú
Paul Tabori
Historia de la estupidez humana
Olá Said,
ResponderExcluirObrigado pelas indicações. Da lista só conheço o do Paul Tabori. Tentarei providenciar os outros.
Abraços/Ezio Flavio Bazzo