[...Tu t' acharnes sur la beauté.
Et quelles femmes ont été
Victimes de ta cruauté!
Ève, Eurydice, Cléopâtre;
J'en connais encore trois ou quatre...]
Guillaume Apollinaire
(IN: Bestiario)
O moço aqui da cidade que foi picado pela Naja, já se recupera e a serpente foi levada para o Zoo, onde terá colegas tropicais de todas as cores e de todas as peçonhas... O Butantã está de olho nela para outros truques anti-ofídicos. Teria vindo de onde? Da solidão da Dunas de Merzouga ou da Praça Djemaa el Fna,, de Marrakech?
E lá em São Paulo o corregedor Eduardo Almeida Prado Rocha de Siqueira deu um show de nacionalismo diante do guardinha que queria vê-lo mascarado. Puxou a carteira de identidade, falou francês, insinuou ser bem mais do que é possível ser, acusou o guarda de desconhecer o idioma e rodopiou nos tamancos como sempre fez, longe das câmeras, a tradicional, fajuta e antiga neo-monarquia nacional.
Pelo tal corregedor ser um senhor já ingressado na "faixa de gaza" da Terceira Idade, fiquei curioso para saber o que deveria estar pensando no momento da abordagem, já que os velhos, todo mundo sabe, mesmo os gerontocratas, têm pensamento fixo na morte. Principalmente no meio de um vendaval epidêmico como o de agora. Corregedor! O que é um corregedor? Um corrigedor? O mesmo que um desembargador? Corrige e Desembarga o quê? Onde fica a fronteira entre desembargar e embargar? Como é possível que ainda existam corregedores e desembargadores no mundo?
Que o enfezado senhor foi traído pelos eflúvios da andropausa e da senilidade, ninguém tem dúvidas, mas, como me indagava o mendigo K: como ser mais modesto e equilibrado com um nome do tamanho do dele? Como viver com os pés cravados na realidade, chamando-se Eduardo Almeida Prado Rocha de Siqueira? E depois, o mais curioso, é que parecia haver um certo nexo entre o absurdo da serpente e o absurdo do corregedor...
Decreto não é lei! Seu analfabeto! A frase fez o guardinha tremer nas bases, ser inundado pelos instintos mais primitivos e de ter desejo legítimo de torcer-lhe o pescoço, mas entendeu logo que podia até ser analfabeto, mas que em termos de testosterona, levava vantagem. Pensou em dizer: Corregedor um caralho! Coloque essa máscara na cara agora mesmo seu velho fdp!,, se não quiser levar um cruzado! Mas silenciou. Pensou em perder o emprego, na Sagrada Família, no corporativismo e no moralismo que há em favor dos velhos tiranos... E permaneceu em seu terrível e abominável lugar de subalterno. Afinal, quem iria defende-lo, neste aprisco de coronéis?
O Mendigo K, que estava meio eufórico, tanto com a história da víbora como com a do corregedor, encostou-se na parede de uma pastelaria chinesa e me confidenciou: mas não pense que me compadeci do guarda que foi humilhado. Em hipótese nenhuma. Esses merdas, na essência, agem conosco exatamente como o corregedor agiu com ele... Chegam exibindo documentos, cachorros, decretos, armas e seus micro-poderes. Nos ameaçam, nos chutam e até nos ameaçam de morte...
Enfiou a mão num saco de pano branco, de onde retirou o livro: Origem da imoralidade no Brasil, (de Abelardo Romero) para mostrar-me dois ou três parágrafos que havia sublinhado. Havia vento, não tive paciência de ouví-lo e o deixei lá, encostado na parede, bem em baixo da lamparina chinesa que o pasteleiro-mor diz ter trazido de Macao, convicto de que perdemos o bonde da história.
Ézio, meu querido amigo. Pelo jeito você continua mais ou menos o mesmo e o melhor de tudo, vivo. Eu também e idem, embora metamorfose ambulante. por que quem não se muda a cada dia e que passa (que sempre traz algo de novo em conhecimento da realidade, simplesmente morre sem saber que morreu. Apenas confirme via Facebook ou e-mail, como posso de vez em quando escrever para você, pois sempre tenho novidades. Mas aqui, não é foro próprio. Quanto ao rapaz ofidófilo, mais uma vez vejo a omissão dos próximos em perceber que o moço tinha ao menos meio parafuso frouxo.Quanto ao distinto senhor,tipo dignidade ofendida em excesso, idem. Não custa nada colaborar. Nos últimos tempos, tenho tido um pouco de satisfação algo sádica, ao ver que certas pessoas pagaram e pagarão caro, por não me ouvirem. Nisto, o vídeo de Cris NIcolotti "Eu falei que isto ia dar m..." como naquele bolero brega dos anos 50, "faz-me rir". Nunca me senti tão sereno, na minha casa suburbana, mas não emparedado. Como cantou Doris Day, "Que sera, sera".
ResponderExcluiraprisco
ResponderExcluir1.curral destinado ao abrigo de ovelhas; redil.
2.POR METÁFORA...o seio da Igreja (comparando-se os fiéis às ovelhas).