Nesta quarta-feira de sol encontrei o mendigo K, numa das muitas padarias quase clandestinas que existem nesses subsolos brasilienses. Estava com a máscara fora do lugar recomendado pela OMS e pelo Drauslio Varela. Havia pedido um mixto quente (misto estava escrito com x no cardápio) com tomate, cebola e manjericão. Colocou-me a mão no ombro e perguntou: sabia que o Stroessner, o ditador paraguayo, esteve refugiado aqui em Brasília, que morreu por aqui, que foi enterrado no Campo da Esperança e que, alguns anos depois, sua ossada foi levada para a cidade de Encarnación, em seu país?
Eu e todos que estávamos na fila ficamos surpresos e ele, olhando no rosto de um por um, para medir o grau de nossa estupefação, continuou: veio esconder-se sob a farda dos generais da época. Veio em 1989 e viveu 17 anos ali no Lago Sul. Morreu com 93 anos.
Já perceberam como os tiranos e os ditadores têm vida longa? Seus colegas ditadores do Cone Sul (Operação Condor) também foram longevos: o argentino Jorge R. Videla, 81; o uruguayo Maria Bordaberry, 78; e o Pinochet, 91.
Será que o poder e a tirania, de alguma maneira, agem favoravelmente sobre os mistérios da longevidade?
Fez esta pergunta olhando novamente para a cara de cada um dos presentes, não disse mais nada e saiu assobiando El condor pasa.
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