"O filósofo produz ideias, o poeta poemas, o padre sermões, o professor compêndios, e etc. O delinquente produz delitos. (...) O delinquente não produz apenas delitos: produz também o Direito Penal e com ele, ao mesmo tempo, o professor encarregado de sustentar cursos sobre esta matéria, bem como de engendrar a inevitável brochura através da qual lançará suas lições no mercado como "mercadoria", o que contribui para incrementar a riqueza nacional. Além disso, o delinquente produz todos os tipos de policia e a administração da Justiça Penal: alcaguetes, carcereiros, juízes, torturadores, jurados e etc que, por sua vez, engendrarão vários outros e diferentes setores que representam outras tantas categorias da divisão social do trabalho. Desenvolvem diferentes capacidades do espírito humano, criam novas necessidades e novos meios de satisfazê-las. Somente a tortura, para que se veja, já fomentou os mais sofisticados inventos mecânicos e ocupa, na produção de seus instrumentos, um grande número de honrados artesãos... (...) O delinquente produz uma grande impressão, as vezes moral, as vezes trágica, prestando com isso um "serviço" ao movimento dos sentimentos morais e estéticos do público. Não apenas produz manuais de Direito Penal, Códigos Penais e portanto, legisladores que se ocupam dos Delitos e das Penas (Beccaria), produz também arte, literatura, novelas, e inclusive tragédias, como o demonstram, não apenas A CULPA, de Müller, ou OS BANDIDOS, de Schiller, mas inclusive o EDIPO, de Sófocles e o RICARDO III de Shakespeare.
O delinquente quebra a monotonia e o tédio cotidiano da vida burguesa..."
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Este texto foi escrito por K. Marx entre 1860 e 1862. Foi publicado depois de sua morte, como um apêndice às TEORIAS DAS PLUSVALIAS, sob o titulo: Concepção apologética da produtividade de todas as profissões.
p. 26, do livro ao lado.
"É absurdo dividir as pessoas em boas e más. Elas são apenas encantadoras ou tediosas." Oscar Wilde.
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