Patrick Declerck
IN: Les naufragés, p,102
É quase inacreditável que os chamados cariocas, estejam há meses, para não dizer anos, bebendo servilmente aquela água suja. E, em alguns casos, vivendo sem água alguma, mesmo sob uma enxurrada de cretinos gritando obsessivamente que é necessário lavar-se os dedos, as unhas, os punhos, o polegar, a palma, o rabo e etc, vinte vezes por dia... Na melhor das hipóteses aparecem no portão das casas e ou na varanda dos prédios para fazer alguma piada ou para se lamentar. Olham para o Cristo lá no alto das pedras, de braços "cruzados" desde 1930 e, alguns, que esqueceram de tomar os remédios, até soltam uma lágrima... E a SEDAE (Secretaria de águas e esgotos do Rio de Janeiro), não está nem aí. Para cada reclamação inventa uma desculpa, exibe a camisa de um time de futebol, acende uma vela para São Jorge, conta uma piada, uma infâmia qualquer. E la nave va.
O que é que impede aquela gente de descer os morros com paus e espingardas e ir ter uma reunião extraordinária com o governador e com outros aspones? Inclusive, com a presença dos ex-mandatários daquele cidade, que, por hora, estão quase todos em "retiro espiritual" no Bangú IV e V?
Claro, que essa insalubridade por lá não é novidade. Já os historiadores e os etnografos, anotaram em seus breviários de 1800, a cor e o gosto daquelas águas.
Ah, mas a sala de televisão é de uma beleza inigualável! Pão e circo! Enquanto o futebol ganha, a terapêutica perde!
Mas, mesmo assim, para que o coronavírus não faça os estragos que a gripe espanhola fez por lá, em 1919 (vejam os arquivos), é bom descer o morro. E já! Amanhã cedo! O carnaval já passou! Depois de amanhã já será tarde!
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