quinta-feira, 5 de março de 2020

Do ouro ao cobre... A decadência é incontestável...


"É impossível encontrar um homem absolutamente notável que não seja cabotino. (...) Foi o orgulho que fez o homem firmar-se nas patas traseiras e apoiar-se a um pedaço de árvore, ao descer da árvore. O orgulho transformou-se em vaidade como o pedaço de árvore em bengala. (...) O trabalho honrado não dá fortuna a ninguém; todos somos refinadíssimos malandrins; e se não nos esganamos fisicamente, nos esfaqueamos e nos assassinamos moral e monetariamente a cada instante. O mais bandido, o mais cruel, o mais patife é quem vence. (...) A vida é como uma batota lôbrega. Os grandes banqueiros representam a fome, a miséria e a desgraça de uma porção de criaturas roubadas em honra das transações comerciais. Os reis das indústrias afirmam a escravidão branca e cegam o mundo com o dinheiro amassado no suor de exércitos colossais de desgraçados. Os políticos, nenhum deles vence verdadeiramente senão sendo ingrato, hipócrita, velhaco e falso..."
João do Rio
IN: A alma encantadora das ruas





Agora que grande parte do ouro já foi rapinado, indo parar ou nos porões dos bancos europeus ou nos altares das basílicas, os petit ladrões cariocas estão se especializando e se dedicando a roubar um metal menos nobre, mas que também pode ser negociado por um bom preço nos mercados clandestinos: o cobre
Alguns de nossos avós devem lembrar-se dos tachos desse metal que os ciganos fabricavam a martelaços e com os quais a italianada fazia sua marmelada (que a alemoada dizia Schimia) e também das moedas de 40 Réis que eram gravadas nesse metal que, em algumas regiões, era metonímia de dinheiros
Por enquanto o foco principal desses misteriosos e cínicos ladrões esta voltado para as estatuas espalhadas demagogicamente pelas ruas do Rio de Janeiro.
Recentemente roubaram pedaços do corpo de Noel Rosa; os óculos do Drumond;  os braços e as pernas da "Menina dos balões encantados" em Ipanema; a espada de não sei quem e, o mais cômico dos roubos: a estátua inteira, pesando 400 quilos, da mãe do Marechal Deodoro da Fonseca. Sim, da dona Rosa Paulina da Fonseca!, que estava exposta ali pelos lados da Glória e sobre a qual, durante muito tempo, os ciganos contemplavam a lua e os mendigos preparavam seus cachimbos de crack ou davam suas breves mijadas. Aliás, qual a razão e o sentido do marechal ou de seus subalternos e lacaios terem mandado erigir em cobre uma estátua da mãe, da matriarca Fonseca? Como não lembrar da música do Bussunda: "Mãe é mãe! Vaca é vaca!" E isto, sem falar dos monumentos a dom João VI e o de Malba Tahan, que também já estão mutilados e das peças decorativas que os familiares, por culpa, costumam deixar sobre os túmulos de seus cadáveres. Tudo roubado, tudo derretido e tudo transformado em outras peças que quase ninguém reconhecerá... Esses sim podem ser considerados discípulos legítimos de Derrida! Conheceriam a obra, as estratégia de decomposição e de desconstrução daquele argelino, cujo nome de batismo era Jackie, mas que ao mudar-se para a França foi alterado para Jacques? Quem é que não gostaria de entrevistar um desses larápios?  
E, uma última curiosidade: aqueles que tiveram uma ou duas aulas de química na vida se lembrarão que o símbolo do cobre na Tabela dos Elementos Químicos é Cu. Cu? Sim! Mas isto não altera em nada o projeto de desmanche e de desconstrução dessas estátuas. Ou será que é exatamente por isso a predileção dos gatunos por esse metal? Seriam discípulos da filósofa Márcia Tiburi?
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