quarta-feira, 25 de março de 2020

A república, a linguagem e seus desvarios...

[... O poder desta sociedade não derivará do que os sócios queiram dar, mas daquilo que produzirão os prostíbulos anexos a cada célula...]
R. Arlt

Brasília amanheceu chovendo. 
Por detrás das vidraças da para ver os velhinhos confinados, indo de uma janela a outra boquiabertos e com cara de espanto, não apenas com o recente discurso do Bolsonaro, mas com a aterrissagem triunfal do coronavírus aqui pelos trópicos e fazendo de tudo para não deixar a depressão chegar antes de qualquer outra desgraça. 
Fará um estrago como fez na China e na Itália? 
Será implacável como esta sendo na Espanha e nos EEUU? 
Ou, se atrapalhará no meio do cipoal de nossa porralouquice administrativa, de nossa fé no absurdo e, voluntariamente, cairá fora?
E o Bolsonaro? Existe alguma intenção secreta em seu discurso? Esta querendo ser banido do poder ou, construindo motivos para renunciar?  
Renunciará hoje à tarde ou amanhã cedo? E se renunciar, que alternativa para ocupar seu posto seria menos cabotina e menos trágica?
Acredita verdadeiramente no que vem dizendo, ou é pura e simplesmente falta de manejo com a linguagem? 
O sinal mais evidente de que estamos bem mais atrasados do que poderíamos, é a dificuldade com a linguagem. Prestem atenção. As aulas de português do último século parecem nem ter existido. E como entender-nos se falamos idiomas diferentes? E os assessores do Presidente? Para que serve aquele exército de assessores e de aspones que não o poupam desses repetidos fiascos? Dele, que parece não conseguir livrar-se dos vícios linguísticos do quartel e da tropa, onde, em situações de conflito, é quase protocolo minimizar o poder de fogo do inimigo e apregoar
fanfarronices. 
Desta vez, sua fala, tresloucada, provocou ainda mais fúria e mais indignação em dezenas de confrarias, mesmo daquelas que durante décadas (no meio de roubalheiras e de cretinices corporativistas) não moveram uma palha para construir saneamento básico no país, e muito menos um sistema social que agora pudesse oferecer resistência, não apenas ao vírus, mas a burrice geral.
E até governadores de estados onde ainda se caga na rua, onde os hospitais são antros, onde as escolas são covis, onde as mulheres dos puteiros não têm acesso nem sequer ao benzetacil, onde o analfabetismo é quase absoluto, vieram a público fazer demagogia contra esse discurso contraditório e suicida do Presidente. Que circo!
Que incomodo ter que vivenciar tudo isso!
E nós... que poderíamos ter estradas de ferro e trens luxuosos circulando de um extremo a outro do país (nos moldes da transsiberiana)...


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