[...Você pode visualizar cem gatos. Mais que isso é impossível. Duzentos, quinhentos, tudo parece a mesma coisa]
Jack Wright
(IN: O polegar do violinista, p. 149)
Pendurei meus cinco patuás e escapulários no pescoço, mais um punhado de sal do Himalaia nas cuecas e + o cartão de crédito e fui ao mercado.
A cidade começa a lembrar a solitude de Argel, da China e da Itália.
Apesar da vida ser um inferno, ninguém quer abrir mão dela. Inclusive aqueles trapaceiros e mentirosos 'otimistas' que dizem acreditar numa vida no além, ou em um "outro mundo". E os poucos que circulam se olham atravessado . Os espirros e as fungadas que até ontem eram mais do que normais, agora apontam para a cidade dos pés juntos. Quem tem mais de 70, como é o meu caso, já é olhado como um caso terminal. Mas é tudo baseado naquele sentimento doentio e trágico da vida, de que falava Unamuno.
Só os mendigos e os homeless continuam em estado Zen, deitados por aí, escarrando, assoando o nariz e tirando cera dos ouvidos com a unha imensa do dedo mindinho e olhando fixamente para o nada, ou para as gorduchas neuróticas que saem dos mercados e das farmácias com toneladas de alimentos e se esfregando álcool gel até lá, entre as virilhas. Esses fodidos da rua são geneticamente nômades, exatamente como todas as espécies de vírus, e não estão nem aí. É bem provável que antes de se entregarem às ruas tenham lido a Schopenhauer e a Cioran. Ou então, ouvido um pastor qualquer recitando o Eclesiastes... Se as coisas continuarem piorando, é provável que o CORONA ou um Decreto, os retire do cenário.
Tentei reler a Camus, mas o roubaram de minha estante. Meu cachorro olha pela varanda e late exageradamente como se, intuindo a quarentena do mundo, quisesse convidar a cadela da frente para um flerte. Olho bem em seus olhos e o trago para a realidade: Se trepar nos dias normais já era quase uma impossibilidade, agora, esqueça. Todos os lábios do mundo perderam a umidade e se fecharam! Ele assume a postura da esfinge, fazendo de tudo para não acreditar.
Tentei reler a Camus, mas o roubaram de minha estante. Meu cachorro olha pela varanda e late exageradamente como se, intuindo a quarentena do mundo, quisesse convidar a cadela da frente para um flerte. Olho bem em seus olhos e o trago para a realidade: Se trepar nos dias normais já era quase uma impossibilidade, agora, esqueça. Todos os lábios do mundo perderam a umidade e se fecharam! Ele assume a postura da esfinge, fazendo de tudo para não acreditar.
Kkk ótimo!
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