domingo, 3 de janeiro de 2021

O Mendigo K e seu espírito filantrópico...

"Y  Jehová, el dios barbudo y hosco, dio a sus adoradores el supremo ejemplo de la pereza ideal: tras seis dias de trabajo, descansó toda la eternidad..."
Paul Lafargue
(IN: El derecho a la pereza)




Nesta manhã radiante de sol dominical, quando os vagabundos de todos os pedigrees estão por aí espichados ao sol encontrei o Mendigo K. sentado num meio fio conferindo seu bilhete de loteria, aquele do fim de ano, de 300 milhões. Ainda não foi desta vez! resmungou.

Perguntei-lhe o que faria se tivesse acertado os 7 números. Ele foi falando com um certo prazer:

Alugaria cinco ou seis helicópteros, contrataria meia dúzia de cineastas e de caricaturistas e jogaria todo o dinheiro, em notas de 200, de 100, e de 50, sobre a cidade. Sobre os presídios; os asilos, as igrejas, as universidades, os cemitérios, os cabarés... Os cineastas e os caricaturistas teriam a função de registrar as cenas do populacho, da plebe, da burguesia e dos novos ricos delirantes (de toda essa gente pré-coperniana, que ainda acredita que é o sol que gira ao redor da terra), se atropelando e até se matando pelo vil papel. Seria um longa metragem nunca produzido e visto até então, sobre a miséria e a desgraça humana...

E, como isto aconteceria numa sexta-feira à tarde, só na segunda-feira, depois das 11:00 é que os larápios, ao chegarem nos bancos para depositarem aquela fortuna caida dos céus, se dariam conta que se tratava de notas falsificadas... Só que nesse momento, meu jato já estaria pousando num aeroporto VIP de Pasargada ou de outro paraíso qualquer...

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