"Sem o que nos é proibido, a vida não valeria um chinelo velho..."(Théodore de Banville)
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Com o mesmo patriotismo e cinismo que escreviam na entrada de Auschwitz: o trabalho liberta (arbeit macht frei) agora, os comerciantes alemães estão sugerindo que se engula o estresse. Engolir? Mas como? E o figado? Por quê não cuspir? E, claro, se valendo malandramente da erva sagrada; da maconha, da cannabis, dessa singela erva, transformada quase numa espécie de 'sopro da vocação', que nossos antepassados (os carcamanos) deveriam espargir como adorno sobre os canelones achando que se tratava de manjericão mas que, assim que os comerciantes descobriram seu potencial mercantil, a transformaram num negócio clandestino, esotérico & obscuro.., quase litúrgico e mais rentável que os negócios da China... Lembram do Carlos Castanheda, que a chamou religiosamente de Erva do Diabo? Vai um baseado aí? Pergunta entredentes o garçom, às duas mocinhas que caíram na noite para esperar o Papai Noel... Mitos! Fábulas! Placebos! Auto engano! Como seria possível suportar a vida (essa peroração monótona e rasteira) sem mitos, sem fábulas, sem placebos, sem uma garrafa de cachaça ao lado do travesseiro e sem tentar enganar-se permanentemente? Tudo bem! Enquanto se trata de um simples bilhete de metrô temperado com as sementes do cânhamo, tudo bem... ainda vai, é folclórico! É protestante! É o trovejar de uma nova Era! Lembram da Era de Aquarius? 'Quando a lua estava na sétima casa...' Bah! O que diria dessa bobagem o autor de Zaratustra? Ou aquele outro velho carrancudo de Hamburgo que escreveu: O mundo como vontade e representação? Enfim, esse exotismo germânico pode até estar sendo uma homenagem aos anos hippies da Angela Merkel... Tudo bem, o problema é quando voltarem (seguindo as recomendações de Lutero) a distribuir pedacinhos de merda desidratada, envolta em papeis brilhantes ou em envelopes fluorescentes, paralelamente a uma campanha tipo as do velho Goebbels, convencendo aos adolescentes e a seus pais, de que, se ingerida pela manhã, com os braços levantados na direção da Berliner Dom, ou na direção da tumba de Frederico I, da Prussia, ou até mesmo sobre os escombros no Murro derrubado... em pequenas doses, pode garantir ao sujeito, além de uma 'viagem astral', a prevenção e a cura de todos os males... E, principalmente, para "acalmar-se". Ah!, ficar chapado, babando e quietinho, de joelhos... em adoração... Quase num transe religioso!? Aliás, o protestantismo não seria, como disse Remy de Gourmont, um judaísmo atualizado?
E os "empreendedores e prósperos" adolescentes tardios, de 28, 30 e até 40 anos, que no passado recente, como apóstolos da transgressão, atravessavam o Mediterrâneo para ir a Tanger queimar haxixe; ou iam cambaleantes, penitentes e místicos (como vítimas da história) pelas estradas lamacentas do Nepal para, litúrgica ou satânicamente, injetar-se alguns derivados, agora fazem fila nos guichês do U-Bahn de Berlim, para comprar e ingerir nada menos que um bilhete psicodélico!!! Que, inclusive, também é feito com a mesma farinha do pão azimo e que também se dissolve na língua... como uma hóstia! (Curiosamente, segundo os estudiosos, a palavra hóstia vem do antigo hebraico e significa vítima.) Ora!, mas que voracidade! Não estão satisfeitos com as três doses da Pfizer? E com o reforço da AstraZeneka? E com a reserva da Jansen? E com os milagres advindos de Pequim e do Butantan? E com as paneladas de Sauerkraut?
A decadência, a infantilização e a bovinização são indisfarçáveis! E depois reclamam e dizem não entender a lógica piegas e anacrônica da vida e do cotidiano; o be-a-bá tautológico da manada esclarecida; a hibernação da ciência; o lero-lero do charlatanismo universal; a solidão do aprisco e muito menos as seguidas mutações, a heróica resistência e o papel civilizatório e revolucionário do vírus...
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