"O mar de trevas se dissipou; o cutelo fatal cessou de oscilar sobre o abismo e pousou, mansamente, do lado da vida: eu estava salvo!"
Rossine Camargo Guarnieri
(IN: Memórias de um galo de briga, p. 27)
Confesso que, nestes quase oitenta dias de prisão "voluntária", tenho me divertido imensamente com os noticiários, principalmente com aqueles relacionados às fake news e à luta policial e eclesiástica para contê-las e até para bani-las.
Quando ouço os representantes dessa gerontocracia messiânica, travestida de moral e de ética falando das fake news como os antigos fanáticos falavam de Satanás e de Deus, penso logo nos delírios de Zoroastro com suas idéias de querer separar o BEM do MAL... Uma idiotice! Já que nada é puro MAL e que nada é puro BEM! Já que Um está contido no Outro. Que são indivisíveis. E, pior, que dependendo das circunstâncias, Um se transforma no Outro e vice-versa. O que, faz desse projeto de "acabar com as fake news", uma Odisseia de ignorantes e até uma cilada que pode, se realmente for às raízes das coisas, desmoronar os pilares não apenas das famílias, mas até da civilização. Já que tudo, sobre estas duas áreas, foi arquitetado sobre fake news! Sem falar, evidentemente das coisas mais escatológicas como as amizades, o amor e as relacionadas à metafísica. Me entendem? As próprias biografias desses senhores estão recheadas de falsidades, de mal entendidos e de fake news. Viemos ao longo dos séculos falsificando tudo, inclusive a nós mesmos. (e isto, não é novidade, qualquer filosofozinho de fundo de quintal já sabe). E nossa memória, essa Caixa de Pandora? Esse receptáculo de falsificações? O que são as doenças mentais, por exemplo, senão uma intoxicação crônica de mentiras e de equívocos sobre si mesmo? E sobre os outros? E sobre o mundo? Já que tudo é teatro, que tal voltar a ler o Doente imaginário, de Molière.
Portanto, esses bobalhões que vivem falando em separar o joio do trigo deveriam, pelo menos, tomar umas aulas com o granjeiro da esquina que sabe, melhor do que qualquer outro, que é o joio que da vigor, existência e sentido ao trigo. E que, ao invés de seguir repetindo esse metáfora exdrúxula deveriam, por uma questão de ética inverter os fatores: E necessário separar o trigo do joio! Me entendem?
E enquanto escrevo este texto, no meio de uma pia cheia de louças para serem lavadas, de duas frigideiras com sobras de queijo com cebolas e uma dúzia de copos com restos de Lambrusco, me permito dar uma olhada na direção de minha estante de livros, especialmente para a prateleira de livros insólitos, onde estão os seis ou sete livros SAGRADOS, que vieram regendo a vida dos condenados da terra, durante séculos: Fake News de ponta a ponta! Da primeira à última página de cada um deles, só fake news! Que miséria!
Enquanto isso o coronavírus avança. Espero que o endereço que dispõe de minha casa seja fake...
Esqueci de mencionar a fake do farsante Pilatos que, já lá naquela Ilíada de messiânicos e de ignorantes teria se perguntado: O quê, afinal, é a verdade?
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