domingo, 14 de junho de 2020

Enquanto isso... ali sobre a escultura da Justiça...

O mendigo K que, para proteger-se dos outros mendigos e dos matadores profissionais, costuma dormir aos pés da escultura da Justiça, ali em frente ao STF, ligou-me meio atrapalhado com o tiroteio de fogos que, lá pelas nove da noite, riscavam por sobre sua cabeça e por sobre a cabeça da escultura, para explodir próximo às vidraças do prédio do Supremo. 
Ficou em dúvida se estávamos no Ano Novo, no Natal, no auge das bagatelas e das bobagens de Pentecostes ou se se tratava ainda do dia de Corpus Cristi. Ou seria uma comemoração pela chegada de um novo carregamento de maconha na cidade? Queria saber o significado da palavra "arregar"Me dizia que o bombardeio chegava de vários lados, que havia gritos no meio dos tiros e que a espada, nas mãos da estátua, tremiam. Tomado por um sentimento legalista, reacionário e pacifista, aproveitou para perguntar-me: Mas se é um monumento à Justiça, por que é que tem uma espada e não uma balança, nas mãos? 
As pombas que vivem  por lá, enfiadas num viveiro vertical e improvisado que foi construído ainda pelo lunático Jânio Quadros, despertaram em pânico e se lançavam em revoadas, sem rumo. Foguetões, gritos, maldições, uma voz de mulher repetia aquela frase  sobre os onze vagabundos, composta pelo ministro da educação. Utopias de paraíso e de nirvana, fumaça. Por sobre o mundo, a lua, como uma baixela de ferro-velho e na poeira do meio-fio, o coronavírus, que juntos, assistiam a tudo, enauseados e de saco cheio... Mas, aos poucos,  - me relatava ele -, tudo foi passando... os petardos silenciaram e o cheiro da pólvora foi se dissipando porque sabia que logo logo chegaria outra vez a aurora e que, como dizem os espanhóis: no pasa nada! Que eram apenas fogos de artifício..!
Fez um longo silêncio e concluiu: Bazzo,  assistindo a todo esse tiroteio, penso na frase de São Tomás de Aquino: "matar é pecado, mas algumas guerras são justas!"




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