"Os semideuses e seus adoradores são bolhas no oceano cósmico..."
Bhagavad-Gita, p. 182
Entre todas as desgraças cotidianamente escancaradas pelo vírus, está a revelação de que, longe da tal pós-modernidade, (cantada em versos e em prosa pelos professores) estamos ainda mergulhados na pré-modernidade, numa sociedade cabotina e cheia de transtornos psico-físicos que se sustenta só pela bajulação. SOCIEDADE DA BAJULAÇÃO! Nem mais do Espetáculo, como queria G. Debord, mas do puxa-saquismo e da bajulação. Só a bajulação nos une e progride! E o que existe de mais cretino do que a bajulação? Um idiota frita um ovo e se você não declara, de imediato e publicamente, que aquele é o ovo frito mais estupendo do mundo, você logo é taxado de invejoso e de desumano. Um professor dá a mesma aula que vem dando há quinze anos e se os alunos não o reverenciam de joelhos, correm o risco de serem reprovados. Um petômano solta um petardo no elevador e a sociedade da bajulação exige que você declare que aquele foi o peido mais perfumado e harmônico que se soltou pelas galáxias, em todos os tempos! Caso contrário, o petômano se sentira humilhado, acossado moralmente e recorrerá à Justiça para ser indenizado. Sim, a bajulação se tornou um valor moral. Uma virtude. Um sintoma da miséria reinante. Uma Odisséia de subalternos e de cretinos. Uma idiotice sistêmica. Sinal de boa educação!
E o pior, é que tudo indica que na pós-epidemia, as coisas estarão ainda piores. O cativeiro, todo mundo sabe, aflora, tanto nos ratos como nos sujeitos, todo tipo de misérias latentes. Misérias que na vida ordinária, até poderiam passar desapercebidas.
E talvez, seja exatamente por isso, por saber o que nos espera depois dessa mortandade estupida, que a grande maioria não consegue cumprir com os protocolos do isolamento social e sai por aí, (contrafobicamente) e de cara limpa, fingindo ate uma certa soberba, em busca do vírus... Quê beco sem saída! & quê miséria!
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