quinta-feira, 18 de junho de 2020

Como se engendra um macho doméstico...

"Era mesmo, portas abertas, coração aberto, providência dos vadiaços, auxilio dos madraços. misericórdia dos vagabundos..."
Pedro Nava
IN: Chão de Ferro, p. 39

Depois de quase noventa dias de exílio doméstico, percebo algumas alterações no meu DNA. Limpar o fogão e lustrar as panelas, por exemplo, começa a dar-me um certo prazer. Sei que se trata de um prazer mórbido e decadente, mas não posso negar que é prazer. O aspirador de pó e a vassoura já me cumprimentam cinicamente sempre que me percebem indo de um lado a outro, como um leão enjaulado e com uma máscara recém lavada nas mãos, Mas o pior, é que já estou até assistindo a Fátima Bernardes! Assistindo e achando interessante aquelas sessões de "auto-ajuda" misturadas a propagandas destinadas ao populacho mais simplório e mais carente... Mas existe um horror ainda maior, que é o de perceber que, depois de tantos anos de resistência, 90 dias estão sendo suficientes para transformar-me num macho doméstico! Um macho doméstico para quem, um pacote de BOM BRIL passou a ser mais interessante do que a obra inteira de Heidegger... 
E quando  inesperadamente, me vejo refletido diante de um ou de outro espelho arrastando os chinelos ou só com meias de inverno? Aí é o fim!
 A impressão é a de estar diante de um presidiário que já não tem mais esperança alguma num habeas corpus!
E tudo isso se agrava quando leio os jornais e vejo que a  China volta a ser foco do virus; que nosso país está sendo destroçado e que os tais cientistas - apesar do folclore que se faz sobre eles - ficaram até ontem rodopiando como baratas cegas ao redor da cloroquina e que agora, mais recentemente, por falta de outra coisa, passaram a mistificar a cortisona, a mesma que minha tataravó, lá por 1870, já usava nos porões da caravela que a trouxe para os trópicos...
Enfim, é importante reconhecer: a coisa não está fácil!
E que quem sobreviver, ou sairá do cativeiro aos pedaços ou mais ZEN do que nunca!
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Em tempo: e mandaram a Sara Winter para a penitenciária feminina. Ridículo! Irracional! Um sadismo primitivo disfarçado de justiça.  Ou seria uma forma de desvelamento da velha e camuflada misoginia?

Um comentário:

  1. Pode até ser ridículo, mas você hä de convir que é um alívio fechar a boca daquela matraca, por uns tempos pelo menos, que nosso ouvido não é pinico, ainda mais em quarentena... misericórdia...

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