terça-feira, 30 de junho de 2020

O Mendigo K e a literatura Védica...

Cruzei apressadamente com o Mendigo K, aqui nos arredores da república. Como já lhes disse, ele está aproveitando a pandemia para dar um mergulho na literatura Védica, mais como um profano do que como um devoto mas, mesmo assim, já estava com aquela roupa dos sadhus que se encontra pelas ruas desertas de Benares. Já foi a Benares? Não? Então vá! 
Também usava uma máscara contra o vírus, destas que lembram os lutadores de esgrima. 
Como fiz questão de manter-me a uns dois metros dele, ironizou-me perguntando se eu estava temeroso de ir para o cemitério. Não respondi e ouvi que ele resmungava por detrás de sua máscara: Bazzo, deixe de ser cagão!, 'para os hindus, a morte não existe. Morrer é como trocar de roupa. E depois, Brahmã vive cem anos, e um de seus dias é calculado em 4.300.000.000 de nossos anos terrestres. Sua noite tem a mesma duração. Seu mês consiste em trinta de tais dias e noites, e seu ano, de doze meses. Depois de cem de tais anos, quando Brahmã morre, ocorre a devastação ou aniquilação; isto quer dizer que a energia manifestada pelo Senhor Supremo se retrai n'Ele Mesmo novamente. Então outra vez, quando há necessidade de manifestar o mundo cósmico, isto se faz por Sua vontade: Embora Eu seja um, converter-Me-ei em muitos.
Fez um breve silêncio e concluiu: Este é o aforismo védico.
 Ele se expande nesta energia material, e toda a manifestação cósmica acontece outra vez...'
Fez outro silêncio e, vendo minha cara de espanto, desculpou-se: Bazzo, desconsidere, cheirei além da medida!

segunda-feira, 29 de junho de 2020

A ficção da pós-modernidade...

"Os semideuses e seus adoradores são bolhas no oceano cósmico..."
Bhagavad-Gita, p. 182

Entre todas as desgraças cotidianamente escancaradas pelo vírus, está a revelação de que, longe da tal pós-modernidade,  (cantada em versos e em prosa pelos professores) estamos ainda mergulhados na pré-modernidade, numa sociedade cabotina e cheia de transtornos psico-físicos que se sustenta só pela bajulação. SOCIEDADE DA BAJULAÇÃO! Nem mais do Espetáculo, como queria G. Debord, mas do puxa-saquismo e da bajulação. Só a bajulação nos une e progride! E o que existe de mais cretino do que a bajulação? Um idiota frita um ovo e se você não declara, de imediato e publicamente, que aquele é o ovo frito mais estupendo do mundo, você logo é taxado de invejoso e de desumano. Um professor dá a mesma aula que vem dando há quinze anos e se os alunos não o reverenciam de joelhos, correm o risco de serem reprovados. Um petômano solta um petardo no elevador e a sociedade da bajulação exige que você declare que aquele foi o peido mais perfumado e harmônico que se soltou pelas galáxias, em todos os tempos! Caso contrário, o petômano se sentira  humilhado, acossado moralmente e recorrerá à Justiça para ser indenizado. Sim, a bajulação se tornou um valor moral. Uma virtude. Um sintoma da miséria reinante. Uma Odisséia de subalternos e de cretinos. Uma idiotice sistêmica. Sinal de boa educação!
E o pior, é que tudo indica que na pós-epidemia, as coisas estarão ainda piores. O cativeiro, todo mundo sabe, aflora, tanto nos ratos como nos sujeitos, todo tipo de misérias latentes. Misérias que na vida ordinária, até poderiam passar desapercebidas.
E talvez, seja exatamente por isso, por saber o que nos espera depois dessa mortandade estupida, que a grande maioria não consegue cumprir com os protocolos do isolamento social e sai por aí, (contrafobicamente) e de cara limpa, fingindo ate uma certa soberba, em busca do vírus... Quê beco sem saída! & quê miséria!

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Os condenados da terra... e o juízo final!!?

"Absoluto, significa que 1 + 1 é igual a 1, e que 1 - 1 também é igual a 1..."
(IN: delírios do Baghavad-Gita)

Nesta semana os demiurgos tentaram turbinar o planeta inteiro com cinco ou seis novos exotismos, um mais bizarro do que o outro; com os gafanhotos da Argentina no topo. Seguido pela tempestade de poeira vinda do Saara, depois pelo terremoto do México, pelo Objeto não Identificado no Japão e agora, a menos de meia hora, pelo terremoto na California. Sem falar do coronavírus, que continua comendo pelas beiradas!
E enquanto isso, os 8 bilhões de terráqueos, (Condenados da Terra!, como diria o psiquiatra da Martinica, Frantz Fanon) com seus computadores, com seus celulares, com seus cartões de crédito, suas espingardas, seus chinelos, seus protocolos científicos, seus amuletos/patuás e com seus pós-doutorados, seguem zanzando no interior de suas gaiolas, diante de suas bibliotecas e de seus títulos, meio em pânico, meio em broma, tendo  unicamente como 'defesa' as grades da prisão e o chá de camomila, essa ervazinha vagabunda e sonífera que bebericam na varanda, com os olhos para alem das fronteiras e certos de que estamos à beira do Juízo Final. O que, convenhamos: tanto para a espécie como para os outros animais, seria um suntuoso, estrondoso e vergonhoso fracasso e um fim pra lá de melancólico! 

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Ideologias e espiritualismos de fachada...


Ontem aconteceram novamente manifestações pelo Brasil afora. Umas em defesa do governo passado, outras em defesa do governo atual. A maioria dos cartazes, slogans e dizeres, eram idênticos. Os tipos de manifestantes também. A diferença mais visível que se podia perceber entre eles, é que um bando acusava o outro de "comunismo" enquanto que este, por sua vez, retrucava acusando seu acusador de "fascismo". Que pensariam Lênin e Mussolini? E iam a vinham gritando Palavras de Ordem, vociferando, bufando, levantando os punhos, fazendo rezas e ameaças transcendentais, uns aos outros e com aqueles passinhos curtos de quem esqueceu de tomar luftal, ou de quem está precisando ir à toalete... E, o mais grave é que, tanto numa tropa como na outra, não se identificava nenhum vestígio de libido. Vi até uma senhora, nem lembro de que bando, que se ajoelhou sobre a passarela, onde havia uma espécie de bandeira e, de joelhos, encenou uma prece. A que Deus teria se dirigido? Perguntou-me o Mendigo K. Sabe-se lá! Dizem que são mais de nove mil! De qualquer forma, foi bizarro porque, todos sabemos, o deus dos ladrões que invadem uma casa é sempre o mesmo deus dos donos da casa. E que tudo não passa de um folclore místico. De uma papagaiada comercial de dar pena.
Prestei atenção tanto nos manifestantes que defendiam o governo anterior, como nos que defendiam o governo atual, com a esperança de ver que algum deles estivesse levando um cartaz, uma bandeira, uma foto, alguma coisa pedindo a construção imediata de saneamento básico e das estradas de ferro, no país... mas não havia nada. Só malabarismos cretinos e de cretinices em nome de Deus e dos Partidos! Quem perdeu as "tetas", porque as perdeu.., quem ainda não as conquistou, porque precisa conquistá-las... 
A uma pobre mulher, que tremulava e que chorava quando pronunciava o nome de seu chefe político, o Mendigo K. que - segundo ele - continua mergulhado na literatura védica, colocando-lhe a mão no ombro, consolou-a com esta frase: minha senhora, cale essa boca! Não percebes que "os sentimentos são como serpentes venenosas? Que  querem agir muito à vontade e sem restrições".
A gritaria, os tiros, os alto-falantes e os chavões, ainda dos tempos de Villegagnon, de Getulio, de Plinio Corrêa e de Trotski, continuavam.
Senti muita falta de meu cachorro que, em circunstâncias como estas, sempre que me via bocejando, me sugeria sábios aconselhamentos...



sexta-feira, 19 de junho de 2020

A queda para cima, do Ministro da Educação...

Nesta sexta-feira de junho, dia de sol aberto, muita gente está passando por um surto de inveja com a "queda para o alto" do Ministro da Educação.  
Ser demitido do Ministério da Educação, num momento em que o país beira ao precipício, para ser alojado no Banco Mundial, em Washington, e ainda por cima, para ganhar uns trinta mil dólares por mês, é o summum bonum de qualquer um. E isto, sem falar das passagens em primeira classe, das mamatas de moradia, dos favores dos subalternos, dos horários especiais e, finalmente, do dolce far niente que a nova ocupação promete.
Mas, atenção:  invejar, todos sabemos, é mais ou menos como beber um copo de veneno acreditando que quem morrerá envenenado será o outro.
É uma doença, que veio pelos séculos afora sendo transmitida de pai para filhos e de mães para filhas, mais ou menos de forma inconsciente. 
Uma curiosidade: Na base de quase todas as neuroses e de todos os transtornos mentais está ela, a inveja, conhecida em todos os idiomas: envidia, lhasad, der nerd, envy.....
Sobre o assunto,  o livro do rabino Nilton Bonder é o que há de mais interessante: A cabala da inveja.


quinta-feira, 18 de junho de 2020

Como se engendra um macho doméstico...

"Era mesmo, portas abertas, coração aberto, providência dos vadiaços, auxilio dos madraços. misericórdia dos vagabundos..."
Pedro Nava
IN: Chão de Ferro, p. 39

Depois de quase noventa dias de exílio doméstico, percebo algumas alterações no meu DNA. Limpar o fogão e lustrar as panelas, por exemplo, começa a dar-me um certo prazer. Sei que se trata de um prazer mórbido e decadente, mas não posso negar que é prazer. O aspirador de pó e a vassoura já me cumprimentam cinicamente sempre que me percebem indo de um lado a outro, como um leão enjaulado e com uma máscara recém lavada nas mãos, Mas o pior, é que já estou até assistindo a Fátima Bernardes! Assistindo e achando interessante aquelas sessões de "auto-ajuda" misturadas a propagandas destinadas ao populacho mais simplório e mais carente... Mas existe um horror ainda maior, que é o de perceber que, depois de tantos anos de resistência, 90 dias estão sendo suficientes para transformar-me num macho doméstico! Um macho doméstico para quem, um pacote de BOM BRIL passou a ser mais interessante do que a obra inteira de Heidegger... 
E quando  inesperadamente, me vejo refletido diante de um ou de outro espelho arrastando os chinelos ou só com meias de inverno? Aí é o fim!
 A impressão é a de estar diante de um presidiário que já não tem mais esperança alguma num habeas corpus!
E tudo isso se agrava quando leio os jornais e vejo que a  China volta a ser foco do virus; que nosso país está sendo destroçado e que os tais cientistas - apesar do folclore que se faz sobre eles - ficaram até ontem rodopiando como baratas cegas ao redor da cloroquina e que agora, mais recentemente, por falta de outra coisa, passaram a mistificar a cortisona, a mesma que minha tataravó, lá por 1870, já usava nos porões da caravela que a trouxe para os trópicos...
Enfim, é importante reconhecer: a coisa não está fácil!
E que quem sobreviver, ou sairá do cativeiro aos pedaços ou mais ZEN do que nunca!
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Em tempo: e mandaram a Sara Winter para a penitenciária feminina. Ridículo! Irracional! Um sadismo primitivo disfarçado de justiça.  Ou seria uma forma de desvelamento da velha e camuflada misoginia?

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Enquanto isso...

O Mendigo K e o Bhagavad-Gita...

O dia amanheceu frio e cinza, com o vento balançando as vidraças, vergando as mangueiras e dando à cidade um aspecto de Sibéria. Todas as velhinhas que se arrastam com dificuldades por aí são unanimes em dizer que nunca, desde que a cidade foi fundada, se viu um tempo tenebroso desses no mês de junho. 
Encontrei o Mendigo K, no vão de escadas de uma padaria, enrolado num cobertor vermelho com o logotipo da Air France. Nos pés, duas meias de cores diferentes, o nariz e a ponta dos dedos arroxeados. Parecia estar furioso. Sem sair debaixo do cobertor resmungou. Caralho, Bazzo! Não basta o vírus e agora essa porra de temporal e esse frio fdp.  É evidente que desta vez, as divindades fizeram um plano mais sofisticado para aniquilar para sempre com a espécie...  Quem escapar do vírus morrerá congelado... Fracassaram no Egito, com as 10 pragas e agora não estão querendo passar por outro fiasco. - Explodiu numa gargalhada. Enfiou a mão direita para debaixo do cobertor e, com dificuldade, pegou o livro em frangalhos que, segundo ele, estava lendo já há uns 60 dias. Como não tinha capa, tive dificuldade para identificar de que se tratava. Trêmulo, virou com dificuldade as primeiras páginas para que eu pudesse ver que estava lendo nada mais nada menos de que o Bhagavad-Gita. Fiquei impressionado. O Bhagavad Gita? Sim, o Bhagavad-Gita, Como ele é, respondeu com uma certa vaidade e já com um ar fanático e de devoto. Para, em seguida, meio descontrolado, ir recitando pequenos trechos dos diálogos entre Krisna e Arjuna, contidos no livro. 
Fui me retirando no meio de uma lufada de vento, novamente decepcionado com o destino trágico e beato dos condenados da terra, mas ruminando a última citação feita por ele: "O Bhagavad-Gita, Bazzo, ensina que temos que purificar esta consciência materialmente contaminada..."

terça-feira, 16 de junho de 2020

Enquanto isso...

O que pensaria Ravachol de nossos "extremistas"?

"Um céu tenebroso sob o qual não se projeta a candura de uma mentira..."
Vargas Vila
Diário, p. 29)
Depois do espetáculo circense do foguetório sobre o STF, agora assistimos ao foguetório, estatal, também circense, da caça e da prisão dos "extremistas" que promoveram aquele show e que "ameaçam gravemente" à democracia, à SUPREMA CORTE (observem como o slogan é Suprema Corte, ao invés de Corte Suprema!), à CARTA MAGNA e, por vicio de linguagem, à REPÚBLICA... 
Convenhamos: se essas instituições se sentem tão ameaçadas por fogos de artifício, lançados às dez da noite de um sábado enluarado, por um bando já fichado e monitorado, realmente é bom pensar em extingui-las, como querem os foguetistas, não é verdade? 
E enjaularam a tal Sara Winter. 
O judiciário inteiro, com OAB, serviços de inteligência, Procuradores, ABIN, repórteres infiltrados, donas de casa fofoqueiras, mendigos, e cães farejadores, saíram ao encalço de nossos perigosos "terroristas".
Inacreditável! 
A Sara, foi a primeira. Bem que ela poderia ter ficado lá entre as meninas da Ucrânia! Dando aqueles shows de nudez no meio de milionários e poderosos... Não é verdade?
Seu nome me remete, além da Sara bíblica dos judeus, à Santa Sara Kali, a rainha dos ciganos. Na direção de quem, uma vez por ano, os ciganos de Paris saem a pé, em peregrinação, até a Catedral de Notre Dame de Chartres, 80 Km, para pedir-lhe algum tipo de favor e de apoio em suas traquinagens. (cada etnia com as suas idiotices!)
Confesso que esse espetáculo estatal grotesco e fantasioso, em si, já havia me causado uma espécie de vergonha, mas que quando, mais tarde, assisti às declarações dos ex-presidentes da república, sobre o assunto, me enchi de uma melancolia quase irremediável. Imaginem: o Sarney, depois o Collor, depois o Fernando Henrique, depois o Lula, depois a Dilma, todos aparecendo em seus esconderijos e, numa verdadeira declaração de fé, espargindo e borrifando água benta e incenso sobre a SUPREMA CORTE, como se se tratasse de um santuário, (e inclusive o Lula, que em um passado recente, acusou seus integrantes, - os que agora o Weintraub acusa de vagabundos -, de serem um bando do covardes). 
Inacreditável!
Um surrealismo nunca visto. 
E, enquanto isto, ninguém fala em construir as tão desejadas estradas de ferro e os tão desejados esgotos... E o vírus, claro, vai nos mostrando, dia-após-dia, as maravilhas de nosso Sistema de saúde e a dignidade de seus gestores...


domingo, 14 de junho de 2020

Enquanto isso... ali sobre a escultura da Justiça...

O mendigo K que, para proteger-se dos outros mendigos e dos matadores profissionais, costuma dormir aos pés da escultura da Justiça, ali em frente ao STF, ligou-me meio atrapalhado com o tiroteio de fogos que, lá pelas nove da noite, riscavam por sobre sua cabeça e por sobre a cabeça da escultura, para explodir próximo às vidraças do prédio do Supremo. 
Ficou em dúvida se estávamos no Ano Novo, no Natal, no auge das bagatelas e das bobagens de Pentecostes ou se se tratava ainda do dia de Corpus Cristi. Ou seria uma comemoração pela chegada de um novo carregamento de maconha na cidade? Queria saber o significado da palavra "arregar"Me dizia que o bombardeio chegava de vários lados, que havia gritos no meio dos tiros e que a espada, nas mãos da estátua, tremiam. Tomado por um sentimento legalista, reacionário e pacifista, aproveitou para perguntar-me: Mas se é um monumento à Justiça, por que é que tem uma espada e não uma balança, nas mãos? 
As pombas que vivem  por lá, enfiadas num viveiro vertical e improvisado que foi construído ainda pelo lunático Jânio Quadros, despertaram em pânico e se lançavam em revoadas, sem rumo. Foguetões, gritos, maldições, uma voz de mulher repetia aquela frase  sobre os onze vagabundos, composta pelo ministro da educação. Utopias de paraíso e de nirvana, fumaça. Por sobre o mundo, a lua, como uma baixela de ferro-velho e na poeira do meio-fio, o coronavírus, que juntos, assistiam a tudo, enauseados e de saco cheio... Mas, aos poucos,  - me relatava ele -, tudo foi passando... os petardos silenciaram e o cheiro da pólvora foi se dissipando porque sabia que logo logo chegaria outra vez a aurora e que, como dizem os espanhóis: no pasa nada! Que eram apenas fogos de artifício..!
Fez um longo silêncio e concluiu: Bazzo,  assistindo a todo esse tiroteio, penso na frase de São Tomás de Aquino: "matar é pecado, mas algumas guerras são justas!"




sexta-feira, 12 de junho de 2020

Vislumbres da Índia...


"Cada aldeia é uma cova de miséria e de desdita"
O.P (p. 171)

Quem precisar, de alguma maneira, amenizar o horror da prisão voluntária, deve ler este livro do Mexicano Octavio Paz: Vislumbres da Índia. Uma maravilha!



quarta-feira, 10 de junho de 2020

A vez de Cristóvão Colombo......




"Um povo verdadeiramente livre não é aquele que dorme sobre seu escudo, senão aquele que se apoia nele depois de ter esmagado com seu peso o último de seus opressores..."
Vargas Vila

Agora foi a vez de Cristovão Colombo, lá nos EEUU. 
Os negros, com razão, estão em cólera. Derrubaram a estátua do velho Colombo, tocaram fogo nela e a jogaram num lago de Richmond. Já fizeram o mesmo, na semana passada, todo mundo se lembra, com a de Edward Colston, na Inglaterra e, em Antuerpe, na Belgica, numa tentativa de reparar a história, cagaram sobre a do Rei Leopoldo II., todos considerados canalhas e exploradores de outras etnias, principalmente de negros. 
Por outro lado, não faz muito, aqui em Brasília, alguém causou indignação ao barbarizar várias estátuas de orixás ali nas margens do lago. As estátuas daquelas divindades ainda devem estar lá, sem suas cabeças... E assim, de  decapitações em decapitações e de mutilações em mutilações... se vão os dias... 
A respeito desses monumentos, seja em homenagem a heróis, a bandidos, a santos, a cortesãs, a poetas, ou a qualquer outra entidade, gosto de voltar a reler as obras do velho Vargas Vila: "Vendo as estátuas equestres de certos heróis de nossa América, me pergunto: quê se quis imortalizar ali, o herói ou o cavalo? Qual dos dois vale mais? Onde acaba o homem e onde começa a besta, nestes monumentos? De tão semelhantes que estes dois gêmeos foram em suas entranhas, nem mesmo a selva que os pariu, saberia responder..."





terça-feira, 9 de junho de 2020

A necessidade de demolir tudo, inclusive as ruínas...

"Todo homem independente, sincero e valoroso tem contra ele a liga dos servis, dos impostores e dos covardes, que são a maioria".
Vargas Vila

A terça-feira amanheceu radiante em Brasília. O sol, como em todas as manhãs de junho, começa manhoso e meio amarelado, mas depois, sutilmente, vai ficando incendiário como uma labareda.
O confinamento está beirando à loucura! Se o vírus prolongar suas incursões por aqui, não demorará muito para que cada casa ou apartamento se torne um pequeno hospício. E isso, sem falar dos noticiários. Há uma semana não se fala em outra coisa senão nos dados estatísticos da tal COVID 19, que o Ministério da Saúde divulga ou que não divulga. E cada dia aparecem mais e mais especialistas, estatísticos, virulogistas, pesquisadores catatônicos, demagogos, poliqueiros, canalhas, oportunistas, cabotinos e etc, tanto do país como do exterior, (mesmo daqueles países onde o vírus fez os maiores estragos) para cagar regras, dar opiniões e tentar demonstrar que uma série de logaritmos pode salvar o mundo. Inacreditável! Há uma semana não se fala em outra coisa. Os petimetres da TV falam do assunto como se estivessem tendo uma ereção. E entrevistam todo tipo de impostores! Sujeitos que passaram os últimos 30 anos hibernando... E que agora, próximos ao juízo final, querem cantar de galo. Ridículo! E não aparece um macho para colocar fim a essa merda! E a questão no ministério da saúde, que poderia ser resolvida em meia hora, por dois estagiários?! Estão fazendo o quê lá?
E a sociedade inteira, de quatro, queimando incenso a seus CINCO PODERES, não mede esforços e nem energias para tentar manter essa imobilidade intelectual e essa pasmaceira do jeito que está. Tem fascínio pela mesmice e pela paz dos pântanos... Pensar em mudar alguma coisa (mudar, não travestir), mesmo tendo consciência que nossa história vem sendo um fiasco, gera pânico nessa sociedade subalterna, carola, medíocre e vaselina, mesmo quando tudo o que se ouve e se vê diariamente ao nosso redor, nos sugere que é necessário demolir tudo, inclusive as ruínas...

sábado, 6 de junho de 2020

Banksy, Floyd... e Williamson...





O racismo como síntoma...



[...Não basta conhecer uma paixão pela sua causa para suprimi-la, é preciso vivê-la, opor-lhe outras paixões, combate-la com tenacidade e enfim, trabalhar-se..."
J.P.Sartre

Entre todas as misérias da condição humana, o racismo é a mais explícita, cretina e abominável. A mais estúpida e a que mais depõe contra a existência de todos. Um sintoma da degradação. E, por ser quase uma doença congênita, é ingenuidade e infantilidade querer tratá-la, apenas como um problema social e seguir alimentando singelas esperanças.
Uma patologia que não se manifestou e que não se manifesta apenas contra os negros. Pense naquilo que aconteceu com os armênios, com os judeus, com os ciganos, com os albinos, com os curdos, com os nativos da América inteira e com os intouchables da Índia. O racismo contra os negros fica mais evidente porque envolve a cor. Não só da pele, mas do dinheiro.
Uma espécie multicor, desorientada, náufraga e perdida vem há séculos buscando um bode expiatório para justificar sua condição degradante, onde cada idiota, necessita exercer algum tipo de Poder, mesmo que seja de Micro-Poder sobre o outro para, de alguma forma, iludir-se de "poder respirar".  Como escrevia Sartre: Elegendo e tratando alguém como inferior, estou, histericamente, me iludindo de pertencer a uma casta, a uma elite, a um grupo superior.
Já está mais do que evidente que ouve um erro na matriz de nossa espécie.  Na construção da espécie. Um erro que nem os Criacionistas e nem os Darwinistas conseguem explicar. Se não fosse isso, a história não seria esse rosário de aberrações, de crimes e de assassinatos que conhecemos!  Aliás, a simples existência da polícia o prova.
A cor da pele, o formato dos olhos, a cor do cabelo, a conta bancária, o idioma, as crenças, as origens, são apenas pretextos, detalhes encobridores desse defeito e dessa ignomínia. 



sexta-feira, 5 de junho de 2020

Pilatos e as fake news...

"O mar de trevas se dissipou; o cutelo fatal cessou de oscilar sobre o abismo e pousou, mansamente, do lado da vida: eu estava salvo!"
Rossine Camargo Guarnieri
(IN: Memórias de um galo de briga, p. 27)


Confesso que, nestes quase oitenta dias de prisão "voluntária", tenho me divertido imensamente com os noticiários, principalmente com aqueles relacionados às fake news e à luta policial e eclesiástica  para contê-las e até para bani-las. 
Quando ouço os representantes dessa gerontocracia messiânica, travestida de moral e de ética falando das fake news como os antigos fanáticos falavam de Satanás e de Deus, penso logo nos delírios de Zoroastro com suas idéias de querer separar o BEM do MAL... Uma idiotice! Já que nada é puro MAL e que nada é puro BEM! Já que Um está contido no Outro. Que são indivisíveis. E, pior, que dependendo das circunstâncias, Um se transforma no Outro e vice-versa. O que, faz desse projeto de "acabar com as fake news", uma  Odisseia de ignorantes e até uma cilada que pode, se realmente for às raízes das coisas,  desmoronar os pilares não apenas das famílias, mas até da civilização. Já que tudo, sobre estas duas áreas, foi arquitetado sobre fake news! Sem falar, evidentemente das coisas mais escatológicas como as amizades, o amor e as relacionadas à metafísica. Me entendem? As próprias biografias desses senhores estão recheadas de falsidades, de mal entendidos e de fake news. Viemos ao longo dos séculos falsificando tudo, inclusive a nós mesmos. (e isto, não é novidade, qualquer filosofozinho de fundo de quintal já sabe). E nossa memória, essa Caixa de Pandora? Esse receptáculo de falsificações? O que são as doenças mentais, por exemplo, senão uma intoxicação crônica de mentiras e de equívocos sobre si mesmo? E sobre os outros? E sobre o mundo? Já que tudo é teatro, que tal voltar a ler o Doente imaginário, de Molière.
Portanto, esses bobalhões que vivem falando em separar o joio do trigo deveriam, pelo menos, tomar umas aulas com o granjeiro da esquina que sabe, melhor do que qualquer outro, que é o joio que da vigor, existência e sentido ao trigo. E que, ao invés de seguir repetindo esse metáfora exdrúxula deveriam, por uma questão de ética inverter os fatores: E necessário separar o trigo do joio! Me entendem?
E enquanto escrevo este texto, no meio de uma pia cheia de louças para serem lavadas, de duas frigideiras com sobras de queijo com cebolas e uma dúzia de copos com restos de Lambrusco, me permito dar uma olhada na direção de minha estante de livros, especialmente para a prateleira de livros insólitos, onde estão os seis ou sete livros SAGRADOS, que vieram regendo a vida dos condenados da terra, durante séculos: Fake News de ponta a ponta! Da primeira à última página de cada um deles, só fake news! Que miséria!
Enquanto isso o coronavírus avança. Espero que o endereço que dispõe de minha casa seja  fake...
Esqueci de mencionar  a fake do farsante Pilatos que, já lá naquela Ilíada de messiânicos e de ignorantes teria se perguntado: O quê, afinal, é a verdade?

quinta-feira, 4 de junho de 2020

E lá na Amérika...

DE ESGOTOS, DE CLOACAS E DE LATRINAS...



"O objeto que melhor representa a civilização não é o livro, nem o telefone, nem a internet e nem a bomba atômica: é a privada"
Vargas Llosa

E o país não consegue sair do Oba! Oba! Dos fuxicos, das intrigas e da neurose.
Fica patinando em discussões intermináveis entre burocratas, ministros, aspones, feudos, banqueiros, políticos, generais, pastores, policias, filósofos, poetas, ex-sindicalistas, partidos fictícios, ex-mandatários, carcereiros, ladrões...
E nenhuma palavra sobre a falta de esgotos e sobre o saneamento básico. Nada!
Tudo ao nosso redor boiando em chorume e merda e o governo só gastando tempo em audiências moralistas e inúteis, em depoimentos patéticos, acusações, delírios, brigas infantis e com inimigos imaginários.
Nada diferente do que assistimos nas últimas décadas. Um horror!
Uma incapacidade de fazer algo e um subdesenvolvimento mental de dar pena.
E os sindicatos? E os Stalinistas? E os Gramcianos? e os Mussolinistas? E os vaselinas de todas as laias? Onde estão? Ah!, apenas chavões masturbatórios, flâmulas patéticas de sujeitos travados na retórica e no subdesenvolvimento.
Nenhuma greve geral e irrestrita,!
Nenhum Estado de sitio,!
Nenhum grito e nenhuma rebeldia nos moldes das que vem acontecendo pelo mundo a fora, para exigir, pelo menos, a construção de esgotos!  Se lá, exigem liberdade; aqui, pelo menos, se poderia gritar pela construção de privadas, de saneamento básico... O recolhimento dos dejetos!
Claro que seria vergonhoso, mas também inédito, ver milhões de pessoas pelas ruas gritando e reivindicando:!

NÃO SOMOS COPRÓFAGOS! QUEREMOS SANEAMENTO BÁSICO!

ESTAMOS CANSADOS DE PISAR NA PRÓPRIA MERDA! 

QUEREMOS DE VOLTA AS AGUAS QUE BEBIAM NOSSOS TATARAVÓS!

CHEGA DE CLOACAS NA PORTA E NOS FUNDOS DE NOSSAS CASAS!

ESGOTOS E LATRINAS SÃO TÃO IMPORTANTES COMO UTIS E RESPIRADORES... 

ESTAMOS INTOXICADOS POR MATÉRIA FECAL!

É RIDÍCULO FALAR EM CIVILIDADE QUANDO 80% DA POPULAÇÃO AINDA CAGA EM PÉ OU NO FUNDO DOS GALINHEIROS...

APESAR DOS EDITORES, DOS DOUTORES E DOS PROFESSORES, SANEAMENTO BASICO É MAIS IMPORTANTE DO QUE LIVROS, DO QUE AMBULATÓRIOS E DO QUE ESCOLAS!

ONDE FORAM PARAR OS TRILHÕES DESTINADOS À CONSTRUÇÃO DOS ESGOTOS?

O que impede os sindicatos, os partidos, as donas de casa e até os mendigos de sairem às ruas com estes slogans? De onde nos veio essa covardia e essa subserviência?





segunda-feira, 1 de junho de 2020

Eis aí o tal LIVRE ARBÍTRIO! Escolher entre uma aberração ou outra...


[...Costuma-se dizer que esta ou aquela pessoa ainda não se encontrou. Mas o EU não é algo que se encontra, é algo que se cria...]
Thomaz Szasz

Este final de semana foi pródigo em aberrações. Aqui em Brasília um grupo de energúmenos encenou com tochas e máscaras uma pantomima Ku Klux Klanesca contra as "divindades" do Supremo. E lá em São Paulo, os energúmenos das Torcidas Organizadas encenaram outra pantomima, só que agora, acreditem, em defesa da Democracia.
A Ku Klux Klan, todo mundo sabe, é um grupo de cristãos aloprados que florescem, principalmente, nos EEUU, desde o século passado e que acreditam que têm supremacia sobre outros povos, outras religiões, outros grupos culturais e etc. E que cometem assassinatos e aberrações em nome dessas crenças.
Já os "democratas" das Torcidas Organizadas, são os mesmos idiotas que costumam matar-se entre si a canivetadas, a pauladas e a garrafadas na saída dos estádios ou nas estações de metrô.
Que tal? Você aí, que acredita no Livre Arbítrio, opta por qual dos bandos?
Qual dos dois lados nos salvará dessa miséria infinita?
Um horror! Uma vergonha das mais dolorosas e, o pior: "sem nenhuma luz no meio do túnel". 
E aqueles cretinos "libertadores" que durante os últimos anos vieram (por pura ignorância) gestando esta fábrica de loucuras e preparando o terreno para que estas aberrações voltassem, curiosamente, estão desaparecidos, quietinhos, escondidos e ruminando suas misérias e seus fracassos em algum rincón anônimo desse hospício chamado pátria...  (e só esperando que as chaves dos cofres voltem para suas mãos!!!)