Fernando Pessoa e a COCA COLA... Ou: o poeta, além de um fingidor seria também um trambiqueiro?

 

Dois ou três sujeitos, aqui da cidade, que sempre que podem, queimam incenso e espargem água benta a Fernando Pessoa, estão à beira da decepção ao descobrirem que o incomparável poeta português, antes de ser o que foi, fazia tudo o que era bico através de suas habilidades esotéricas e publicitárias e que foi ele quem bolou a primeira propaganda da Coca Cola naquele país acostumado às sardinhas e ao vinho. E, pior: com este slogan esdrúxulo:

PRIMEIRO ESTRANHA-SE, DEPOIS ENTRANHA-SE...

Sim, sim, eu sei, não há mal nenhum nisso!

 Que o maior poeta lusitano tenha se prestado a esse papel cretino, qual é o problema? Em quê isso compromete a sua grandiosa obra? Sabe-se até de poetas, prosadores, pensadores e até filósofos que, além de seus afazeres com as letras, faziam coisas ainda piores e à margem das inspirações divinas... Vejam o Pablo Neruda, o Octavio Paz, o Vinícios de Morais, o Guimarães Rosa e tantos outros, que chegaram a ser até diplomatas... E não tem nada a ver seu slogan para a Coca Cola com aquela sua tese de que o poeta é sempre um fingidor! Ou tem? Portanto, Viva Fernando Pessoa e Viva a Coca Cola...

Não não!!! Seguem resmungando e decepcionados...

Você imaginar um Proust escrevendo bulas para uma fábrica de biscoitos ou um Pasolini rabiscando epígrafes nos manuais das proxenetas e nas paredes dos michês.., até vai... agora, Fernando Pessoa tentando embasbacar os lisboetas daqueles tempos salazarianos e justo com a Coca Cola dos gringos... isso é demais...

Talvez não tenha sido por acaso - resmunga um deles - aquela sua tradução das três linha de Wordsworth (que não bate com a tradução do Google): "A primroses by the River's brim / A yellow Primrose das to him / And it das nothing more..." Uma flor à margem do rio para ele era uma flor amarela, e não era mais nada".