(...) ... Todas as sextas-feiras um grupo de crentes e de alcoólicos anônimos subia a avenida principal agitando bandeiras e gritando que era tempo de começar a construir o Quinto Império de Cristo na terra, e de voltar a queimar incenso ao bezerro de ouro... Era gente que havia sobrado do Integralismo. Uns até, de vez em quando, entre um Pai Nosso e outro, deixavam escapar o grito de guerra instituído por Plinio Salgado: Anauê!
Nós, que ao invés de vento pretendíamos semear a tempestade, olhávamos para aquilo com desdém, mais apavorados ainda, e nos perguntávamos: Que porra seria aquela? Incluir-se e fazer parte de qual loucura? E em qual santuário depositar nossas misérias? Onde aprender a arte de fazer bric-a-brac com nossas emoções? De alto a baixo uma legião de extorquidores e todos adictos ao mesmo catecismo. Vendedores de princípios morais! Cleptocracia de ponta à ponta! Contrabando de misérias! O que se chamava religião foi passando aos poucos, como disfarce, a chamar-se moral. Moral da submissão! A grande feira dos lamentos! Do verbo à submissão! A arte de acostumar-se ao peso do fardo! Truques, metamorfose, camaleonismo. Extorquir. A arte de praticar a extorsão, mas sem matar a vítima, para que ela siga sendo fiel e útil à sua escravidão… Fome? Calma que há pasto para todos. Em último caso, há anfetaminas e barbitúricos, e em quantidades que não interferem na labuta diária. Se pode usá-los e seguir trabalhando. É a ciência da modernidade. Quem não leu 1984, de Orwel? E de vez em quando aparecia um fdp ilustrado para nos atacar e falar em Ad hominem. Que porra é essa? Nos arrabaldes a classe fodida que vivia do trabalho e que não tinha outro anseio além de um emprego vitalício. E sempre que podia, se orgulhava de ter um trabalho, de encarar com honradez o sacrifício, de ter um lar e de ser o esteio da família... E, pior: seguindo as profecias de seus patrões, apostavam grande parte de suas vida na ilusão do amanhã e no porvir.
Grafitis. Os vestígios da pré-história nos cortiços, nas mãos e nos olhos daquela gente que estava acostumada a ouvir incentivos para aumentar as horas trabalhadas e a produção. A CLT sacralizada e violada. Tempo integral de joelhos! A produção e a produtividade, não apenas para os patrões, mas também para os operários, como um ópio! A Qualificação, que tinha a conotação de ser um prêmio ao técnico, mas que na essência, desqualificava a pessoa! E a Divisão de Trabalho, que engendrava uma classe dentro da classe e que escindia o trabalhador e prenunciava a esquizofrenia! As mãos, os ossos, a mente, o exílio interior! Lazer? Quê lazer? Era conceito corrente entre os patrões de que lazer não era coisa de operário. Como se podia ler lá nas tragédias Shakesperianas: “Vive o rico a pecar e eu a comer raízes!” O Werner, sempre que via o zum zum zum e a alta rotatividade nos arredores das fábricas e dos sindicatos, trapaceiros aliciando desempregados e aqueles bandos que acreditavam piedosamente no papo dos patrões, não se cansava de repetir a frase de Shaw: “O cachorro volta ao seu vômito, e a porca, depois de lavada, ao seu lamaçal”. (pp - 51, 52)
Estou com medo de você, Ezio Flávio Bazzo!
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=q0Upi_pUd_Y
ResponderExcluirEstá com medo de meu livro? "Um livro te assusta e te faz sofrer? Leia-o, esse livro te salvará". (Vargas Vila)
ResponderExcluirhttps://www.bol.uol.com.br/noticias/2023/02/09/alunos-denunciam-professor-por-injuria-religiosa-jesus-era-um-vagabundo.htm
ResponderExcluirhttps://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2023/03/5081104-mais-de-356-mil-idosos-do-df-tem-o-trabalho-autonomo-como-ocupacao-principal.html
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