terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Morre de frio o fotógrafo René Robert - Nem em Paris a vida é tão cor de rosa como cacarejava Edith Piaf...


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Aqueles que têm uma câmera fotográfica em casa, ou que já frequentaram algum tablado de flamenco no Barrio Chino de Barcelona, com certeza já devem ter ouvido falar do fotógrafo suíço René Robert que, até a semana passada, vivia em Paris. Famoso por ter produzido as melhores fotos PB das dançarinas e dançarinos de flamenco nos confins espanhóis, Sevilha e etc. Também autor do livro Rabia y Gracia.

Com 84 anos, vagabundeando à noite, pelas ruas de Paris, - povoadas  por michês, cabarés e por milhares de fantasmas dos guilhotinados de Picpus - nestes dias de inverno, deve ter pisado 'num astro distraído'; numa nuvem ou num paralelepípedo que não estava mais no lugar ou ter tido uma síncope e despencou no meio das trevas. Ficou caído até o dia amanhecer e, naturalmente, 'acordou morto'. Hipotermia. Quem conhece minimamente Paris, ali pelos lados da Praça da República e do Marais, sabe que nesse horário, o trottoir é imenso e variado rumo ao bairro judeu, para comer o melhor Falafel com beringela da cidade e que sob as marquises, clochards do mundo inteiro, como lobos famintos, uns deitados, outros de joelhos e outros em posição de ataque, espreitam, por alguma sobra. Mas ninguém viu nada! Um a mais caído naquela hora, quem daria importância? Quem é que adivinharia que se tratava do grande René Robert e não de + um pobre fodido, chegado dois dias antes de Tanger, da Síria ou do Afeganistão?  Quem é que, sem ver a câmera fotográfica, iria adivinhar que aquele velho era o René Robert, o cara fascinado por bailados e por castanholas... que, por ironia, por causa de um paralelepípedo ausente, ele próprio havia dançado? Estendido na calçada e sentindo as artérias se petrificando deveria resmungar: será que não aparece nenhum filho da puta para me ajudar? Cadê o pessoal do Maio de 68? A trupe do Sartre? Cadê o pessoal da Liberté, Fraternité e Igualité? E o Corcunda de Notre Dame? Para onde foram os apóstolos da Comuna de Paris? E o ilusionista Allan Kardec? De que serviu sacralizar o marginal Rimbaud e derrubar os paredões da Bastille? Morreu desesperado, blasfemando e resmungando como todos os moribundos...

Atenção! - digo para mim mesmo - como somos uma legião de porra-loucas indiferentes, e o humanismo é uma ficção, não esqueça: depois dos 80 se entra desarmado, de peito aberto e de forma compulsória na faixa de Gaza! Esse terreno minado onde o conflito com a força da gravidade se agrava e onde a falta de um paralelepípedo qualquer, ou  até o farfalhar de asas de um pássaro noturno, podem decretar o nosso derradeiro encontro com o juízo final. O último click.

Da janela de uma casa de queijos ainda do tempo de Marat, com todas as cortinas vermelhas puxadas, se ouvia distante, fugidia e fugazmente Edith Piaf tagarelando La vie en rose. Sim, a mesma Edith, filha de um acrobata de rua e de uma gerente de bordel que chegou a cantar até para as tropas, nos tempos da ocupação de Paris. 


 



2 comentários:

  1. kkkk se fudeu o véio, não querem nada com nada só andar pra baixo e pra cima tirando foto, é por isso que eu digo, todo artista e escritor tem é que se fuder mesmo, não servem pra nata.Eu vou bem muito obrigado ganhando bem sem me matar de trabalhar ih,ih,ih, foda-se ele morreu ele morreu kkkk A VIDA É ÓTIMA

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    1. Fale mais! Diga tudo o que te vem à mente, e sem se preocupar com a ordem das palavras e do discurso...

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