Com 84 anos, vagabundeando à noite, pelas ruas de Paris, - povoadas por michês, cabarés e por milhares de fantasmas dos guilhotinados de Picpus - nestes dias de inverno, deve ter pisado 'num astro distraído'; numa nuvem ou num paralelepípedo que não estava mais no lugar ou ter tido uma síncope e despencou no meio das trevas. Ficou caído até o dia amanhecer e, naturalmente, 'acordou morto'. Hipotermia. Quem conhece minimamente Paris, ali pelos lados da Praça da República e do Marais, sabe que nesse horário, o trottoir é imenso e variado rumo ao bairro judeu, para comer o melhor Falafel com beringela da cidade e que sob as marquises, clochards do mundo inteiro, como lobos famintos, uns deitados, outros de joelhos e outros em posição de ataque, espreitam, por alguma sobra. Mas ninguém viu nada! Um a mais caído naquela hora, quem daria importância? Quem é que adivinharia que se tratava do grande René Robert e não de + um pobre fodido, chegado dois dias antes de Tanger, da Síria ou do Afeganistão? Quem é que, sem ver a câmera fotográfica, iria adivinhar que aquele velho era o René Robert, o cara fascinado por bailados e por castanholas... que, por ironia, por causa de um paralelepípedo ausente, ele próprio havia dançado? Estendido na calçada e sentindo as artérias se petrificando deveria resmungar: será que não aparece nenhum filho da puta para me ajudar? Cadê o pessoal do Maio de 68? A trupe do Sartre? Cadê o pessoal da Liberté, Fraternité e Igualité? E o Corcunda de Notre Dame? Para onde foram os apóstolos da Comuna de Paris? E o ilusionista Allan Kardec? De que serviu sacralizar o marginal Rimbaud e derrubar os paredões da Bastille? Morreu desesperado, blasfemando e resmungando como todos os moribundos...
Atenção! - digo para mim mesmo - como somos uma legião de porra-loucas indiferentes, e o humanismo é uma ficção, não esqueça: depois dos 80 se entra desarmado, de peito aberto e de forma compulsória na faixa de Gaza! Esse terreno minado onde o conflito com a força da gravidade se agrava e onde a falta de um paralelepípedo qualquer, ou até o farfalhar de asas de um pássaro noturno, podem decretar o nosso derradeiro encontro com o juízo final. O último click.
Da janela de uma casa de queijos ainda do tempo de Marat, com todas as cortinas vermelhas puxadas, se ouvia distante, fugidia e fugazmente Edith Piaf tagarelando La vie en rose. Sim, a mesma Edith, filha de um acrobata de rua e de uma gerente de bordel que chegou a cantar até para as tropas, nos tempos da ocupação de Paris.
kkkk se fudeu o véio, não querem nada com nada só andar pra baixo e pra cima tirando foto, é por isso que eu digo, todo artista e escritor tem é que se fuder mesmo, não servem pra nata.Eu vou bem muito obrigado ganhando bem sem me matar de trabalhar ih,ih,ih, foda-se ele morreu ele morreu kkkk A VIDA É ÓTIMA
ResponderExcluirFale mais! Diga tudo o que te vem à mente, e sem se preocupar com a ordem das palavras e do discurso...
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