sábado, 5 de fevereiro de 2022

A velhinha armênia e o casamento...





Como hoje é sábado, deixei a máquina balançando a roupa, a pia ensaboada, os banheiros secando, as cadeiras sobre a mesa, e fui ao mercado. Estou cada dia mais parecido a uma dona de casa dessas neuróticas que passam a vida limpando vidraças, esfregando lençóis, caçando pernilongos, passando flanelas nas pratarias... inventando novos cardápios com os mesmos elementos, e sempre com um rosário numa das mãos, para afastar o demônio que, sabe-se lá por quê, gosta de provocá-las... De tentar inculcar-lhes um pouco de libido e de fantasias eróticas, principalmente quando estão de quatro passando VEJA no batente da varanda...

No mercado, deparei-me com a velhinha armênia. Inicialmente, estava falando sobre o conflito na Ucrânia. Dizia que o ideal seria que o Putin e o Biden lançassem, no mesmo instante, um míssil certeiro um contra o outro.., mas logo foi interrompida por um sujeito com aspecto de DAS5, que passou a relatar-lhe que está envolvido com os preparativos do casamento de um filho. Será uma festa imensa.  Dizia. 268 convidados. Queima de fogos, bebidas de todos os tipos, doces, um passeio de iate pelas águas da Península dos Ministros e depois, uma comitiva que vai acompanhar os noivos até seu novo 'ninho de amor'. Só o book, 14 mil reais. E concluiu, exibindo-se: gasto total, 290 mil reais. 50% meus e 50% do pai da moça...

Ela, com seu lenço amarelo, de seda italiana, impecavelmente ajustado na cabeça, corou as faces e atacou: Nunca vi idiotice maior! Deixe de ser otário! A propósito: - perguntou num tom um pouco mais baixo - e a separação dos pombinhos, está marcada para quando? 

Respirou fundo e continuou: Romantismo plebeu! Ao invés de fazer um teatro ridículo desses, só para exibir-se e para amenizar teus próprios complexos infantis e os de tua mulher, mande esse dois babacas (com esse dinheiro todo) irem passar seis meses trepando numa ilha grega. Santorini! 

E, se for o caso, se realmente precisam realizar esse ritual estúpido e reacionário, que casem lá mesmo no minúsculo porto daquela maravilha grega, ou então no Old Port de Mikonos, cercado de vagabundos, de andarilhos e de toda aquela viadagem planetária. E depois desses 6 meses trepando, bebendo Retsina e olhando os movimentos hipnóticos do imenso e mítico mar Egeu, que um fique vivendo por lá mesmo e que o outro vá passar o resto da vida em outro paraíso do mundo...

E ela fazia esse discurso com um prazer mais do que sádico... O tal pai do noivo, que parecia prestes a ter uma síncope, pagou a conta e desapareceu...

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário