PETRÓPOLIS (Brasil) - 230 mortos e muitos desaparecidos... (Em uma única noite de verão e de chuva).
KIEV (Ucrânia) - 352 mortos (em 4 dias de inverno e de guerra).
PETRÓPOLIS (Brasil) - 230 mortos e muitos desaparecidos... (Em uma única noite de verão e de chuva).
KIEV (Ucrânia) - 352 mortos (em 4 dias de inverno e de guerra).
O que é, afinal, a metempsicose?
"A alma de Pitágoras encarnada num pobre estudante reprovado no exame, por não saber demonstrar o teorema, enquanto nos seus examinadores habitam as almas dos bois que Pitágoras sacrificou aos deuses, pelo júbilo de ter descoberto o teorema..." (Heine)
"Se a arte da guerra é a arte de exterminar os homens; a política é a arte de iludi-los..."
(D'Alembert)
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Nesta manhã de carnaval muitos mendigos apareceram na padaria ainda com serpentinas e confetes nos cabelos.
O dia estava radiante, parecia até ser o mais radiante de todo o verão. A discussão girava basicamente sobre a Ucrânia e sobre a guerra. Uns apoiavam a Rússia, outros a Ucrânia (como se a OTAN não existisse).
O Mendigo K ficou na escuta por um bom tempo e depois, dirigindo-se aos stalinistas que defendiam a Rússia, perguntou: quem de vocês já ouviu falar da história conhecida por HOLODOMOR?
Silêncio.
Sim, Holodomor. O holocausto dos ucranianos, promovido por Stálin em 1932. Milhões de mortos por inanição e fome...
Silêncio.
O garçom aproximou-se com duas baguetes e anunciou: com farinha da Ucrânia.
Lá fora, um casal de foliões passa cantando Manhã de Carnaval, guerreando com a Força da Gravidade e tropeçando nas próprias sombras...
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Hoje o dia foi cheio de emoções, de tiros, análises, especulações, profecias, orações, queima de incenso a Lênin e até declarações fervorosas de amor e de ódio à antiga URSS; a Um ou ao Outro lado, a um ou a outro império, enquanto os principais atores das escaramuças (praticamente todos com mais de 60 anos) se revezavam diante das telas, dos espelhos, dos tanques e dos microfones.
Sexagenários! Os baixos níveis de testosterona teriam alguma coisa a ver com as guerras, não apenas com esta, mas com as dezenas que já aconteceram e com as dezenas que estão semeadas e germinando pelo planeta a fora? Teriam perdido o tesão pela vida? Buscam um pretexto heróico para a decadência e para a retirada?
E os militantes de um lado e de outro, movidos por uma espécie de fé laica, se atacam. Se justificam.
Ah! o Putin!
Ah! o Biden!
Uma 'banda' da esquerda idolatra a Russia (Ah! a Russia do camarada Stálin!). A outra banda, preconceituosa com os eslavos, prefere pedir proteção e bençãos ao luteranismo gringo. Uns dizem que a Ucrânia é um ninho de cossacos nazistas! E que nos antigos e luxuosos puteiros de Manaus da belle époque dos seringais (por ex: O Grande Hotel Cassina), muitas das chamadas 'polacas', na verdade, eram ucranianas. Os outros retrucam que o Putin é a reencarnação do Rasputin e que traz a homofobia nos olhos. Que tem medo de que, ao invés da reconstrução da Cortina de Ferro, que pretende, acabe por ver a Grande Russia envolta numa cortina de cambraia ou de cetim rosa... A neutralidade é reacionária! - dizem - Bobagens!
Enquanto escrevo esta frase penso nas possíveis bombas que poderão despencar sobre nossos jardins e telhados e em Céline: "Oh sim, disse com os meus botões, tudo vai acabar! Ufa! Já vimos tantas coisas... aos sessenta e cinco anos e lá vai fumaça, porra, quê importância tem para a gente a pior das piores arquibombas H? Z? Y? Um sopro!... Uma ninharia! Mas o que é horrível é o sentimento de ter perdido tanto tempo e ter feito toneladas de esforços por esse bando horroroso e diabólico de bêbados, filhos da puta e puxa-sacos..."
E os supostos especialistas em artilharia, falam em intervenção cirúrgica, com o mesmo cinismo e com a mesma frouxidão e cansaço com que aquela antiga enfermeira manipulava e registrava o prontuário do último paciente do dia.
Quem é que vendo aquela multidão arrastando malas, travesseiros, gatos, crianças e lágrimas, não se lembra das grandes caravanas do passado? Para onde irão?
Sim, o êxodo vai em direção à Polônia.
Ah! a Polônia. Onde nasceu Samuel Rawet (um dia me interessei pela loucura, a clinica, não a romântica!) e também o ex Papa João Paulo II e onde o catolicismo brota como erva daninha pelos canteiros e barrancos... Quem é que não se lembra do gheto de Varsóvia? E bastou os russos desembarcarem nos arredores de Kiev e na antiga Chernobyl para as ratazanas que manipulam as moedas e os mercados passarem a madrugada tecendo intimidades; realocando fortunas clandestinas entre as nações: dólares, libras, rubros, ouro... ações. E agitando e manipulando o rebanho com a 'queda' e a 'subida' das chamadas bolsas. Leram A morte da moral burguesa de Berl, e descobriram que a hegemonia nesse métier não é mais judaica, passou a ser calvinista. Gente que enquanto os rouba recita a bíblia. Ligações em surdina entre dogmas e continentes. É a guerra!
Investidores, acordem!
Enfim a guerra!
Podemos colocar à venda as ações Y? Podemos investir naquelas ações que pareciam mortas?
E os jornalistas subalternos quase gozam ao noticiar os índices. Têm uma compreensão mística do tal mercado. Acreditam na sorte e na Roda da Fortuna! Competem entre si nas salas de redação e insinuam para seus patrões que só eles têm fontes sigilosas no subsolo das mansões de quatro ou cinco dos mais astutos banqueiros. Sim, o Dr. está embriagado, mas eu, como sua amante e herdeira posso falar em seu nome.
Aliás, 90% das notícias da guerra (prestem atenção) estão sendo dadas por repórteres femininos. O que aconteceu? As mulheres se tornaram especialistas em assuntos bélicos? Onde teriam se especializado? Na batalha cotidiana no interior dos 'lares'? Penso malignamente nos maridos pisoteados e mortos prematuramente!
E os machos!? (Me indagava o Mendigo K) Tirando o Putin e o Xi Jimping, - observe - os outros parecem cada vez mais titubeantes, cada vez mais frágeis! Mais delicados! Mais passivos! Mais femininos, mais amorosos! Como pensam em ganhar uma guerra desse jeito? De quatro? A culpa seria, novamente, do autoritarismo materno?
Numa reunião de diplomatas, um deles, transbordando mitologia cristã lançou esta pérola teológica contra o antigo agente da KGB:
"Não existe purgatório para criminosos de guerra, eles vão direto para o inferno..."
Os ouvintes, todos velhos e entendidos, inclusive em diplomacia, quase caíram em uma genuflexão e em uma epifania coletiva enquanto, lá fora, nas ruas frias e solitárias, os mísseis iam zunindo, fazendo o serviço previamente acertado e de conhecimento de todos...
A mulher do Mendigo K que já presenciou uma de minhas 'conferências' sobre o Futurismo, gritou-me do outro lado da rua: Ei, Bazzo, é a guerra! A única higiene do mundo!
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1. Pensa no momento. Todo momento que dura é contradição.
2. Ama o momento. Todo amor que dura é ódio.
3. Sê sincero com o momento. Toda sinceridade que dura é mentira.
4. Sê feliz com o momento. Toda felicidade que dura é infelicidade.
5. Queima cuidadosamente as ações passadas e esmaga as cinzas; pois a Fênix que delas renascesse seria a mesma.
6. Não brinques com os mortos e não acaricies suas faces. Não rias deles e não chores sobre eles; esquece-os.
7. Não carregues em ti cemitérios. Os mortos causam pestilência.
8. Que toda taça de argila herdada se despedace entre tuas mãos. Quebra toda taça onde tenhas bebido.
9. Sopra sobre a lâmpada de vida que o corredor te estende. Pois toda lâmpada antiga é fumacenta.
10. Não ames tua dor; pois ela não durará.
11. Esquece-me e eu te serei restituída. Pois toda construção é feita de restos e os escombros são semelhantes...
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[Toma esta tocha - disse ela -, e queima. Queima tudo sobre a terra e no céu. E quebra a férula e a apaga quando tiveres queimado, pois nada deve ser transmitido...]
(Ver: O livro de Monelle, p. 26. Marcel Schwob)
E nem precisa ser freudiano para saber que a origem de um conflito como esse, - por exemplo -, é sempre o tamanho do pau dos envolvidos. Biden, Putin, Zelensky... qual seria o tamanho do pau desses idiotas? É importante lembrar que o último, inclusive, (presidente da Ucrânia), antes de ser presidente era humorista. Ah, seria importante convocar suas mulheres. Observem a fragilidade no caminhar desses guerreiros. A propósito, aqui em Brasília, a fila para uma faloplastia está cada dia maior. Tudo bem! Aumentar o tamanho do pau? Tudo bem! O problema será para aquelas que já tinham fobia antes...
Aqui entre nós: já estamos de saco cheio de ver gente transformando em ciência, em herança genética e em leis, suas taras, seus problemas e transtornos pessoais... (E não me venham com aquela frase que Leopardi gostava de entoar: "não existe pedra sem jaça!")
O mais curioso, é que exércitos imensos de jovens, aceitam e se submetem às ordens desses fetichistas/paranóicos. A Ucrânia? Kiev? Donetsk; Luhansk; Crimeia; OTAN... Ora, tudo isso, para nós, tem a mesma importância que o canto de um grilo.
Ah, mas o Imperialismo! Ah, mas o gás para as velhinhas alemãs prepararem suas salsichas? Ah, a vaidade! Ah, a gerência e a polícia do mundo! Ah, a honra! (que honra?). Puras humilhações infantis! O cano dos tanques como a ereção idealizada? Idiotices... Na essência, trata-se apenas de interesses dinásticos e do instinto de morte. Como o vírus não deu conta de liquidar com esse miserável rebanho, pretendem completar seu trabalho com os tanques. Qualquer um, minimamente honesto, já entendeu que esta espécie não deu certo. Que Darwin, por ética ou por medo, só tratou superficialmente nossas origens, omitiu algo da maior importância, Preferiu dar prioridade às tartarugas de Galápagos.
Agora só nos resta assistir aqueles (e estes) idiotas se caluniando e assassinando mutuamente em nome de mais uma ficção... e lembrar Diderot: "o gênero humano (como uma praga) durará perenemente; mas a pátria tem de desaparecer".
E você, aí em casa, engordando como um Duroc, também está curioso para ver a trajetória dos mísseis incendiários cruzando os mares e caindo sobre as belezas de San Petsburgo e sobre as escadarias do museu Solomon R. Guggenheim? Ou também prefere uma vodka, o som de uma balalaika e o canto dos grilos?
É quase inacreditável que o país inteiro consiga assistir o horror que vem acontecendo em Petrópolis (todos os anos) sem perder o sono. Ver toda aquela tragédia e seguir palitando os dentes na varanda, coçando a barriga na fila das churrascarias e ouvindo em silêncio um idiota de batina cacarejando: bem-aventurados os que sofrem, porquê estes serão consolados!
Serão consolados um caralho!
E é mais inacreditável ainda, saber que os pré candidatos às eleições deste ano (que estão se pavoneando por aí e fazendo promessas delirantes) são sujeitos que já governaram o país, uns até por décadas, e que fecharam os olhos para aquela cidade, com aqueles barrancos prestes a desmoronar e com aquela multidão de gente vivendo naqueles cortiços abomináveis colados às encostas... Por quê, ao invés de ficarem recitando covarde e trapaceiramente o Sermão da Montanha, não recitam o Sermão dos Morros?
E a passividade dos moradores também é inacreditável!
Como é possível que aquela gente que está lá assistindo a mesma desgraça todos os anos, consiga ver seus familiares e seus cachorros soterrados por barro, pedras e lixo permaneçam paralisados? Que continuem acreditando na demagogia de que os pobres de espírito são bem-aventurados, porquê deles é o Reino dos Céus? Onde estão os esquerdistas? Os direitistas? Os fascistas? Os nazistas? Os sionistas? Os anarquistas? Os Jesuítas? Onde é que se encontra alguém que tenha bagos (ou vulva)? Mas, atenção: não pensem que eu, que os estou incitando a vingarem - vossos vizinhos, vossas pessoas queridas, vossos cachorros e a todos vossos companheiros de miséria e de solidão soterrados -, confie em vocês. Não! Tenho total convicção de que no momento em que conseguirem pisotear vossos opressores, vocês também passarão a agir, a governar e a oprimir exatamente como eles... (Até já elegeram e reelegeram, por 4 vezes, o atual prefeito dessa cidade!) É bom lembrar daquilo que prevenia Spinosa: o auto-martírio não será recompensado!
Mesmo assim, todos em procissão e em êxodo, mesmo em baixo de tempestades, com foices e machados em direção à capital, mesmo que seja com seus defuntos às costas! E ao invés de se contentarem com migalhas para enterrarem seus cadáveres e para reconstruirem seus cortiços (aquele horror de moradias), tocar fogo e incendiar a cidade, inclusive os cemitérios! A propósito, não é simbólico, não lhes parece estranho que num vilarejo daquele tamanho existam SETE cemitérios? Chega! Aquilo ali é uma arapuca! Uma ante sala dos cemitérios! Uma frescura e uma ficção pequeno-burguesa! Um horror que foi edificado apenas por um exibicionismo e por uma viadagem do Imperador! Aliás (segundo meu correspondente que está lá tentando encontrar o corpo de sua bisavó, no meio dos destroços), os moradores de Petrópolis (inclusive os proletários e os mais fodidos) ainda pagam, até hoje, um imposto, um tal "laudemio" ao imperador...
Querem absurdo e submissão maior do que esta?
Ah!, os humildes serão exaltados!
Demagogia barata! Acordem! Caiam na real!
Não! Os humildes, os que sofrem e os pobres de espírito jamais serão bem-aventurados! Isso é mentira eternizada pelos trapaceiros! Chega de hipocrisia e de submissão! E que todos os governantes das últimas décadas sejam responsabilizados e, se possível, chicoteados.
Ou então, camaradas... engulam vossa covardia e até a tragédia do ano que vem!
PETRÓPOLIS, NUNCA MAIS!
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EM TEMPO: Vossa passividade, mais uma vez, será interpretada como cumplicidade com a bandidagem oficial. Tudo bem! Mas, com que cara conseguirão visitar as covas e os sepulcros de vossas crianças, de vossos camaradas e de vossos mortos?
"A sensação de religião é gerada na sensação de fome. A satisfação religiosa é a satisfação da fome. Adorar deuses, animais e vegetais era um problema de alimentação do homem primitivo. É pela fome que o homem entra em contato com o mundo animal e vegetal que ele devora e o ato de devorar é a primeira religião do homem..."
Flavio de Carvalho
(IN: A origem animal de Deus)
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Por mais distraído que o sujeito seja, deve ter percebido que nesta última semana a mídia, em geral, dedicou um grande espaço para falar do Centenário da Semana da Arte Moderna (1922).
Convocaram especialistas, professores, entendidos, colecionadores, mercadores, místicos, netos e bisnetos daquela turma que engendrou a famosa semana e até listaram os nomes mais proeminentes. Este fez isto! Aquele fez aquilo! Este era genial! Aquele, apesar de ser um papagaio burguês, transbordava sapiência! Faziam longas viagens para se reunirem nos cafés de Montmartre! Este tinha um pai bilionário! Aquele havia herdado tudo de seu avô. Todos falavam o idioma de Voltaire e uns até arriscavam cacarejar alguns dos versos de Goethe.
E os próprios entrevistadores suspiram ao ouvir as lendas e as histórias de amor e de desafeto, advindos daqueles inesquecíveis avatares nacionais! Ah, a arte! Ah, o Macunaíma! Ah! o FAROL da Anitta Malfatti! A arte como um Sacramento! Como um subproduto do tédio burguês! Quase como a Cruzada das crianças, de Marcel Schwob, na tentativa de resgatar o Santo sepulcro. Lembram? Os Santos dos Últimos dias! O que teria sido desta pátria e de nossos canibais se não fossem aquelas genialidades antropofágicas?
Entretanto, há uma curiosidade:
Até agora, (... a não ser que estejam deixando para uma 'surpresa' final), omitiram o nome de um sujeito que até mesmo para o pavão Osvald de Andrade, era uma das maiores forças do movimento. Me refiro a FLAVIO DE CARVALHO. Arquiteto, escultor, cenógrafo e escritor. Por quê o teriam silenciado?
São dele os livros A ORIGEM ANIMAL DE DEUS, e O BAILADO DO DEUS MORTO.
Teriam esquecido seu nome? esquecido de mencioná-lo? Ou o teriam excluído por problemas 'de pauta' e de moralidade?
Não acredito! Seria muita miséria, não é verdade?
Pisoteado quando vivo! Renegado um século depois! Bobagens!
Seu livro O bailado do Deus morto refere-se à experiência feita por ele, durante uma procissão de Corpus Christi, e foi o livro que motivou, na época, o escândalo e o fechamento do Teatro da Experiência (1933) localizado na rua Pedro Lessa, n. 2.
Enfim, já que estão espargindo água benta e queimando incenso para aquela trupe, é importante repetir que FLAVIO DE CARVALHO (o não mencionado) foi um dos principais pilares daquela Semana. E que é quase brochante ver que um século depois, esse tipo de 'amnésia' ou de 'distração' ainda continuem se repetindo...
https://www.encontro2020.rj.anpuh.org/resources/anais/18/anpuh-rj-erh2020/1600190832_ARQUIVO_019c9e06ba688a9ad333a0ec3338e15c.pdf
"UMA SENHORA é no que se transforma a mulher vulgar, quando sai das mãos de um bom cabeleireiro ...
(Académie de l'Humour)
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PUTIN, o ex agente da KGB, nestes prenúncios de outra guerra, está dando um show, não apenas no que diz respeito às estrategias bélicas, mas também à filosofia e aos filósofos. Conhece (e pratica) a distância que se deve manter quando se vai tratar com trapaceiros e farsantes. O COVID é apenas um pretexto!
A visita do Bolsonaro àquele ditador, será fundamental para compreender como é possível fazer um país cheio de luxo e de consciência. Seria ideal que, antes de voltar, também fizesse a viagem, San Petsburgo/Vladivostok para, além de sentir o clima siberiano, entender a importância de se construir uma ferrovia; que visitasse as estações do Metrô de Moscou, para entender um pouco de beleza e que até mesmo, tivesse uma aula, com os capangas de Putin, sobre envenenamento... (Desde a família Romanov, até Rasputin e Stalin.., especialidade da casa!).
"E o proletariado, o que vai fazer ao Louvre?
Contemplar as tetas nuas das rainhas que os exploraram, e as coroas de ouro dos reis que os mandaram matar?"
Emmanuel Berl, p. 36.
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Neste domingo de chuviscos e de ventos que assoviavam nos ângulos de minhas janelas, reli com um gozo quase místico, o livro MUERTE DE LA MORAL BURGUESA, de Emmanuel Berl, publicado em Paris (Mort de la pensée bourgeoise, 1929) e depois em Buenos Aires, pela editora La Pléyade, lá por 1970...
A cada pagina, ficava me perguntando: o que os editores tupiniquins ficaram fazendo até hoje, que não o traduziram, publicaram, e que não o incluiram no curriculum de nossas escolas primárias? Pura ignorância e alienação, ou uma maneira sutil de censura?
Já é tempo de livrar nossas escolas dessa pedagogia e dessa literatura infantil idiotizante que domestica, intoxica e castra nossas crianças. Que seja substituída por Borges; Cioran; Levinas; Vargas Vila; Céline; Molière; Dostoievski e até mesmo por FrançoisVillon...
"Ce n'est pas seulement la raison des millénaires, c'est aussi leur folie que éclate em nous. Il est dangereux d'être héritier..."
F. Nietzche
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Como já disse em outras vezes, por aqui, depois de um dia chuvoso costuma surgir um amanhecer extraordinário, onde, mesmo para aqueles que não estão em estado maníaco, tudo parece estupendo, harmônico, revolucionário. Onde até os ônibus sucateados que passam poluindo tudo e com gente pendurada nas janelas, têm lá o seu charme...
Na padaria, o mendigo K e mais sete/oito comparsas, apareceram, todos com camisetas iguais, onde se via estampado o Abaporu, da Tarcila.
Como está sendo comemorado o centenário da chamada Semana de 1922, esta pintura (apesar de repousar num Museu de Buenos Aires), está sendo incensada (não apenas com intenções comerciais) mas também para tentar levantar a moral de nossos artistas que, salvo uma ou outra majestade, estão à beira da melancolia.
Um pouco antes da moça trazer o café, o Mendigo K, apontando para a pintura na camiseta de sua mulher, questionou: Não te parece estranho que a pintora tenha diminuído a cabeça desse jeito? Veja! Compare o tamanho da cabeça com o tamanho do pé. Estaria insinuando alguma coisa?
E esse pezão? A propósito, o Pezão já foi solto ou ainda está no Bangú IV?
E a mão direita que só apresenta quatro dedos? E as nadegas, que estão a um centímetro do solo? Estaria flutuando? Qual seria o significado disso tudo? E o cactus Mandacaru e aquele sol abrasador? Estaria fazendo algum tipo de nexo com o sertão e com Lampião, que seria assassinado uns dez anos depois?
Sua mulher, (com os olhinhos virados para cima, naquela expressão típica de sonambulismo místico e de espiritualismo patológico), percebendo sua malignidade, corrigiu: Não, meu amor, não tem nada a ver com nada isso! Como a Tarcila recém havia chegado de Paris, ainda estava impregnada dos plágios, das astúcias e das picaretagens de Picasso e quis fazer algo que lembrasse aquela fantástica cidade; aquelas pâtisseries estupendas, (a Stohrer, em especial) e também o Pensador, de Rodin... Abaporu?! Trata-se de nosso pensador canibal! Pense nesta palavra! É preciso ir à origem das palavras! E veja o tamanho do segundo dedo, um pouco arcado para a direita: esse dedo simboliza o poder feminino e profetizava, não apenas o empoderamento das mulheres, mas também que, um século depois, já na pós-modernidade, num momento neo-ocultista, um sujeito apelidado de Monark, no meio de uma proto-embriaguês, cambaleando para a direita, iria propor um Partido Nazista aqui nos trópicos antropofágicos... E que seria pisoteado e enrabado pelos chefes de partidos similares (mas com outros nomes e zelosos de seu status quo), durante uma semana...
Fez um breve silêncio, colocou os dedos nas têmporas e indagou para si mesma: desculpe,.. agora fiquei confusa! Sempre confundo antropofágico com autofágico e com coprofágico...
E o assunto da cassação do Monark, por ter opinado sobre 'a criação de um partido nazista no Brasil', continua rendendo, tanto nas catacumbas da direita como nos subterrâneos da esquerda, como se estas sete letras, quando pronunciadas, alterassem o humor dos ouvintes e os remetessem involuntariamente a uma mandala chamada suástica.
Sete letras? Ah! Precisamos convocar os numerólogos e os cabalistas.
E a Tabata? Esse nome é tão estranho! Vamos ter que acionar a policia secreta.
E o Kim Kataguiri?
Japonês? Ah! Lembram dos samurais e dos Kami Kazi? Lembram do Mishima? Quem é que não leu a história do anarquismo japonês, do Museihushugi? É preciso enquadrá-lo!
A esquerda está excitada! Todo mundo quer opinar, como se o Monark, esse avatar de Hitler, tivesse, finalmente, sido descoberto. Ah! O país corre perigo! E convocaram jornalistas jubilados, especialistas em signos, em linguagem, em antropologia cultural, em manipulação das palavras, em hipocrisia. Acionaram exilados para decifrar o flow. Intimaram militantes mais antigos para, juntos, escreverem o prontuário dessa ameaça nacional. Ah! os nazistas! Não passarão! E as análises e os discursos são religiosos. Bolsonaro entra em cena como um Calígula que sufocará a nação (Calígula, todo mundo se lembra, foi aquele que nomeou seu cavalo, como cônsul romano) e o Lula como uma espécie de Padre Cícero que promoverá a restauração e a gloria nacional. (Padre Cícero, todo mundo se lembra, foi aquele religioso que ao colocar uma hóstia sobre a língua de uma beata, esta se transformou em sangue!).
Os espíritas (da mesa branca) passaram a noite reunidos tentando incorporar a Eva Braun (esposa do velho Nazi) para saber intimidades...
Cada um se mostra mais impenetrável, místico e revolucionário do que o outro. Mas, e a liberdade de expressão? Ah! - murmuram com os olhos arregalados - as palavras são como punhais, como armas! Liberdade é só para os nossos! Para quem pensa como a gente! E citam o Talmud: Ser complacente com os lobos é ser cruel com as ovelhas!
Um casal balzaquiano atravessa a rua no meio de uma discussão interminável e fervorosa. O que poderiam estar discutindo além de sexo? O estrago que a pandemia produziu na vida sexual das pessoas, ainda não foi verdadeiramente analisado. Segundo o Mendigo K, se o confinamento durar mais uns 8 meses, muitas mulheres verão seus hímens naturalmente refeitos e reconstituídos...
Na rua, o populacho se esforça para entender o que está acontecendo. Nazismo? O que é isso? Tem alguma coisa a ver com astrologismo? Seria uma variante do comunismo? Mas afinal: são tantos 'ismos'. Enfim, é a terra ou o sol que gira? E Hitler? Quem foi Hitler? Falam tanto nesse nome. Teria sido um druída? Um antigo Presidente do Banco Central? Um gerente da Caixa Econômica? ou um pastor? Um coletor de impostos? E o Monark? Um concorrente da Caloi?
E os especialistas que foram convocados para falar sobre a barbarie, ajeitam as nádegas nas poltronas, pigarreiam, arrumam o barrete frígio sobre as orelhas, convocam os sábios da Escola de Frankfurt e analisam com pompa a última frase do Monark: Ah! essa encarnação do MAL! Esse avatar útil do Quarto Reich! Se dizem filósofos; linguistas; estrategistas de guerrilha; membros iluminados do terceiro Milênio; Exilados por orientação de uma seita pós moderna; Combatentes do xamanismo incorruptível; discípulos de Borba Gato e que foram escolhidos para redigir o capítulo que Moisés, malandramente, deixou de incluir no Velho Testamento e também para corrigir a pontuação e as vírgulas no texto do Apocalipse.
Nazismo? Um Partido Nazista? Now?!
Isto não!
Não passarão!
Somos um país miscigenado que amamos a diversidade; um país tropical, composto só de etnias transcendentes e felizes! Com 70% da população passando fome, roendo ossos há 50 anos, mas tudo na Santa Paz... Querem prova maior de nossa transcendência e de nossa santidade? Somos geneticamente Zen! O jejum espiritualiza o rebanho e Gandhi é outro, o mais magro de nossos avatares...
Um partido nazista? Pelo amor de Deus! Mas já temos trinta e tantos! Vó, o que é o nazismo, afinal? Comeriam crianças, como os comunistas? Não! Não! netinho! Quem come crianças são de outro ismo...
E o Monark com seu FLOW, por fim, foi cancelado. Flow? Fluxo? Flow? Será que nesse nome não está contida alguma senha secreta? Será que não traduz alguma intenção do grupo? Flow! Fluxo! Teria alguma coisa a ver com fluxo menstrual? Vamos convocar os ginecologistas! Não passarão!
Ah, e nós que somos uma sociedade tão pacífica! A propósito, quantos foram assassinados no dia de ontem? Tantos assim?! E por nossa policia... tão meiga e cidadã!? Imaginem então como seria com os homens da SS.
Não passarão!
Nunca se viu tanta gente moral e politicamente travestida em um único dia. Os travestis genuínos que ficam ali ao redor do Hotel Nacional exibindo os buracos e o rabo e competindo com as putas, até estão confusos.
Seria concorrência desleal?
Vamos convocar os sindicatos especializados na CLT!
De suas suítes no vigésimo andar, os verdadeiros promotores desse circo, enquanto acendem seus charutos, abrem suas garrafas e colocam suas amantes de joelhos diante de suas braguilhas, espiam pela janela a turba lá em baixo, agitada, em lágrimas, resmungando: mea culpa... mea culpa... mea ultima culpa... e fazendo teatral e reacionariamente os expurgos entre seus indigentes.
Este, deixou escapar um desejo nazi secreto! Não podemos ser confundidos. Fora!
Este outro, levantou a mãozinha direita de onanista, como fazia o autor de Mein Kamph! Poderá comprometer-nos. Fora!
Este, adora comer salsicha com chucrute. Fora!
Esse, vai a Dresden todos os anos e ouve Wagner (a Tannhäuser) todas as manhãs! Fora!
Esse, que é budista e que tem entre sua coleção de mandalas uma suástica. Fora!
Esse, insiste que o nazismo foi uma aberração de esquerda. Fora!
Esse demonstra que o Vaticano apoiou o nazismo. Fora!
Esse só compra carros da Ford... Mesmo sabendo que Henry Ford era descaradamente anti-semita e que escreveu o Judeu Internacional. Pode comprometer-nos. Fora! Mas, e o que fazer com a legião de professores, que anualmente, vão fazer suas teses e gozar seus anos sabáticos com o apoio da Ford Foundation?
Esse aí, tem em sua biblioteca Os protocolos dos Sábios de Sion. É um perigo anunciado! Fora!
Esse, acha que roer ossos é uma sutil apologia do nazismo. Fora!
Esse aí não acredita em nossa tese de que a miséria do povo é legítima. Fora!
Esse tem uma paixão enrustida pela Angela Merkel. Fora!
Esse, ao invés de ler a Bíblia, lê Assim falou Zaratustra, de Nietzsche, e pior: no original. Fora!
Por favor, temos que salvar nossa reputação, o sigilo e a mídia!
Acionem a PGR! O clero!
Mobilizem o judiciário!
Afinal, o Estado está ou não está aparelhado?
A vergonha e a estulticia é generalizada.
Ah!, e é sempre nestas horas que gosto de parafrasear o dramaturgo Lupércio Leonardo de Argensola: Lástima grande que sea verdade tanta miséria!
Começou assim, lembram? Primeiro elegeram o Bode espiatório; depois arrombaram a cerca; depois arrancaram as flores; depois andaram de botas sobre os canteiros; na mesma noite rabiscaram uma senha na janela; depois chamaram os cupinchas e derrubaram a porta, pisotearam os cristais, e no meio de murmúrios moralistas e milenaristas, como se fossem "arianos", um "povo seleto", e estivessem além do bem e do mal, silenciaram e nocautearam seus moradores... E, pior: todo mundo até passou a acreditar que o silêncio era uma espécie de virtude iluminista! Apesar de ser uma descarada covardia e uma humilhante miséria anti-civilizatória.
Quem é que, em sã consciência, se solidarizará com uma canalhice destas, sem envergonhar-se?
Tenho assistido diariamente às manifestações mundo a fora contra a obrigatoriedade do chamado Passaporte Vacinal. E, sem demagogia, não consigo entender o motivo de tanta resistência, de tanto pânico, de tanta rejeição a mais essa obrigatoriedade burocrática, num mundo onde já são tantas, não é verdade?! E onde até nossa liberdade é condicional! E gente supostamente inteligente e esclarecida vem a público denunciar com eloquência essa "ação tirânica", "autoritária", "irracional", "cretina", "fascista" e "injustificada".
Me esforço para entender, mas não entendo. Qual é, verdadeiramente, o problema?
Agora, até os caminhoneiros canadenses, analfabetos de pais, avôs e avós, encamparam essa bandeira e congestionaram a cidade de Ottawa com seus gigantescos e poluidores caminhões. O legislador fugiu e os "sanitaristas do volante", 'curtidos de soledad', fazem pose no meio do congestionamento com suas barrigas caindo sobre os cinturões... E tudo o que dizem e afirmam lembra o beijo, supostamente ocorrido lá no Jardim das Oliveiras...
Quem poderia negar que se trata de um fenômeno, curioso & muito interessante?!
Mas.., alguém deveria lembrá-los, primeiro: que são uns pobres coitados. E segundo, que se as autoridades daquela monarquia tivessem exigido notificação obrigatória e passaporte também da Neisseria gonorrhoea, a grande maioria deles agora não estaria com as cuecas manchadas e nem contaminada da supergonorréia, resistente a todo tipo de antibióticos e que por lá já é caso de saúde pública. (ver boletins sanitários daquele país)
Enfim, os CONTRA, os a FAVOR e os INDIFERENTES ao tal passaporte, estão por aí, cotidianamente e, por problemas de foro íntimo (mas disfarçados de preocupação social) esgrimindo hipóteses, se acusando e se caluniando mutuamente e sendo mais iatrogênicos e mais nocivos, uns aos outros do que o próprio vírus. E, pior: encenando a mesma, interminável e cretina discussão entre palhaços.
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Nesta segunda-feira silenciosa, com uma luminosidade tímida e com um ar urbano de decadência, a padaria também estava, digamos, mergulhada num clima de melancolia. O tédio do confinamento, queira-se ou não, vai diminuindo a testosterona nos homens e também nas mulheres, deixando todo mundo meio paranóide, místico e brocha... O padeiro, que antes de vir para o Brasil era sapateiro em seu país, enquanto exibia uma baguete de uns 40 centímetros, um pouco tostada na parte de cima, e que era, realmente, uma maravilha, dizia aos clientes que, para fazer seus pães só usa trigo importado da França. E todo mundo fingia acreditar.
Numa mesa de canto o Mendigo K, com um novo morador de rua, discutia os rumos da pandemia, do 'sindicato dos mendigos' os três anos de confinamento e o futuro.
Voltar ao normal? Perguntava, meio indignado. Simplesmente voltar ao normal seria mais um atestado de nossa indigência psíquica como sociedade e como espécie! Voltar a enquadrar-se na mesma pantomima pobre, ridícula, hipócrita e vaselina de três anos atrás? Não tem sentido! É muito pouco! Muita pobreza! É um retrocesso! Voltar àquela rotina vagabunda? É ridículo! Olhe para trás. Não é possível que nestes três anos, com tudo o que o vírus desmascarou no mundo e ao nosso redor, não é possível que se pense em voltar para as ruas da mesma maneira que se saiu delas! Seria terrivel! Voltar àquela servidão voluntária, aquele lero-lero de neuróticos; aquele blá-blá-blá-blá de insanos; aquele moralismo de bestas, àquelas competições entre autistas 'curtidos pela soledad' e àquela filosofia de carcereiros, seria um atestado de estagnação e de burrice, como se fossemos regidos apenas por um destino e não pela história.
Nós rejeitamos a tal volta à normalidade, àquele covil de ascetas que passava a maior parte da vida correndo atrás de centavos e dialogando - ou melhor, monologando - com Deus ou com o Diabo. Foi aquela normalidade que nos afundou nessa merda onde estamos. Que se destrua tudo, inclusive as ruínas...
O novato, intimidado, perguntou-lhe: Mas e se o confinamento durar mais um ano?
Sem responder, tirou da bolsa e jogou sobre os pedaços de miolo de pão espalhados pela mesa o livro de 1035 páginas do Norman Mailer: A canção do carrasco.
Como hoje é sábado, deixei a máquina balançando a roupa, a pia ensaboada, os banheiros secando, as cadeiras sobre a mesa, e fui ao mercado. Estou cada dia mais parecido a uma dona de casa dessas neuróticas que passam a vida limpando vidraças, esfregando lençóis, caçando pernilongos, passando flanelas nas pratarias... inventando novos cardápios com os mesmos elementos, e sempre com um rosário numa das mãos, para afastar o demônio que, sabe-se lá por quê, gosta de provocá-las... De tentar inculcar-lhes um pouco de libido e de fantasias eróticas, principalmente quando estão de quatro passando VEJA no batente da varanda...
No mercado, deparei-me com a velhinha armênia. Inicialmente, estava falando sobre o conflito na Ucrânia. Dizia que o ideal seria que o Putin e o Biden lançassem, no mesmo instante, um míssil certeiro um contra o outro.., mas logo foi interrompida por um sujeito com aspecto de DAS5, que passou a relatar-lhe que está envolvido com os preparativos do casamento de um filho. Será uma festa imensa. Dizia. 268 convidados. Queima de fogos, bebidas de todos os tipos, doces, um passeio de iate pelas águas da Península dos Ministros e depois, uma comitiva que vai acompanhar os noivos até seu novo 'ninho de amor'. Só o book, 14 mil reais. E concluiu, exibindo-se: gasto total, 290 mil reais. 50% meus e 50% do pai da moça...
Ela, com seu lenço amarelo, de seda italiana, impecavelmente ajustado na cabeça, corou as faces e atacou: Nunca vi idiotice maior! Deixe de ser otário! A propósito: - perguntou num tom um pouco mais baixo - e a separação dos pombinhos, está marcada para quando?
Respirou fundo e continuou: Romantismo plebeu! Ao invés de fazer um teatro ridículo desses, só para exibir-se e para amenizar teus próprios complexos infantis e os de tua mulher, mande esse dois babacas (com esse dinheiro todo) irem passar seis meses trepando numa ilha grega. Santorini!
E, se for o caso, se realmente precisam realizar esse ritual estúpido e reacionário, que casem lá mesmo no minúsculo porto daquela maravilha grega, ou então no Old Port de Mikonos, cercado de vagabundos, de andarilhos e de toda aquela viadagem planetária. E depois desses 6 meses trepando, bebendo Retsina e olhando os movimentos hipnóticos do imenso e mítico mar Egeu, que um fique vivendo por lá mesmo e que o outro vá passar o resto da vida em outro paraíso do mundo...
E ela fazia esse discurso com um prazer mais do que sádico... O tal pai do noivo, que parecia prestes a ter uma síncope, pagou a conta e desapareceu...
"Não é o sofrimento que liberta,
e sim o desejo de sofrer..."
Emil. M.Cioran
Nesta sexta-feira, logo cedo, recebi duas teses delirantes, antagônicas e curiosas sobre a pandemia, sobre a procedência do vírus, as crenças relacionadas a ele e sobre as estratégias para combatê-lo.
A primeira, foi de um homem de uns 70 e tantos anos, um ex stalinista, que já queimou muito incenso para o Brizola e que passou praticamente a vida inteira militando. Ria às gargalhadas ao saber que eu e a metade do mundo estamos em quarentena há mais de dois anos, etc, etc. E insistia que tudo não passa de um projeto imperialista dos Estados Unidos para assustar e domar ainda mais a tropa. Que o vírus é engendrado pelo próprio corpo das pessoas estressadas, acuadas e assustadas. Que não há vírus nenhum, etc, etc. E repetia com argumentos até verossímeis que tudo não passava de: coisas do capitalismo & do imperialismo gringo.
A segunda, veio de uma dona de casa, que me enviou um video, onde um sujeito, também de bom papo, defendia a idéia de que a máscara não serve para nada e que, pelo contrário, faz muito mal uma vez que retém em seu tecido o gás carbônico que o sujeito bafeja e exala fazendo com que seja novamente inspirado, o que provocaria um desequilíbrio no Ph do sangue e com isso a vulnerabilidade ao vírus. E mais: ao contrário do outro, que me dizia que se tratava de uma manobra imperialista dos Estados Unidos, este afirmava que tudo não passa de um Complô do Comunismo internacional para dominar completamente o rebanho. E mais: seus argumentos, literariamente falando, também eram verossímeis.
Que tal? E você, camarada leitor? Que está aí em sua casa engordando como uma anta e sendo manipulado por todos os lados, tem tendência em acreditar na primeira ou na segunda tese? Ou haveria uma Terceira?
Enquanto isso, Buenos Aires está à caça dos que estão vendendo cocaína envenenada. Se no passado, lá nos cafés da Calle Florida só se falava em Lacan e em Corrientes 348, hoje todos os olhos estão voltados para a Santa Sé e para el Puerto 8... O que se pode esperar de um mundo onde nem mais os traficantes são confiáveis?
E la nave va!
Quem sobreviverá terá muito trabalho para trazer de volta a sanidade mental às tribos que sobrarem. (admitindo, claro, que ela tenha existido algum dia...).
Com 84 anos, vagabundeando à noite, pelas ruas de Paris, - povoadas por michês, cabarés e por milhares de fantasmas dos guilhotinados de Picpus - nestes dias de inverno, deve ter pisado 'num astro distraído'; numa nuvem ou num paralelepípedo que não estava mais no lugar ou ter tido uma síncope e despencou no meio das trevas. Ficou caído até o dia amanhecer e, naturalmente, 'acordou morto'. Hipotermia. Quem conhece minimamente Paris, ali pelos lados da Praça da República e do Marais, sabe que nesse horário, o trottoir é imenso e variado rumo ao bairro judeu, para comer o melhor Falafel com beringela da cidade e que sob as marquises, clochards do mundo inteiro, como lobos famintos, uns deitados, outros de joelhos e outros em posição de ataque, espreitam, por alguma sobra. Mas ninguém viu nada! Um a mais caído naquela hora, quem daria importância? Quem é que adivinharia que se tratava do grande René Robert e não de + um pobre fodido, chegado dois dias antes de Tanger, da Síria ou do Afeganistão? Quem é que, sem ver a câmera fotográfica, iria adivinhar que aquele velho era o René Robert, o cara fascinado por bailados e por castanholas... que, por ironia, por causa de um paralelepípedo ausente, ele próprio havia dançado? Estendido na calçada e sentindo as artérias se petrificando deveria resmungar: será que não aparece nenhum filho da puta para me ajudar? Cadê o pessoal do Maio de 68? A trupe do Sartre? Cadê o pessoal da Liberté, Fraternité e Igualité? E o Corcunda de Notre Dame? Para onde foram os apóstolos da Comuna de Paris? E o ilusionista Allan Kardec? De que serviu sacralizar o marginal Rimbaud e derrubar os paredões da Bastille? Morreu desesperado, blasfemando e resmungando como todos os moribundos...
Atenção! - digo para mim mesmo - como somos uma legião de porra-loucas indiferentes, e o humanismo é uma ficção, não esqueça: depois dos 80 se entra desarmado, de peito aberto e de forma compulsória na faixa de Gaza! Esse terreno minado onde o conflito com a força da gravidade se agrava e onde a falta de um paralelepípedo qualquer, ou até o farfalhar de asas de um pássaro noturno, podem decretar o nosso derradeiro encontro com o juízo final. O último click.
Da janela de uma casa de queijos ainda do tempo de Marat, com todas as cortinas vermelhas puxadas, se ouvia distante, fugidia e fugazmente Edith Piaf tagarelando La vie en rose. Sim, a mesma Edith, filha de um acrobata de rua e de uma gerente de bordel que chegou a cantar até para as tropas, nos tempos da ocupação de Paris.
Albert Bégue
Enfim, como sabemos que o moralismo, seja de direita ou de esquerda, de prostitutas ou de santas, é sempre iatrogenico e tem sempre a mesma toxidez, que se deixe os menininhos e as menininhas (assim como aos ilustres e velhos ministros) brincarem com seus míseros & efêmeros brinquedos da maneira que quiserem e que bem entenderem, e que a JUSTIÇA, com seu exército de velhos promotores, de velhos juízes e de velhos aspones, que faturam 30 mil dólares por mês, ao invés de seguirem se embriagando e nos ludibriando com bagatelas, que se esforcem para esvaziar os presídios e não o contrário, porquê, apesar da pantomima beata e maligna do cotidiano, sobre sexo e dinheiro ninguém diz a verdade.