quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Um dia, que provavelmente não ficará na história... (Tú compras el carmim y el pote de rubor que tiembla en tua mejillas...)



"Os que parecem estúpidos o são; acrescente-se a esses 
a metade dos que não o parecem..."(De Quevedo)


Hoje o surrealismo político e social foi demais! É necessário estar tomado por um grau considerável de alienação e de burrice para não cair em desespero... 

Atiçados pelo Bolsonaro, autoridades que ninguém nem sequer havia ouvido falar vieram a público para contracenar com os últimos acontecimentos; dizer alguma coisa sobre as loucuras dos últimos dias e para, malandramente, turvar as águas para dar a seus pares a impressão de profundidade. Discursos acadêmicos e no estilo morde assopra das serpentes; considerações de confessionário; aconselhamentos paternalistas; ameaças de impeachment, de cadeia e de condenação eterna... tudo cheirando a Padre Viera... O próprio Bolsonaro, ciceroneado pelo Presidente que o antecedeu, (mais especializado em vaselina) publicou uma carta de desculpas e de esclarecimentos à nação, dizendo, na essência, que os acontecimentos da semana e do dia 7 de setembro foram pequenos surtos, apenas ensaios tresloucados de duvidosa idoneidade e que estava pronto para reconciliar-se com seus desafetos do STF, com a pátria e até com a China se fosse para o bem da nação. Mas sempre com Deus sobre tudo e todos! Foi um auê...

Por todos os lados os lacanianos mais sectários veriam importantes 'signos linguisticos'... Lupemproletariado? Lupencampesinato? Ou Lupencaminhonaço? Um manifestante de uns 60 anos, sentado à sombra, de mão dada com uma mulher meia transtornada, com cara de quem não trepa há uns três anos, ouve de uma pequena radiola movida a pilhas a música Maquillaje, do Piazzolla, enquanto cantarola melancolicamente este refrão: "tú compras el carmín y el pote de rubor que tiembla en tus mejillas... y ojeras con verdín para llenar de amor tu máscara de arcilla..."

O pessoal da esquerda com seu modo amnésico & mágico de pensar, com contrações estranhas e sinais convulsivos começa a rosnar: "Lula lá... Lula lá!, enquanto um francesinho meio afrescalhado dizia para um nativo: este é nosso cri de coeur! (inicialmente traduzi cri por grito. Depois fui ver que era choro. Ah!, quando é que se ressuscitará o esperanto?) Já, os caminhoneiros, que vieram engambelados à Brasília para apoiá-lo e que ainda estão ali na esplanada, dormindo na cabine de caminhões ou na poeira dos gramados, estão confusos. Ainda não haviam ouvido dizer que Brasília é uma espécie de 'sociedade etérea'; de autorama stalinista e nem que isto aqui não é para amadores... A frustração é visível. Vieram preparados para uma espécie de Guerra Santa e agora, de um momento para outro, percebem o Capitão esbanjando Paz & Amor e capitulando... O que teria acontecido? Estaria realmente recuando, ou seria a tática leninista do "passo para trás? E pior: quando ainda estavam digerindo a noticia da capitulação do líder e ouvindo uma mensagem brochante do Zé Trovão, tiveram que explicar-se ao pelotão de choque da policia militar do DF que apareceu (sem mandato judicial) para retirá-los dos acampamentos. O papo entre os líderes do movimento, a policia e o advogado que os defendia - acreditem - foi um papo prosaico e de outro mundo. A discussão maior aconteceu ao redor da barraca que durante todos esses dias preparava e servia comida ao grupo, motivo que muitos deles iam e vinham, discutiam e esbravejavam com arroz carreteiro em pratos de papel e talheres de plástico nas mãos... Mas o momento mais transcendente e surrealista de tudo foi quando deparei-me com um padre, ainda jovem, com um barrete vermelho na cabeça (tipo o do Che Guevara), para proteger os miolos do sol de deserto, que circulava no meio da balburdia e da fumaça, entre os manifestantes e os policiais, dando-lhes amorosamente na boca a hóstia sagrada... Sem nenhum exagero, tive momentaneamente a sensação de ter enlouquecido... Mas eis que, por sorte, alguém pisou com tanta determinação na buzina de um daqueles caminhões que fez tremer a folhagem das sucupiras... e que me trouxe de volta para a realidade... Bazzo, bem vindo, de volta para o inferno!

















2 comentários:

  1. Bazzo, agora creo entendo porque você vive nesse cidade ahhahahahahahahaha

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  2. Na verdade eu realmente não entendo!!! Como uma pessoa lúcida como você pode ter um imóvel aqui?? É quanto à frase..."pensei ter enlouquecido" acredito e morri de rir kkkk
    Realmente hostia foi foda!!!!

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