terça-feira, 21 de setembro de 2021

76a Reunião da ONU - Bolsonaro em New York, lembra o Kadafi de 2010... (E a pantomima se eterniza...)




"Os políticos fazem política tal como as cortesãs fazem amor: por profissão..." (Tournier).



Os adversários do Bolsonaro estão babando e fazendo festa com o "papelão" e com o 'comportamento exótico' dele lá em Nova Iorque, cercado por puxa-sacos, comendo pizza na calçada e etc. Ele, chefe de Estado, que daqui a pouco abrirá a Septuagésima Sexta Reunião da Assembléia geral da ONU!!!  - Reclamam risonhos e malignamente com as mãos nos cabelos - . 

Já, para seus seguidores, meio obnubilados, trata-se apenas de uma demonstração de simplicidade evangelica, de jesuitismo e até de humanismo.., e que ninguém estranhe - alertam - se o virem jantando no Cáritas do Harlem... um gesto programado para fazer um contraponto com a arrogância dos outros políticos/mercadores que estão lá, com frases & honras alheias, tentando dar continuidade ao teatro de civilidade...

Esse 'espontaneísmo' do Bolsonaro, além de inquietar, está fazendo muita gente lembrar-se do Muammar Kadafi, aquele líder líbio que em 2010, na abertura dessa mesma Reunião, para escândalo geral e para insegurança de seus hospedadores e anfitriões, preferiu pernoitar em sua própria tenda beduína, armada nos arredores do local onde iria transcorrer o evento. O  lero-lero  não foi pouco, mas ele já o havia promovido também em Roma, em 2009, quando foi encontrar-se com Berlusconi e em Paris, em 2007, quando armou sua tenda nos jardins do Palácio Eliseu.

Não se sabe se sua intenção, era apenas amenizar alguma nostalgia pelos desertos de onde provinha, ou se estava querendo insinuar que  tais encontros não passavam de um circo. O que se sabe é que uns anos depois alguém, de um avião de guerra, lançou sobre ele dois ou três mísseis fatais...

Política? Mussolini, numa carta a seu filho Vittório, assim a definia: "A arte bárbara de fazer vítimas ilustres..."

Enfim, está todo mundo curioso para ouvir o que o Bolsonaro dirá em seu discurso e para assistir ao desenlace final de mais esse ato... Todos os anos, nesta data, para instigar os 'revolucionários' de plantão, gosto de relembrar que o discurso mais expressivo e eloquente que se fez na abertura daquela Assembléia, por um Presidente brasileiro, foi o do Sarney, (autor do livro Marimbondos de fogo) em 1989. Nem M. Stirner se atreveria a tanto. Vejam:

1. "O mundo não pode ter paz enquanto existir uma boca faminta em qualquer lugar da terra, uma criança morrendo sem leite, um ser humano agonizando pela falta de pão. O século que virá será o século da socialização dos alimentos. A imagem da Mater Dolorosa dos desertos africanos nos humilha.

2.  Mas há um problema maior, que permeia as relações internacionais e que insidiosamente ameaça a todos, pobres e ricos. Os pobres pela desestabilização; os ricos pela insegurança e todos pelo desmoronamento, se nossa postura for de imobilidade...

3. Guerra e democracia, guerra e liberdade são termos incompatíveis. Clausewitz assinalou que só não existiria guerra quando existissem estados soberanos. Da mesma forma podemos afirmar que prevalecem as soluções pacíficas e consensuais quando existem nações livres e democraticamente desenvolvidas, instituições permanentes, poderes funcionando, povo decidido.

4. A paz de hoje ainda não é paz, é a dissimulação da guerra.

5. Depois da prosperidade, quando veio a recessão, passou a reinar mais a selva predatória de Hobbes do que a fecunda anarquia de Adam Smith.

6. A ciência e a técnica estão aí, através da engenharia genética, anunciando uma nova era de abundância. A humanidade foi capaz de romper as barreiras da terra e partir para as estrelas longínquas , não pose ser incapaz de extirpar a fome.

7. A equatização de oportunidades é o alimento da liberdade social, para que o mercado sirva aos homens em vez dos homens serem servos do mercado. Sem diversidade de valores e múltiplas formas de vida não viceja a liberdade, que se estiola no privilégio e se afoga na opressão.

8. Essa visão estreita esquece estarmos tratando de populações que têm direito a um padrão sério de sobrevivência e de países com legitimas aspirações nacionais.

9. Não seremos prisioneiros de grandes potências  nem escravos de pequenos conflitos.

10. Mais do que as hecatombes dos conflitos mundiais, mais do que o confronto estéril da guerra fria, a descolonização ficará como a grande contribuição do século XX à história da humanidade. 

11. Tenhamos a coragem de proclamar: Liberdade e Paz são o fim da miséria e da fome". 

(parole... parole... parole... E agora vemos que não foi por acaso que Platão excluiu radicalmente os poetas e os advogados de sua República...)


 




Nenhum comentário:

Postar um comentário