Ele, que sempre procurou demonstrar senão a farsa, pelo menos a repressão e o moralismo cretino/ psicopatológico que quase sempre há nesses casos, recusou o cardápio que o garçom submissamente lhe oferecia e leu-me a matéria, em voz baixa. Ao finalizar a leitura, deu indignado, um soco na mesa. E perguntou para si mesmo: O que está acontecendo com a vulva? O que essas freirinhas idiotas foram fazer no Japão? Brincar de origami? Comprar uma coleção de kokeshi? Ver outros idiotas pulando obstáculos? Se jogando de cabeça na água como antas? Jogar Ping-pong? Comer peixe cru? Correr como dementes atrás de uma bola feita de couro de vaca e cheia de ar? Aplaudir quatro ou cinco anoréxicas que rodopiam no ar como dervixes da Capadócia? Dispostas a se vingarem de algum colega babaca e excitado? Será que essas mocinhas sul americanas nunca viram a versão japonesa do KamaSutra indiano? E será que não sabiam que meia garrafa de saquê sorvida entre quatro paredes e em tacinhas de cristal e jade produzidas por virgens de Osaka, ressuscita os chakras mais diabólicos e promove uma ereção vigorosa até num samurai de 120 anos? Quê pequenez a dessas moças! Duvido que minha bisavó se propusesse a uma ninharia dessas... E agora, quem poderá trazê-las de volta para o mundo da sanidade?
Todos que o ouviam, inclusive as mulheres, pareciam concordar com ele, mas, sabendo que há escritórios da inquisição montados em cada esquina, ninguém ousou manifestar-se. O garçom, por conta própria lhe serviu meio copo de café preto e sem açúcar enquanto ele tirava de uma bolsa de plástico quatro livros que jogou com indignação sobre a mesa. Tratava-se do livro de Georges Devereux: BAUBO - LA VULVA MITICA; LA CRISIS DE LA HETEROSEXUALIDAD, de Òscar Guasch; LISÍSTRATA, de Aristófanes e O CADERNO ROSA DE LORI LAMBY, da velha Hilda Hilst.
Na esquina, uma marcha tipo aquelas da Idade Média, - com mulheres vestidas de preto, com velas, véus e meias também pretas, com os montículos das nádegas, das tetas e do púbis disfarçados, batendo tambores e dando Graças -, gritavam impropérios contra os africanos da Costa do Marfim que, bem mais machos, decentes e honrados do que nós, estão tocando fogo nas igrejas do Reino de Deus, gerenciadas por bispos brasileiros... Ah! que miséria! O que teria acontecido com essas excêntricas & loucas? Duvido que alguém, por mais sábio que seja, consiga trazê-las de volta para o reino da sanidade???
https://www.infobae.com/sociedad/2020/02/07/revelaron-fotos-ineditas-del-fusilamiento-de-severino-di-giovanni-el-anarquista-que-se-enfrento-a-alvear-yrigoyen-y-uriburu/
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