sábado, 3 de julho de 2021

Do Surrealismo, sutilmente ao Dadaísmo...

"Não parou de olhá-la como um monge contempla o santuário de Nossa Senhora ou um cliente assiste a um Strip-tease..."

Budd Schulberg


 Neste sábado a cidade parece ter acordado mais excitada do que outros dias. Nos botecos não se fala em outra coisa além da acusação de prevaricação contra o Presidente Bolsonaro (muitos ainda confundem prevaricação com fornicação) e da declaração do Governador do Rio Grande do Sul sobre sua sexualidade. Quem é que estaria verdadeiramente interessado em saber as posições e o que o ilustre mocinho gosta de fazer na alcova? Mas até as raposas mais antigas e enferrujadas da república, que ninguém mais sabia que existiam, vieram a publico para, reverente e eleitoralmente, elogiar "a coragem do governador". Muitas mães parecem rejuvenescer... Contracultura? Mas já estamos em 2021! Os anos 60 já passaram. E depois, os gregos, com suas frescuras peripatéticas, entre um moussaka e outro já costumavam vasculhar o Olimpo muito antes de Alice saltitar por aí pelo país das maravilhas! É bom ficar atentos: pois o que parece um 'ato revolucionário' pode ser apenas a roda da história girando reacionaria e cruminosamente para trás... Tristes, pueris e melancólicos trópicos! Já, os gays panfletários de esquerda que estão sendo acusados até de "gigolôs da viadagem", pelo fato de outrora o ilustre declarante ter apoiado a Bolsonaro parecem não estar digerindo muito bem essa pantomima... Como ser gay e bolsonarista ao mesmo tempo? Mudou de lado? 

Guerra intra-grupos. Confusão de idiomas! Seria um infiltrado? Alguém da Quinta Coluna? Silêncio voraz! E ninguém menciona os horrores dos Gulags de Stálin e nem da Gestapo de Hitler... Ideologias enlatadas... Luta de classes! Não duvide: a próxima guerra civil será entre esfíncteres e entre gêneros... E os papos são os mais curiosos e transcendentes possíveis. Desde o garçom que, justificando a preferência do governador, cita a Stekel, dizendo que até o terceiro mês o feto humano é indiferenciado (nem menino nem menina); até a mulher de um mendigo que dizendo ser lacaniana, insistia malignamente em querer saber se o governador é de Pelotas, ela que, com ares de professora, mergulhava analiticamente em duas particularidades sobre ele: seu sobrenome (leite) e o fato dele ter se apaixonado logo por um pediatra... 

Duas mulheres, daquelas beldades que não duram mais do que quatro ou cinco anos, entram ansiosas no ambiente com gestos caseiros e farejando assediadores. O que me faz pensar num congresso anarquista em Montreal onde um grupo de mulheres (com um orgulho semelhante ao do governador), nos olhavam nos olhos de forma implacável, quase delirante, e declaravam: j'ai un clitoris! Eu tenho um clitóris! (???) Ao que os anarquistas mais fanáticos, um pouco intimidados, resmungavam: Pensávamos que tivesse um cérebro!

Um bêbado que estava por lá já naquela hora, meio de saco cheio, querendo passar um apagador sobre discussão quase insana, bradava: chega de babaquice! Prevaricação não é a mesma coisa que fornicação, e estamos na pós-modernidade... Ou não?

Da rua começavam a chegar os gritos de uma manifestação com bandeiras vermelhas, comandada pelo Partido da Causa Operária, pedindo vacinas e o fim do governo Bolsonaro. Os mendigos fingiam ler as faixas e os slogans e depois bocejavam...

O sol de inverno ia enchendo o país de vitamina D, enquanto, na maior alienação, engambelados e trapaceados por ficções e neuroses infantis, vamos passando sutilmente do Surrealismo para o Dadaísmo...





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