E seguiam falando e caminhando, ora para um lado, ora para outro, ora para o norte, depois faziam um desvio para o leste, até que pararam diante de uma que estava num lugar privilegiado, mas sem rosa nenhuma. Esta, - ouvi que a senhora lhe dizia - é minha preferida. Ela é a típica Rosa de Angelus Silesius.
Rosa de Angelus Silesius? Repetiu o Mendigo, deixando claro que não tinha a mínima ideia do que aquilo queria dizer.
Ela fingiu não escutá-lo, continuou examinando as raízes e retirando umas folhas amareladas de sua preferida para, depois de um longo silêncio, explicar-lhe: Angelus Silesius foi um padre e médico alemão a quem se atribui esta frase: A rosa é sem por quê. Floresce porque floresce, não se auto-contempla nem pergunta se alguém a vê..."
Ele fingiu entender, mas era puro fingimento.
Ela, não satisfeita, tomou-o pelo braço e sugeriu que ele lesse O peregrino querubínico, do mesmo Angelus, ou então, que visse a tese de Cleide Oliveira, titulada: Por um Deus que seja noite, abismo e deserto...
E prosseguiram a caminhada...
Ao passar em frente ao Ministério da Educação se depararam com um grupo que gritava contra o Ministro de plantão, acusando-o de homofobia. Homofobia? De novo? Novamente?
Ela resmungou: preste atenção: se os homossexuais não passarem a ter com urgência um ombudsman que controle e regule seus ímpetos febris/paranoides de tiranias, ao invés de estarem construindo sua liberdade estarão indo, voluntariamente, ou iludidos por juízes e por outros picaretas vingativos, para um gueto odioso. Lembra de Cioran, do velhinho romeno que afirmava: "Os grandes déspotas, perseguidores e patrulhadores são sempre recrutados entre os mártires, entre àqueles a quem não se cortou a cabeça...?" Ele a olha e ouve com atenção e pensa: 'é por isso que Santa Teresa de Jesus é irmã póstuma de Safo e que Santo Antonio (o eremita), é um antecessor do marques de Sade...'
Seguiram a caminhada em direção à rodoviária. Ao chegar lá, se viram envolvidos por uma manifestação que gritava basicamente por Liberdade. Liberdade! Queremos liberdade! Gritava num megafone, uma menina querida e simpática mas que ainda nem devia saber que tinha um clitóris.
Ela colocou-lhe o braço no ombro e disse: Observe.., veja como a liberdade tornou-se um imperativo categórico, um fetiche. Essa obsessão por liberdade é mais ou menos como querer instituir um décimo-primeiro mandamento. Lembra do Braudillard? "Com a liberdade, a origem de todos os mandamentos é interiorizada, o que significará a infelicidade absoluta, porque então passaremos a nos sentir responsáveis por tudo..."
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