Eu, que até ontem estava verdadeiramente preocupado com a possibilidade de, quando a pandemia passar, não existir mais o café onde costumava ir devorar um alfajor chileno com um express, fiquei até envergonhado com minha pequenez ao ler que daqui a 1 milhão de anos a terra inteira, com todas suas futricas e bobagens, terá sido tragada pelo sol. Caralho! E minha câmera fotográfica? E meu passaporte? E o estojo de meu violino, comprado de um sapateiro em Beijing? E minha Obra Completa de Vargas Vila e de Borges? E nossas cinzas?
Será uma pena não poder relatar para alguém o princípio e a apoteose dessa louca e demente aventura...
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A propósito: Por falar em sol, a umidade de hoje aqui na capital da república ficará abaixo de 10. Como os deuses não estão conseguindo exterminar a espécie através do vírus, parece que estão tentando através da baixa umidade. Eles, que segundo as lendas, precisam tanto do amor dos rebanhos, não parecem dispostos a nenhuma reciprocidade... De quem teriam herdado esse instinto vingativo?
Enfrentando o Fim
ResponderExcluirO Fim é amanhã, depois de uma devastadora guerra nuclear? Ou seria o Fim dos Tempos semana que vem, depois do impacto em cheio contra Terra de um meteorito de 100 km? Ou será dentro de mil anos, quando estiver exaurida a Terra de seus recursos, pela tentativa do mundo em atingir um padrão norte americano de consumo? Quem sabe bem antes, pelo aumento explosivo da temperatura média do planeta, onde poucos graus bastam para iniciar uma catástrofe humanitária?
Como tudo no universo, nosso estado de coisas acabará um dia, por modificar-se, atendendo aos ditames da "moda" energético-material do momento e retornado todos os átomos que nos compõem a seu velho e simples estado mineral. Como toda matéria e evento que existe, somos passageiros" (Neste caso, mesmo o cobrador e o motorneiro!)
Viraremos depois o quê? Uma sopa de Quarks, rodeada de elétrons inertes e sem movimento? Ou alguma espécie de raio veloz a cruzar a galáxia na velocidade da luz? Não faz diferença! O que importa é que ACABAREMOS, inexoravelmente, todos e cada um; todas as espécies e todas as coisas vivas que conhecemos ou venham a viver sobre a Terra. O Fim, não é uma hipótese, é a mais perfeita das certezas cósmicas. O Apocalipse é o destino de todos os seres deste planeta.
Como o enfrentaremos? Como nos prepararemos? Como o aceitaremos? Como o postergaremos, se pudermos? São questões que já desafiam e desafiarão as gerações vindouras por muito tempo.
O fim é algo importante para nós? A resposta é que não só é importante, como é FUNDAMENTAL! E porque seria algo importante? Porque, como seres vivos, mantermo-nos neste estado é nossa "lei maior", nosso impulso mais básico. Nada mais faz mais sentido do que isto. Nada mais faz sentido depois disto - mortos deixamos de fazer sentido ou diferença - acabamos e acaba conosco uma era no planeta - a era dos seres vivos, complexos, civilizados.
Diante desta certeza do Fim dos Tempos, deverá nascer em nós o desespero e o desânimo? Deveríamos parar agora de lutar, já que nossa laboriosa construção está mesmo fadada ao fracasso? Como enfrentar a certeza de que senão nossos filhos, netos ou netos de nossos netos, mas todos seus descendentes um dia desaparecerão, não deixando ninguém em seu lugar?
A resposta está num valor muito grande à vida que nos resta, seja lá de que tamanho for! Podemos nos imaginar como um doente terminal, porém com saúde, destinado a perecer em um ano ou menos, de uma hora para outra, mas gozando de toda a saúde neste entremeio.
Que quereremos então? Quereremos aproveitar cada minuto de nossas vidas! Queremos amar tudo que pudermos amar e o tempo todo. Quereremos fazer tudo que tínhamos medos (bobos) de fazer, quereremos experimentar intensamente a vida que nos resta.
Quereremos explorar todas as possibilidades de realização e prazer que estiverem ao nosso alcance.
Quereremos ir a lugares aonde nunca fomos, comprar coisas que nunca nos permitimos, elogiar pessoas que admiramos, passar horas de mão dadas como nosso afeto, ou meramente conversando enquanto o dia se põe e admirarmos juntos o seu mistério. Quereremos ser felizes agora! Quereremos valorizar cada pequena coisa de nosso cotidiano. Quereremos ajudar, partilhar, estar junto dos outros seres e fazer tudo aquilo que nos faz sentir humanos e bons.
É esta nossa resposta ao duro fim inexorável de nossas vidas! Viver muito, intensamente, para o bem, e para a vida, até o ultimo dia de cada um que de nós restar! Este é talvez o cerne da "Religação Primordial" do homem com a vida e que substitua todas as religiões arcáicas como nós as conhecemos.
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