"...Os olhos dos animais nos falam uma linguagem importante... Eu olho às vezes minha gata no fundo dos olhos..."
Martin Buber
(citado por Derrida, em: O animal que logo sou)
E, acreditem, aquelas vacas, ao entrarem no navio, cada uma com um chip incrustado nas orelhas, olhavam quase em despedida para a multidão, para os fotógrafos e para os câmeras que se posicionavam por lá, como se já intuíssem o destino trágico que as aguardava... Nenhum berro, nenhum desespero, nenhuma queixa... Iam silenciosamente, ruminando algum temor, derrotadas e vencidas, adentrando pelos corredores daquela embarcação da morte, olhando para todos os lados, como nós, quando entramos num trem ou num transatlântico a procura de nossos aposentos...
Um horror! Apesar de todas as justificativas que se conhece, todo mundo sabe que isso é um horror! Uma carnificina interminável... E que ainda haveremos de pagar caro, por essa traição e por essa canalhice... E fica cada dia mais evidente que, como afirmava o filósofo romeno, Adão foi um pobre debutante, que é Cain que permanece nosso mestre, que é ele o verdadeiro ancestral de nossa raça...
Uma criança que estava lá, quase em desespero, assistindo ao embarque de um animal pequeno, simpático, mais para magro do que para gordo, um animal que ela havia visto nascer... em segredo e furtivamente, longe da malícia dos negociantes, trocava um olhar de cumplicidade e de despedida com ele...
Algumas vezes - me dizia um boiadeiro - antes da embarcação partir chamam um padre para dar uma benção ao navio e ao rebanho... Pensei, malignamente, na Arca de Noé e que a tal "benção" seria uma paródia da extrema-unção! Relembrei da frase, indigna para uma divindade que, segundo a Gênesis, Deus teria dito a Noé: "o medo de ti e a reverência por ti estarão presentes em todos os animais da terra... (...) em tuas mãos estão entregues..."
Quê furada!!! Entregou de graça, o ouro aos bandidos...
Fiz questão de assistir a partida do navio. Estava lá, esquiando no meio das ondas, o símbolo mais completo de nossa derrota e de nossa miséria...
Voltei para casa imaginando uma das vacas, naquela Nau Catrineta, já em alto mar, deslumbrada com aquela imensidão misteriosa, resmungando este pensamento de Chateaubriand: "Aquelas vacas que nunca navegaram têm dificuldade para entender os sentimentos que se experimenta quando, do convés do navio, já não se vê mais do que a face austera do abismo..."
https://www.youtube.com/watch?v=0e2K2KXemi8
ResponderExcluirNossa espécie pratica um verdadeiro holocausto animal.
ResponderExcluirPros com estômago (e coragem) o filme a "carne é fraca" está no youtube
Aplaudo a forma como você expressa sua indignação com este verdadeiro horror! O filme " a carne é fraca" deve ser assistido por todos! Viva o veganismo! Viva a alimentação macrobiótica!
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