quinta-feira, 10 de setembro de 2020

A politica e as tripas... O ventre dos condenados da terra...

"Dis-moi ce que tu manges, je te dirai qui tu es..."

C. Fourier

 



Nesta semana, a pauta de todas as discussões, tanto entre as donas de casa, como entre os pelêgos da esquerda e da direita, entre desempregados, entre aposentados e até entre agiotas... foi o aumento dos preços. 

O arroz! Todo mundo fala escandalizado do preço do arroz, mesmo quando no país só se pensa em produzir soja, para alimentar os porcos e as vacas asiáticas... 

Ah!, o preço do arroz integral! E do salame! Do azeite virgem da Grécia! E do pãozinho francês, que é espanhol! 

Ah! Onde vamos parar! Resmungam as velhinhas, ao redor do fogão! E a carne? E a carne, meu Deus!? A propósito, quem é que não ficou apavorado ao ver aquele exército de famintos saqueando o caminhão frigorifico que tombou na beira da estrada. E... a expressão de felicidade de cada um que saía com um pedaço da carcaça... seu quinhão? Sua cota de gordura e de banha... Somos uns bichos com uma fisiologia parecida à dos cachorros e a dos abutres... fascinados por gorduras! Que precisam ingerir gorduras, banhas, graxas, de preferencia de outros animais... E nem preciso lhes lembrar dos relatos impressionados de Pierre Clastres que ao visitar os índios Guayaki, registrou o gozo daqueles pobres selvículas ao chupar os dedos embebidos na gordura que escorria dos cadáveres humanos que estavam sendo assados...

 E o preço do feijão, meu Deus! O preço do feijão! O fradinho, o preto, o carioca... o feijão de corda! Somos um país adicto ao feijão! Teria algum alucinógeno nessa semente? Sabendo que muitos compatriotas quando vão passar temporadas fora do país chegam a levar pacotes desse alimento na mala, é de se perguntar: teria alguma anfetamina, algum vestígio de clonazepan contido nestes grãos? Será que o feijão causa dependência como o cigarro? Como a maconha? Como o crack? Como o rivotril? E a coisa está tão grave que algumas pessoas estão até pedindo a volta do Sarney ou, pelo menos, o retorno do Fernando Henrique quando comiam frango de manhã, no almoço e na janta... quase de graça... Ou mesmo o regresso do Lula, que prometia, em 4 anos, tornar todas as periferias obesas e diabéticas...

Como Brasília é uma cidade extremamente mística, (no mínimo há umas 300 seitas sobrevivendo por aí, quase todas com subsídios e patrocínio do Estado), estão reaparecendo aqueles sujeitos bizarros que dizem se alimentar só de meditação e de "luz", e também os que acreditam na anedota de Dom Bosco de que aqui por este Planalto Central, um belo dia, haveria de brotar pão-de-ló e filé mignon nos barrancos...

Indiferentes a isso e bem mais pragmáticos, os supermercados (desde os aglomerados monopolistas até os mais chulés) aproveitam para agregar 2 reais aqui, oito reais ali, meio dólar acolá e turbinar as datas de validade dos produtos, além de empurrar todo tipo de merdas e de refugos aos rebanhos atormentados pelo estômago e pelas tripas... Comer!

Uma vergonha e uma indecência! Se a população continuar crescendo e junto com ela, essa doentia voracidade, acabaremos devorando o planeta inteiro, com suas pedras, árvores, garimpos, prédios, carroças, montanhas e tudo...

Envergonhados dessa dependência e dessa espécie de canibalismo crônico, o mundo veio tentando suavizar esse fiasco dietético e gastronômico  através dos jejuns, do vegetarianismo, veganismo, macrobiotismo, herbivorismo... das bariátricas... Inútil. (neste momento, por exemplo, enquanto escrevo estas linhas, já começo a receber ordens de meu estômago para ir até a geladeira)

Haverá coisa mais estúpida do que esta escravidão? Do que ter que comer? E não é uma vez por dia ou por semana!, como anseiam romanticamente os mendigos...  São cinco ou seis vezes por jornada e ainda, com a obrigatoriedade de levar um saquinho de amêndoas chilenas ou uma banana no bolso se não se quer ter um ataque de hipoglicemia no olho da rua e ir direto para o cemitério... Uma vergonha! Uma sacanagem! Um erro primário, grotesco e abominável no processo evolutivo!

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