segunda-feira, 25 de maio de 2020

Várias... Beijar o velho...



1. Curiosamente, a segunda-feira  é o dia mais pesado do confinamento. Será que deveríamos ter tomado algumas lições com os colegas lá da Papuda e do Bangú II. Aliás, os presidiários levam uma vantagem especial sobre nós: podem passar todas as noites arquitetando uma fuga. Enquanto que nós devemos reprimir essa fantasia porque sabemos que fugir é um mau negócio, uma furada, pois podemos, na primeira esquina dar de cara com um inimigo invisível que nos mandará, sem rodeios, para um forno de cremação...

2. Tive paciência de ontem, assistir na íntegra a entrevista que fizeram com o Dr. Teich, ex ministro da Saúde. Quase duas horas. Os repórteres e entrevistadores (quase só mulheres) iam e vinham por detrás dos bastidores, orientados pelo Redator Chefe, a arrancar do Dr. alguma afirmação polêmica sobre a relação dele com o Bolsonaro. E o Teich, resistia. Insistiram na novela da Cloroquina, depois, do isolamento e distanciamento social e outros detalhes que faziam qualquer expectador perceber que, na verdade, não estavam tão interessados no combate à epidemia, como procuravam demonstrar. E o Dr. (apesar de não ser um burocrata exemplar e de não dominar os truques de comunicação) ia respondendo o que queria e deixando transparecer que, apesar dos cretinos que quiseram destruí-lo, era um sujeito excelente e competente. Enfim, foram duas horas quase inúteis! No final, quem assistia a meu lado aquela fajuta inquisição, resmungou: deu para ver que um Redator Chefe, mesmo por detrás dos bastidores, pode ser mais prejudicial que um vírus!

3. Dediquei o domingo a tarde para a releitura do Dicionário da escravidão negra, no Brasil, do Clóvis Moura. Da página 68, retirei este perverso registro, o verbete, titulado: Beijar o velho. 

[BEIJAR O VELHO  -  Forma extrema de humilhação do escravo, registrada no Rio de Janeiro por C. Schlichthorst, entre os anos de 1824 e 1826. Conforme o viajante registrou: "No tempo do Rei, vivia na Praia Grande, lugarejo do outro lado da baía, um ricaço brasileiro que era um verdadeiro demônio para os escravos. Todas as noites chamava-os e mandava que escolhessem entre 25 açoites ou "beijar o velho", como chamava seu bastão, rematado por uma cabeça bárbara esculpida em madeira. Os que preferiam beijar o velho humildemente se curvavam para ele e levavam terrível bordoada na cara, que lhes fazia o sangue esguichar do nariz. Os outros recebiam, sem piedade, 25 açoites. O cruel senhor não se divertiu por muito tempo dessa maneira. Certa noite, ao regressar do Rio de Janeiro, com sua mulher, numa embarcação, os negros aproveitaram as trevas que enegreciam a baía e o lançaram à água. Antes, porém, maltrataram a mulher de modo bestial, cevando todos nela seus apetites carnais. O marido morreu afogado; mas ela foi salva e, quando o Rei não quis confirmar a sentença de morte pronunciada contra os pretos, pode-se dizer que ela o compeliu a isso, protestando que nenhum monarca do mundo tinha o direito de indultar um crime daquela natureza, sobretudo, cometido por escravos". Cabe analisar sumariamente o texto de Schlichthorst. Em primeiro lugar, não acreditamos que "beijar o velho"fosse apenas beijar o cajado do senhor, pois isto os escravos fariam sem maior constrangimento. Em segundo lugar, não haveria, pelo ato de desobediência, tal rigor na punição a ponto de mandar vergastar os escravos.Parece-nos um caso de sadismo e exibicionismo sexual que a censura institucional da época não permitiu que fosse divulgado. "Beijar o velho" talvez significasse beijar o órgão sexual do senhor, e daí a desobediência e o consequente rigor do castigo. Isso explicaria o ódio dos escravos, de modo a descontar na mulher do senhor a humilhação por que haviam passado ao "beijar o velho"].

4. Nesta segunda-feira, encontrei o Mendigo K, ali nos arredores de uma mesquita. Estava usando máscara e mergulhado em teorias políticas. Passou os quinze minutos  que durou nosso encontro discursando sobre a Teoria da ferradura. Conhece?

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