segunda-feira, 4 de maio de 2020

IV-V-2010 - Várias...



"Edgar Allan Poe foi sempre grande, não somente em seus
 conceitos nobres, mas também como farsante..."
Charles Baudelaire

1. Lá pelas 17:00 horas, momento das torradas com geléia de morangos e banchá, num dos prédios vizinhos alguém improvisava algumas notas de summertime, em uma trompeta. No principio parecia ir tudo bem, até que uma senhora, com um aspecto meio demoníaco, apareceu num outro prédio e gritou para o músico: Por que você não enfia essa trompeta no cu? O silêncio que se seguiu foi aterrador...

2. Só hoje foram três pias repletas! Estou arruinado. Minha solidariedade para com as domésticas e para com as donas de casa cresce vertiginosamente. Já não consigo mais nem ouvir o ruído dos pratos e dos talheres. E a tortilha espanhola que transbordou e que se espalhou pelo fogão? Mas admito que já estou bem melhor do que na primeira semana e que as tampas das panelas estão brilhando... Quando, afinal, chegará o nosso habeas corpus?

3. De dois em dois dias dou uma passada lá por minha casa. Ninguém! A desolação é quase como a do dia seguinte ao diluvio. O prédio parece estar vazio. Abandonado. Os porteiros, assustados e solitários, enfiados em suas cabines e em suas máscaras parecem temer mais a chegada inesperada da síndica do que do corona. Silêncio! Para onde foi nossa suposta valentia e soberania?

3.  Pelo andar das carruagens e pelas últimas noticias sobre a epidemia, a Coisa se prolongará até ninguém sabe quando e nós, que já temos 70 anos, nos fodemos. Nós que pensávamos em fazer  desses últimos tempos um Novo Festin de Esopo, entramos pelo cano e teremos que passá-los sedentários e enjaulados como uns idiotas! Caralho! 
Quem é que, por mais domesticado e passivo que fosse, teria clemência para com o responsável por essa merda?



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EM TEMPO: Uma homenagem a Aldir Blanc


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