sexta-feira, 8 de maio de 2020

E domingo comemoram o dia das mães! Inclusive das de todos esses fdp!

"Toda de preto e envolta numa mantilha negra, lamentava-se sem parar e regava de lágrimas o rosto da filha, cujos olhos entreabertos e a boca - esboçavam um sorriso longínquo e triste como se viesse do fundo do tempo. E vinha..."
Pedro Nava


08 de maio. O dia amanheceu quase como uma manhã de Chernobyl. Cinza, vazio, deserto. Um ou outro sujeito mascarado indo em ziguezague pelas veredas urbanas e apocalípticas. Quase 40 dias de exílio.Trancados em casa, as janelas semi-abertas, as cortinas puxadas, assistindo os horrores de uma sociedade transtornada e mutilada. Quem é que consegue trepar no meio de um inferno desses? (penso em Churchill: ao perceber que estas no meio do inferno, siga em frente!) E comendo, comendo, comendo... deitados de costas e olhando para a lâmpada em forma de gota. Se as coisas continuarem assim, até dezembro ou até o ano que vem, como os "sábios" estão dizendo, quem teve a sorte de não precisar entrar na fila para respiradores poderá ter que entrar na fila para uma bariátrica ou para uma ponte de safena...
Encontrei o mendigo K nos arredores do Palácio do governo. Estava entusiasmado, já nas últimas páginas do livro de Memórias/3, do Pedro Nava. Não há escritor melhor do que este! dizia sem pestanejar. Sobre a gripe espanhola de 1919, descrita pelo autor, neste livro - continuou - de lá para cá, e já se passaram 100 anos, não mudou quase nada. Porra nenhuma! A sociedade, a medicina, os especialistas em vírus, as funerárias, a fome, o horror, a beataria, o fracasso, tudo é  agora, no auge do Coronavírus, como foi lá, no auge da Gripe espanhola. E, repito, faz um século! 100 anos! Avançamos em quê? Até o vírus, que hibernou durante um século, parece estar decepcionado. Cem anos depois para encontrar tudo do mesmo jeito, tudo na mesma merda!  Que porra de gente é essa? Teria havido, nesse tempo, um lockdown no progresso e no afeto?
Não acredita, Bazzo? Leia Pedro Nava. Leia os jornais da época. E compare. A única diferença daqueles dias  com os de agora, é que lá havia Jacás de galinha! Coisa que não vejo ninguém mencionar agora. Fizeram de tudo, tão amadoristicamente como agora. Até o Quinino foi usado em larga escala. Essência de canela; conhaque; cristel de café; Oleo canforado e o Electrargol. Sim, Quinino, Óleo canforado, magnésia fluída acompanhada de dieta absoluta. Codeí
na; Terpina; Benzoato de Sódio; um tal Pó de Dower; Poção alcoólica de Todd. Tudo inútil.  A epidemia ria de tudo isso e seguia fulminando quem bem entendesse. E só foi embora quando bem quis, deixando as cidades mergulhadas em desespero, e em pânico no meio de seus cadáveres.
Fez um breve silêncio enquanto folheava o livro em busca do capítulo onde o Nava tratava especificamente desse assunto, e prosseguiu:
Fico furioso quando vejo o vai-e-vem nos hospitais e nos cemitérios. As pessoas gritando por um respirador, por uma UTI ou por uma cova. Caralho! E tudo isso, enquanto os governantes atuais e de outrora, do sarney para cá (para ser modesto), condenaram toda essa gente a esse horror. Furioso com as trinta ou quarenta famílias, em cada uma dessas cidades e Estados que surrupiaram, durante décadas, todo o dinheiro  destinado a hospitais, UTIS, cemitérios... Furioso, quando vejo o populacho implorando por um pouco de oxigênio e essa turma não sabendo nem mais onde esconder seus relógios cravejados de esmeraldas, suas barras de ouro, os pacotes de escrituras de latifúndios, de garimpos, de edifícios urbanos... tudo adquirido com dinheiro roubado, indiretamente dessa pobre gente que agora implora miseravelmente por seus sete palmos e meio de terra e por um abominável caixão. 
Hienas miseráveis! 
Aves de rapina insaciáveis!
faz outro silêncio e mostra-me uma frase na página 302: "Politica antiga da velha e prostituidora Minas".
E continua:  Me diga, por que não convocar os últimos 10 presidentes da República, acompanhados por seus Ministros da saúde, para um tribunal popular? Bem ali na Praça dos Três Poderes?  
Justifiquem-se, canalhada! 
E a cada mentira, uma chicotada dada pelos parentes dos mortos A lista dos cadáveres.  O nome de 80% dos municípios que não têm UTI. E a cada demagogia, um chute no estômago e alguém que lhes gritasse: turma de filhos de putas!
Fez outro silêncio, agora bem mais longo, para em seguida concluir: como escreve Pedro Nava, aqui na página 303 "Muitas vezes se diz que um político é limpo porque nunca roubou. Entretanto, como as demivierges (quando as havia), fez todas as concessões - menos, por dentro. Nesse caso ele é limpo. É. Uma latrina também pode ser limpa sem deixar de ser latrina..."
Bazzo, quando vejo essa sucessão interminável de cadáveres sendo colocados em covas coletivas, fico imaginando a última impressão que esses mortos levaram deste mundo fdp? Dessas oligarquias de bandidos! Dessa sociedade canalha, dessa putaria monetária sem sentido, incompetente, e maligna.
Duvido que se lhes fosse dada a possibilidade de voltar, aceitariam...
Já ia se retirando, mas voltou para mostrar-me, na mesma página 302 esta citação  que Pedro Nava faz de Louis Pauwlels: "prévoyait que la prochaine lutte de classes se ferait moins contre les riches que contre les capables".

Nenhum comentário:

Postar um comentário