Acabo de cruzar com o mendigo K. e sua nova companheira.
Estavam nos fundos de um mercado chamado Velha Adega. Ele com uma garrafa de absinto, já pela metade, e ela com uma lata de biscoitos produzidos em Zurick. Ele havia deixado crescer desordenadamente a barba o que lhe dava um aspecto de militante do Estado Islâmico. E ela, mais ou menos deprimida, levava um lenço amarrado à cabeça e fazia de tudo para ocultar qualquer vestígio de delicadeza. Quando lhes disse que pareciam dois guerrilheiros do deserto ela me contestou dizendo que num poema das mulheres talibã havia uma parte onde elas imploravam para que, numa eventual reencarnação, ao invés de mulheres, preferiam vir ao mundo como pedras.
Ele deu mais um trago em seu absinto, olhou-a com uma certa compaixão, tomou-a pelo braço e seguiram em direção à Feira do Paraguay.
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