quarta-feira, 31 de julho de 2019

Os degolados de Altamira, Saramago e o Mendigo K...


Nesta quarta-feira deparei-me com o Mendigo K em frente a uma das famosas Escolas Parque, idealizadas pelos porra-loucas que construíram Brasília. As crianças gritavam lá no interior dos muros e junto às grades cercadas por  quatro ou cinco "tias" que faziam de tudo para demonstrar alguma intimidade com os velhos pedagogos, de preferência com os de Summerhill. Quando a sirene tocou e todos correram para colocar-se em fila como cachorrinhos adestrados ele, fazendo um gancho com a porra
louquice nacional, resmungou: Bazzo, você consegue ver nisso aí alguma diferença dos presídios?
Ficamos ali observando aqueles pequenos alunos enquanto ele me falava: Lembra do escritor português que escreveu o Cerco de Lisboa? Como sabe que eu não engulo a literatura de Saramago, nem pronunciou seu nome. Retirou do bolso da camisa um recorte de jornal da penitenciária do Pará com dois ou três homens degolados e um papelote de mercado de uns dez centímetros quadrados onde estavam escritas a lápis algumas linhas e me disse:
Veja o que está escrito lá na página 355 no livro do tal Saramago. "Parvo é aquele que entra na jaula do leão para lutar com ele, em vez de cortar-lhe o sustento e sentar-se ao vê-lo morrer..."
Tentei entender o que as mortes de Altamira tinham a ver com o pensamento de Saramago... Não vi nexo nenhum. Ele riu e falou-me em voz mais baixa: Bazzo, somos uma cultura que transita há séculos do sadismo para o masoquismo... e a cadeia altera o DNA de qualquer UM...

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