sexta-feira, 5 de julho de 2019

O jornalista e o assassino...

"Qualquer jornalista que não seja demasiado obtuso ou cheio de si para perceber o que está acontecendo sabe que o que ele faz é moralmente indefensável..."
Janet Malcolm
(IN: no primeiro parágrafo de seu livro: O jornalista e o assassino

O assunto que esta mais presente hoje, não apenas nas redações dos jornais mas mesmo entre os chamados focas, esses novatos que andam por aí com suas cadernetas buscando novidades, entrevistando narcisistas e anotando impressões e pequenos surtos da pachorra social, é a dúvida se a policia e o establishment estatal está investigando  as contas bancárias do jornalista forasteiro do site Intercept. Estão verdadeiramente em frenesi e num surto corporativista de assustar . Como é possível que UM JORNALISTA seja investigado pelo Estado? Pela polícia? Por quem quer que seja? - resmungam no meio de seus estagiários...-
No passado, os pais empurravam seus filhos a estudarem Direito ou Medicina, a ingressarem  num quartel ou a se tornarem padres, basicamente para estarem protegidos, não apenas do Estado, mas de todos os outros bandidos e "perigos" do mundo. De umas décadas para cá, ingressar na carreira de jornalista parece que passou a ter a mesma importância e o mesmo significado. 
Você sabe com quem está falando? 
No passado recente, quem se atrevia a cacarejar uma idiotice destas eram apenas alguns labregos de aldeia, um ou outro advogado, os padres e os militares. Agora, passou a ser comum que um jornalista, na primeira oportunidade, - mesmo que seja de um Pasquim suburbano - se coloque na ponta dos tamancos e exiba o crachá  de uma mídia qualquer. Uma vergonha essa miúda esperteza! Esse delírio! Esse distúrbio de personalidade!
Mas o mais curioso, o mais importante (e até o mais útil) dessa babaquice, é que ela, em termos de psicopatologia de massas, coloca em evidencia os velhos e abomináveis delírios corporativistas e a hipocrisia habitual. Mexeu com um mexeu com todos! Mexeu com uma mexeu com todas! Já que todos estão vinculados a Associações, a Conselhos, a Gangues e a quadrilhas. Faça uma experiência: crie um problema qualquer com um advogado. No outro dia a OAB estará batendo a sua porta para intimidá-lo. Critique um médico: o CRM logo te acionará nos tribunais. Um padeiro: e todas as padarias procurarão envenenar teus biscoitos. Levante alguma dúvida sobre a qualidade de algum produto, os fabricantes logo mobilizarão os piores de seus membros contra ti. Discorde da filosofia do PCC, e eles logo orquestrarão incêndios nos presídios e em tua casa. Duvide da sapiência de um professor, e ele logo mobilizará todos seus colegas para rebaixar tua nota. Reclame de uma senhora qualquer num bordel e elas se juntarão com as de outra casa e com seus gigolôs para interditar-te. Mexeu com uma mexeu com todas! Eis aí o estribilho monocórdio e prosaico dos canalhas! Estribilho sórdido que até hoje vem dando fôlego às corporações, das mais diversas e das mais repugnantes. Corporativismo: vínculo e cumplicidade entre canalhas para protegerem-se mutuamente entre si e dos canalhas das outras corporações. Um show de mediocridade!


O Mendigo K, que expunha o esqueleto ao sol num dos viadutos interditados da rodoviária, comentava, a respeito do tema, com outro mendigo: "Na nossa sociedade o jornalista está no mesmo nível que o filantropo, como alguém que possui algo de extremo valor para dar (a moeda dele é a substância estranhamente intoxicante chamada publicidade), e que, por conseguinte, é tratado com uma deferência bastante fora de proporção com os seus méritos como pessoa..."

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