sexta-feira, 12 de julho de 2019

"Um diplomata só já é risível...diplomata e poeta isto já é demais..." (anônimo)



Realmente, todo mundo esta de acordo: não tem muito sentido o presidente da republica querer colocar seu filho como embaixador do Brasil nos EEUU. 
E não digo isso por moralismo, nem pela balela do nepotismo, mas por que ele, segundo o que sei, não escreve. Não é poeta.
E o que vai ficar fazendo numa representação diplomática quem não sabe fazer poeminhas? E quem não escreve? 
Como é que vai aguentar o confinamento numa embaixada ou num consulado durante um ou dois anos, tomando cafezinho, levando a companheira aos shoppings, aos desfiles de moda, nas soirées e nas tertúlias promovidas pelas castas delicadas e pelos confrades... e, de vez em quando, muito de vez em quando, indo visitar um ou outro brasileiro que quebrou uma perna no metrô ou que foi preso por engano? 
Ou você conhece algum diplomata que não se salvou da depressão e do aburrimento escrevendo poemas?
Pensem em Pablo Neruda. Pensem em Octavio Paz. pensem em Vinicius de Morais. Pensem em Francisco Alvim, no João Cabral de Melo Neto e até mesmo no famoso Guimarães Rosa com seu também famoso Grande Sertão Veredas. 
Parte dos Sertões, com aquela linguagem confusa, quase apoplética, pró-caipira e incompreensível, provavelmente foi escrita lá pelas veredas e corredores aromatizados das embaixadas, com duas ou três secretarias nativas conferindo os extratos bancários, a variação do dólar e indo e vindo servindo brioches e chazinhos afrodisíacos para o chefe e seus lacaios...
Lembro que interrompi definitivamente a leitura da tal obra depois destas três linhas lá da página 437: "A bem é que falo, Riobaldo, não se agaste mais... E o que está demudando, em você, é o cômpito da alma - não é razão de autoridade de chefias..."
Que tal? Entenderam alguma coisa? 
Será por isso que dizem que no perfil de um bom diplomata deve estar sempre contida a capacidade de falar sem dizer nada?

E vejam este outro trechinho, agora do embaixador Neruda:

"e faminto venho e vou farejando o crepúsculo
à tua procura, procurando o teu coração ardente
como um puma na solidão de Quitratue".

Mais esoterismo só na obra de Madame Blawatsky.

E o embaixador Octavio Paz:
Nada soy yo,
cuerpo que flota, luz, oleaje;
todo es del viento
y el viento es aire
siempre de viaje…

O que faz um embaixador afinal?
Resposta: Escreve poesia! Se torna um poeta!
Mas e os grandes negócios?
Resposta: Não existem!
E quando existem, se concretizam no fundo das fábricas entre os envolvidos, quase sempre semi-alfabetizados. A diplomacia é contrária a tudo o que é comércio. Ela só entende mesmo é de vaselina.

Um diplomata só já é risível;
poeta e diplomata, isso é demais!

Fica bem nas fronteiras do incrível:
Vinícius e Cabral não quero mais!

Foi você que pediu Octavio Paz?
Não sei o que ele fez nem o que faz.

Poetas são patetas com plumas
e diplomatas são coisas nenhumas.

Claudel que vá rezar avé marias
e o Perse consertar as avarias

que fez à Resistência no exílio.
Não pensem que esquecemos o Abílio

Guerra Junqueiro, toda uma ameaça:
o Rei a cair morto numa praça!

Poetas diplomatas, vão pastar!
Poetas presidentes?! Nem pensar...

E não julguem que sou qualquer reaça!
Eu sou da nobre estirpe de um talassa...


 (anônimo)


Um comentário:

  1. José Ignacio Martín-Artajo Saracho12 de julho de 2019 às 13:28

    Sou um jovem diplomata de carreira e me salvo da depressão e do aburrimento das repartições lendo, entre outras coisas, o seu blog. No meu período em Brasília sempre tive ganas de te conhecer pessoalmente, talvez travar amizade, mas faltou coragem. Imaginei um possível rechaço justamente por conta do ingrato cargo que me cabe, uma pena. Tentei justificar esse provável desfecho pela especial simpatia sua (nossa) pelo João do Rio e uma presumida antipatia (legítima) pelo Barão do Rio Branco e seus herdeiros por razão da conhecida passagem histórica que uniu os dois. Que ironia, hoje você seria o barão e eu o dandy sendo recusado a fazer parte de sua chancelaria!

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