segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

La puta de las mil noches...


Nunca tive muito interesse por teatro. Por ir ao teatro! A vida para mim já é uma pantomima insuperável... Cada manhã é um novo ATO e os personagens, apesar de mudarem os casacões de pele e as anáguas, são sempre os mesmos... 
No teatro Espanhol que fica ali quase em frente a mais antiga cervejaria alemã da cidade, no meio da noite, vi uma fila atrás de um cartaz que dizia: La puta de las mil noches. Entrei. Foi um show de representação, de recursos, de linguagem, de luzes e de niilismo. Repito: de niilismo!
A ambiguidade absoluta do sexo e do amor posta em cena, os jogos, os truques, as falsidades, e o desespero do casal explorado até o limite. Os aspectos não verbais da sedução! A trajetória da puta e a trajetória do cliente... dois lados de uma mesma moeda falsificada e infame... O desejo e o dinheiro! Sempre o desejo e o dinheiro! Por um lado essa compulsão babaca e interminável por foder e por outro esse papel sujo e quase insignificante mas que compra tudo desde as supostas lágrimas até os supostos orgasmos! No palco a putaria da vida chamuscada por um romantismo, por um moralismo e por uma ética do desespero... 3 ficções de rameiras...
A puta entrou em cena dublando um jazz. A plateia, não muito grande, suspirava. 
De vez em quando, dependendo do texto dos atores ou da posição da atriz, (praticamente desnuda) um ou outro perverso, uma ou outra proxeneta pigarreava ou assoava o nariz lá na primeira fila... 
E na parede de fundo, numa imagem estupenda de NY a neve caia em flocos que pareciam hóstias mutiladas... Foi ali que, depois de uma hora e meia tudo acabou. A puta ia apressada em baixo da neve levando a maleta recheada de dinheiro quando o cliente aparece e lhe dispara um tiro pelas costas. Pelo estampido que chegou a assustar a plateia, o tiro foi de um Colt 45...

Fora do teatro a noite estava ainda mais fria. Fui deslizando junto às paredes em direção ao metrô e resmungando esta frase de Guy Debord: "De todos los acontecimentos en los que participamos, com o sin interés, la búsqueda fragmentaria de una nueva forma de vida es el único aspecto todavia apasionante..."



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