"No fundo, bem lá no fundo, nós somos todos fadistas: do que gostamos mesmo é de vinhaça e viola e bordoada, e viva lá sô compadre“
Eça de Queiroz
(Traçando o perfil dos portugueses)
Há filas para se comer um bolinho de bacalhau com uma taça de vinho Madeira ali na Rua Augusta...
Lisboa se inquieta com o 'ano novo' que chega. Esta programada uma grande festa às margens do Tejo. Mas... por 'medidas de segurança' neste momento a policia esta esvaziando a Praça do Comercio, para uma 'varredura'. Os recentes atentados no Cairo e no Marrocos turbinaram a paranóia por aqui... E há chineses, árabes, italianos, indianos, romenos, e sul americanos aos montes nas ruas. E, claro, muitos mendigos. Todos no seu mesmo território de sempre e com a mesma máscara. Já conheço quase todos ainda de "outros carnavais". Curiosa e tragicamente eles também envelhecem. A senhora cega da flauta, por exemplo, parece outra pessoa, o vazio dos olhos que lhe faltam que registrei há uns três anos parece ter diminuido. E um rosto com dois buracos a menos nem parece um rosto... Muitos ainda estão com seus cachorros. Há um sujeito que se fantasia de indio; outro que lembra o Chaplin; duas ou três ciganas anciãs, um sujeito que parece um padre decaído, um gorducho meio asqueroso e uma senhora simpática abraçada com seu cachorro sem pedigree. Um moço tocando violoncelo; dois italianos num acordeão e uma mulher bem jovem também numa flauta doce... Muitos negros desses que conseguiram sobreviver a travessia do Mediterrâneo e que agora passam os dias vendendo porcarias brilhantes e luminosas trazidas da China; um casal de nórdicos que agitam marionetes e etc.
Quase junto ao Arco que dá entrada à Praça, um senhor já meio gagá ouvia de um aparelho de som a música CAVALEIRO MONGE. Um texto que, todo mundo sabe, é de Fernando Pessoa.... Alguém que nunca vi na vida, com uma serpente tatuada no pescoço passa quase correndo, me bate nas costas e grita: "Feliz ano Novo!" E la nave va...
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