sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Madrid/Mérida... E la nave va...

Cachorros preguiçosos e incomodados que não podem dormir com a frequência dos trens. Fontes com grandes tubulações desativadas. barracões abandonados, imensos outdoors  fazendo publicidade de inseticidas... O trem acelera e balança rumo a Mérida. Placas antigas indicando algum perigo elétrico. Casinhas retangulares de dois pisos iguais as do interior da região moderna da Tailândia, Conteiners repletos de alguma coisa não identificada. Os vagões balançam e os espanhóis falam obsessivamente. Se trepassem com a mesma fúria com que falam a Espanha já teria uma população maior que a da China. Penso nos trens que iam a Auschwitz. O céu esta coberto. Choverá? Até agora nenhuma tribo de ciganos acampada no lado dos trilhos. Para onde teriam ido? Os repatriaram para a Romênia? Ou para a India? Olivais seculares. Cada árvore exibe sua idade no tronco. Uma mulher coberta de preto (de calcetines negros, como diria Francisco Umbral) relata que esteve na Colombia para repatriar o corpo de seu filho morto e que a burocracia foi quase mais terrível que a morte. Mas o fazia com cautela, porque intuía que falar mal da América Latina é indiretamente falar mal de seus antepassados. Um raio de sol se espalha pelos campos exatamente quando passamos pela estação de Talavera de la Reina. Alguém ri  no vagão da frente. Todos passageiros tossem e assoam o nariz em seus lenços de papel que em seguida enfiam no bolso, mesmo repletos de catarro. Que neurose escatológica é essa? Penso na gripe espanhola. Pilhas de "dormentes" de concreto. Um cavalo com cara de paisagem observa o trem que passa. No meio da imensidão uns blocos brancos que lembram algum e melancólico  cemitério agrario. Vacas e ovelhas em circulo ao redor de umas lagoa natural também lembram o Vale do Amanhecer em dias de rituais. Imensas máquinas de ferro desbotado imóveis ao lado de celeiros também imensos, como se hoje fosse domingo. Mas não é. Feriado pré natalino. Apologia da preguiça. Bandos de pequenas aves que fazem piruetas sobre o solo recém arado parecem imitar os gafanhotos que lá nas anedotas bíblicas arruinaram os campos egípcios... Pedras estreitas e pontiagudas que emergem da terra dão a uma colina o mesmo ar sombrio daquele cemitério judeu de Praga... Oropena de Toledo... Mirabel... Cáceres... Mérida...  Por todos os lados alguém batendo palmas e representando a choradeira do flamenco... E la nave va...

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