O futebol: essa opereta para plebeus...

"Estar en el portal de tu casa con solo unos sucios calzoncillos puestos, com las manos así, en jarra, y mirando a poniente, cantando grandes éxitos de la rumba, eso es lo que eres..." 

(In: insultario, p. 29

Os espanhóis que ontem deixaram de ir às touradas esperando assistir a uma guerra campal entre os torcedores argentinos, amanheceram frustrados. No paso nada! Os portenhos vieram e foram embora sem grandes delírios.  

Quem não é aficcionado por futebol até agora não conseguiu entender por quê é que os argentinos (com o país em ruínas e numa merda gigantesca) atravessaram os mares e cruzaram os trópicos para vir disputar uma partida de futebol entre eles, aqui na Espanha. Que carajo! E mais: numa disputa que tem o nome quase infame: Libertadores da América!!! Boca VERSUS River, se não me engano. 

Haverá idiotice e atraso civilizatório  maior? Que diria o Borges ou o Roberto Arlt desses iracundos?

Prudentemente os espanhóis recolheram paus, paralelepípedos,  tacapes e cacos de garrafas que havia por las calles e reservaram a Puerta del sol para um bando e a Praça Cólon para outro... e a monarquia, elegantemente, colocou toda a policia nas ruas para adestrar a turba enquanto os jornais e as televisões não falavam de outra coisa durante o sábado e o domingo... 

Mas tudo não passou de um teatro para a plebe e de uma vil e mais do que vaselina pantomima. 

Uma declaração aqui, um fanático ali, um debilóide acolá, uma megalomania na janela do hotel, uma manifestação histérica no aeroporto, uma depressão súbita na porta do estádio, e uma diarréia no vestuário... E... os gols, claro.

E os gritos, e as lágrimas, e a regressão aos cinco anos de idade... E as imagens dos paus d'água daqui e também dos paus d'água lá de  Buenos Aires chorando agarrados ao obelisco... 

A comunidade argentina que vive aqui na Espanha fazendo bicos ou vendendo empanadas chegou a ensaiar um surto, mas logo caiu na real e voltou à realidade. Porque aqui, jogar uma garrafa numa vitrine ou cagar na rua pode significar o retorno compulsório para a terra natal e, consequentemente, a volta para um mundo perdido entre surrealismos autoritários, tangos e milongas...