quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Os abusos da memória / Je vous salue Mary Elizabeth...



"Sei que acreditam que o ódio se aplaca: 

De nenhuma maneira! O esquecimento não entra em nossos corações"

Paul Déroulède

(citado por Todorov)



Nesta quarta-feira com um clima que lembra as Dunas de Merzouga e com dois funerais de famosos em curso, o Mendigo K apareceu na padaria exibindo o livro Los abusos de la memoria, de Tzvetan Todorov. Chegou logo dramatizando o possível cumprimento de Godard à Rainha Elizabeth, ambos na fila para entrar pelos fundos do paraíso: Je vous salue Mary Elizabeth! E que bom que você não está mais lá, naquele caixão miserável, sendo arrastada de um lado para outro por aquele bando de idiotas...

E em seguida foi destrinchando alguns trechos do livro:

1. "...Os regimes autoritários do século XX revelaram a existência de um perigo que ninguém ainda havia suspeitado: a supressão da memória;

2. O imperador azteca Itzcoatl, no princípio do século XV, havia ordenado a destruição de todas as estrelas e de todos os livros para poder compor a tradição à sua maneira;

3.  Depois de compreender que as conquistas das terras e dos homens passava pela conquista da informação e da comunicação, as tiranias do século XX sistematizaram sua apropriação da memória e aspiraram a controlá-la até em seus rincões mais recônditos;

4.  Se diz que nas ilhas solovetskiye, (campo de trabalho forçado soviético) se acabava a tiros com as gaivotas para que não pudessem levar consigo mensagens dos prisioneiros;

5. Himmler, a propósito da 'solução final', teria dito: "É uma página gloriosa de nossa história que nunca foi escrita o que jamais o será".;

6. Nenhuma instituição superior, dentro do Estado, deveria poder dizer: você não tem direito de buscar por si mesmo a verdade dos fatos, aqueles que não aceitam a versão oficial do passado serão castigados;

7. A memória não é responsável apenas por nossas convicções, mas também por nossos sentimentos...;

8. Separados de nossas tradições, embrutecidos pela exigências de uma sociedade do ócio e desprovidos de curiosidade espiritual, assim como de familiaridade com as grandes obras do passado, estaríamos condenados a festejar alegremente o esquecimento e a contentar-nos com os medíocres prazeres do momento. Em tal caso, a memória estaria ameaçada, não pela supressão de informações, mas por seu excesso. Os estados democráticos conduziriam a população ao mesmo destino dos regimes autoritários, isto é, ao reino da barbarie..."

 



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