"Ter tomado um chá com ela e com seus cachorros foi a coisa mais fantástica de minha vida!"
Justo na hora em que a trupe de radialistas, babando, deu a noticia da morte da rainha, eu relia um pequeno texto de Oscar Wilde, titulado: O benfeitor. Não é grande coisa, mas me parece pertinente reproduzi-lo aqui, nesta oportunidade...
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"O benfeitor entrou numa casa de mármore. Das colunas pendiam festões de flores; fora e no interior, ardiam tochas de cedro. Chegado ao longo salão do festim, ele viu, num leito tingido de púrpura marinha, um homem coroado de rosas, com os lábios rubros de vinho.
- Por que vives assim? - perguntou o benfeitor.
O mancebo voltou-se, reconheceu-o e replicou:
- Eu era o leproso, e vós me curastes. Como hei de viver doutra maneira?
O benfeitor deixou a casa de mármore, saiu à rua. Pouco adiante, cruzou-se com uma mulher maquilada, de roupagem vistosa e pés calçados de pérolas. Atrás dela, caminhava lentamente um rapaz de manto bicolor. O rosto da mulher assemelhava-se ao semblante dum ídolo; os olhos do rapaz brilhavam de desejo.
O benfeitor aproximou-se rapidamente, roçou-lhe a mão e disse:
- Porque olhas assim essa mulher?
O outro se voltou, reconheceu-o.
-Eu era cego, e vós me restituístes a visão. Que mais eu poderia olhar?
Então, precipitando-se a tocar as vestes da mulher, o benfeitor perguntou:
- Não tens outro caminho para percorrer, senão este que é a senda do pecado?
Ela virou-se, reconheceu-o e respondeu:
Vós me perdoastes os pecados, e este caminho é aprazível.
O benfeitor saiu da cidade. Fora dos muros deparou-se-lhe, à beira da estrada, outro rapaz; ele chorava. O benfeitor chegou-se a ele, alisou-lhe as longas madeixas e perguntou:
- Por que choras?
O moço ergueu os olhos. Reconheceu quem o interrogava e respondeu:
- Eu tinha morrido. Vós me ressuscitastes. Que mais hei de fazer, senão chorar?"
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