O Decreto do governo tratando das cavernas e da exploração de 'cavidades', tem causado um verdadeiro frenesi, não só entre os morcegos (que as habitam) e entre os espeleólogos (que vivem delas), mas inclusive entre os apóstolos do inconsciente. A caverna como símbolo! Que, inclusive, nos remete, entre outras aventuras, à caverna do nascimento.... Ao trauma do nascimento e ao grito primal! E, na tentativa de defender a implosão ou a santificação desses buracos naturais, surgem clichês de todos os tipos. Há clichês vindos dos partidos, da academia e da sacristia. Sociológicos; filosóficos; psicológicos; geológicos; teológicos; esotéricos; agrários; românticos e até poéticos... (e de gente que não é aconselhável encontrar sem um revólver no bolso!). Ah, uma caverna! Quantas histórias de amor e quantas contaminações transcorreram no interior dessas cavidades! A beleza das estalactites e o zum zum dos ratos voadores! As inscrições enigmáticas nas paredes! Lembram de Lascaux e de todas aquelas pinturas rupestres? Quantas almas já habitaram por lá? Inclusive i nostri nonni. E para onde foram? E quem é que ainda não passou uma 'lua-de-mel' nas cavernas/hotéis da Capadócia?
Curiosamente, nestes tempos modernos, todo mundo se considera meio obcecado e meio especialista por buracos e em cavidades!
Quando se fala em cavernas, a maioria logo pensa na metáfora platônica. Eu, ao contrário, viajo logo em pensamentos para o Santuário de Bom Jesus da Lapa, (gruta dos milagres) na Bahia, edificado no interior de uma caverna imensa e às margens do Rio São Francisco. Uma maravilha geológica, antropológica e até teológica! Quem não teve chances de, através dos livros e dos barnabés da pedagogia, compreender as bizarrices da Idade Média, passando um final de semana por lá, ficará completamente realizado.
Depois, salto para a caverna de Patmos, onde João teria escrito o apocalipse. E depois, penso na caverna diante da qual ouviu-se o brado de Zaratustra, olhando para o sol: “Grande astro! Que seria da tua felicidade se te faltassem aqueles a quem iluminas? Faz dez anos que te abeiras da minha caverna, e, sem mim, sem a minha águia e a minha serpente, haver-te-ias cansado da tua luz e deste caminho".
O que o conflito com esse Decreto também evidenciou, foi a quantidade desses buracos que existem no Brasil. Dizem que só em Minas Gerais, catalogados, são uns 300, sem falar dos do Piauí, do Ceará e eteceterá. Evidentemente essa descoberta fará os sociólogos, os historiadores, os arqueólogos e até mesmo os astrólogos, reformularem a compreensão que se tem e que se propaga a respeito da trajetória das populações que por aqui floresceram.
Quem foi, afinal, que teria dado o primeiro passo para fora? E de onde nos vem essa nostalgia e essa obsessão em preservá-las? Indicariam alguma novidade sobre nossa ancestralidade? Alguma bobagem de natureza filogenética, ainda não muito bem esclarecida?
Independente do Decreto e da indignação dos espeleólogos, o importante mesmo, é fazer de tudo para transcender as cavernas da ignorância...
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