terça-feira, 25 de janeiro de 2022

A miséria do trabalho!

"Chegamos a tal grau de imbecilidade que o trabalho passa a ser não só honroso, mas até sagrado, não sendo senão uma triste necessidade..." ( Remy de Gourmont)

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Em breve, nos semáforos: VADE MÉCUM DOS VAGABUNDOS.

 



13 comentários:

  1. Sim, VADEMECUM DOS VAGABUNDOS
    Mas não esquecer que o tempo dos 'editores' é outro.
    Abraços/Ezio

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  2. Vou querer ler. Avise quando estiver editado. Abraços

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  3. Nas Memórias, de Ilya Ehrenburg, ele registra que em sua infância e adolescência sempre ouvia de seu pai a frase ameaçadora e inesquecível: Desse jeito, vai acabar sendo sapateiro! Sapateiro? Por coincidência, eu também já havia ouvido uma ameaça semelhante e durante muitos anos fiquei me perguntando o que tinham contra os sapateiros, se até Stálin, o grande Stálin, era filho de um deles? Ou seria exatamente por isso? Uma espécie de fascinio por aquele sanguinário que, nascido na Georgia, tinha um vagão de trem blindado só para si e que derramou um rio de sangue de sua própria gente… aquela gente com um alfabeto tão ou mais estranho que o dos bascos…

    A velha dona da pensão, sempre cheirando a álcool, púdica e queixosamente moralista, além de todas as banalidades cotidianas, estava preocupada também com sua filha mais nova que começava a flertar com facções ativistas no campo da prostituição. Queimava folhas de artemisia e fazia novenas, às vezes, no meio de insultos... Gostavamos dela, como se fosse, digamos, uma avó e madrasta! Sim, durante nove dias, na mesma hora e de joelhos, próxima ao estandarte de um santo qualquer e uma bacia de água benta, pedia aos deuses que tirassem sua filha do caminho do mal e que impedissem que dentro dela germinassem as sementes malignas. Na parede, junto ao saleiro, um pano bordado com uma frase de Gobineau: Na vida, além do amor e do trabalho não há nada…Quando entravamos na sala de jantar, ela nos olhava, como dizia Papini, em seu Gog, com aquele olhar de enfermeira quando recebe um paciente novo. E quando todos já estavamos reunidos ao redor de uma panela de sopa, apontando para aquela frase, gostava de repetir que um antigo morador, numa madrugada de carnaval, ao chegar drogado, rabiscou com a ponta de uma faca, outra frase na parede ao lado, agora de J. Reinard: O medo do tédio é a única razão do trabalho...

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  4. Ocupou-se muito bem durante a pandemia. Ótimo título! Viva a vagabundagem!

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  5. ... (...) Heresias e blasfêmias! Muitas blasfêmias. Em cada esquina o grito ameaçador e imperativo do trabalho. Do emprego, de uma atividade remunerada. A carteira de trabalho. Foi o engendro da Carteira de Trabalho que quase transformou Getulio Vargas num santo. Se não fosse aquele revolver! O contrato trabalhista. A CLT, que funcionava como um ópio para o proletariado (prole?). Os sindicalistas queimavam incenso diariamente a ela… Ah, o salário! O truque era turvar as águas para assim, enganar os trouxas! Se em outras épocas era o sal, salarium argentum, que, não apenas salgava, mas que anestesiava, agora era o dinheiro vivo. Uma papeleta, o contracheque (que alguns idiotas chamam de holerite) que no final do mês mantinha vivas as ilusões e alucinações do rebanho. E a escravidão cotidiana ia pervertendo o caráter dos escravos. Como não podiam enfrentar os patrões, se desvalorizavam e se agrediam entre eles. Buillyng, competição, inveja, traições, mau caratismo, aquilo que Wilhelm Reich chamou de Praga emocional. Era necessário consumir. Viver para trabalhar mais do que trabalhar para viver. Um ato de fé. No fundo de todas as consciencias pisoteadas havia resquícios da crença de que era necessário trabalhar para concluir a obra divina. O desempregado, pela razão que fosse, era visto mais ou menos como um agente demoníaco, um sabotador do grande projeto do Éden Terrestre. Entre os mais fanáticos, até mesmo como um anti-Cristo. E não só pelas seitas esotéricas, mas também pelas seitas políticas. Os fascistas e os socialistas tinham a mesma fé no trabalho! No trabalho como benção! Onde o desempregado era quase um parasita que estava pagando por algum pecado ancestral. Deus, no fundo, era o responsável tanto pela multidão trabalhadora como pelo exército dos desempregados… E não bastava ‘fazer de conta’; trabalhar para si mesmo, era necessário trabalhar para os outros, ser assalariado. Ter um contrato de trabalho, levantar cedo, entrar em fila todas as manhãs, sem reclamar, junto a outros camaradas, nos pavilhões de uma fábrica, de uma loja, de um comércio qualquer…Filiar-se a algum partido de obreiros e de proletários! A palavra proletário também era quase uma palavra sagrada. Ser pelo menos um capataz. Lavrar a terra em algum latifundio, em algum feudo, em troca de meio saco de feijão e um porco. Como nos tempos do feudalismo. Ao mesmo tempo em que satanizavam o latifundio, queimavam incenso para os minifundios, para as pequenas porções de terra. Mas era pura ideologia, pois a escravidão era parecida, senão a mesma… Ser mais um, como todo mundo, vestir um uniforme, ter um apelido, uma enxada, um número, uma identidade coletiva. E, se possivel ascender. Vir a ser um pequeno proprietário, um chefezinho, imitar os grandes proprietários e pisotear os colegas num ambiente e ficar de joelhos diante do patrão, em outro. Humilhar-se diariamente, afinal, todos eram culpados pela morte de Cristo e pela mendicância de Buda… p.p.15,16

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  6. Uma pitadinha do livro... obrigado! legal! O mundo é nossa representação, disse Shopenhauer. O trabalho é uma doença contagiosa (rsrs).

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  7. A última:
    (...) Na primeira página dos jornais uma foto da Portadora de perfume, obra do escultor Victor Brecheret. Esculpir? Eis aí um trabalho que não parece trabalho! Mas sempre as pedras! A humanidade está carregando pedras desde que apareceu. Carregar ou esculpir pedras, haverá verdadeiramente alguma diferença nisso? E parece não haver diferença significativa entre a pedra que Sisifo tenta rolar para o alto da montanha e a de Esmeralda pendurada no pescoço da moça que vende ingressos para o cinema…
    Na rua, uma pastelaria chinesa com uma tabuleta pregada na parede, com este pensamento de Confucio: Deus colocou o trabalho como sentinela da virtude. Outra punhalada! A fumaça subia da imensa frigideira para o teto e os pasteis recheados com carne moída, a metade de um ovo e queijo, se amontoavam num outro recipiente de louça milenar. Todos os dias, no mesmo horário, um chinês octogenário, extremamente magro, aparecia por lá para comer dois pastéis e para contar histórias a respeito da Guerra do ópio. Fazia questão de repetir, mais de duas vezes que, ao contrário do que se pensa, era a Inglaterra que traficava ópio para a China, e não o contrário. Num desses dias, enquanto o velho chinês comia seu pastel, um mendigo estacionado na porta relatava de forma concisa a uma elegante senhora, esta breve passagem de um livro de M. Gorki: “Diante dos juízes está um velho alto e cego, - dizia-. Tem cara de ferro e compridos cabelos que lhe caem das orelhas até o queixo. À indagação: “Qual a sua profissão” retruca com voz cava e sepulcral: Vivo da graça de Cristo, da mendicidade".
    A madame, que se dizia esposa de um pequeno mercador ali dos arredores, saiu cabisbaixa e debulhada em lágrimas… Mas voltou em seguida para previni-lo: moço, para ter sucesso na vida é necessário ter um diploma. Quanto mais diplomas, mais sucesso!
    Ele, sentimental como todos os moradores de rua, esboçou aquele riso de desprezo e de mágoa que os grandes andarilhos sabem representar com maestria, como se estivesse lhe retrucando: Madame, com todo o respeito possivel, quero que a senhora e o mundo enfiem seus diplomas entre os grandes lábios… p. 48

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  8. Cada página uma punhalada (rs). Aguardando!!!

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  9. "Tamo" ...que porra de palavra é essa caralho!!! So tem analfabeto nessa porra! Kkkkkkk

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    1. Inclusive a palavra "Só" leva acento...
      É tamo memo carai, cê acha que vagabundo escreve como ?!

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  10. a hora que faltar comida na geladeira vocês voltam rapidinho pro trabalho e ainda puxando no saco do patrão. É comunas, tem que trabaiá, fio, como diz o Tico Santa Cruz, " a gente vive num país que é precisa trabalhar" kkkkkk e o vadio do mendigo K, arrumei emprego com carteira assinada , na vaga de zelador de cemitério, boquinha fácil, ele não quis! kkkk sabe o que o infeliz me disse, me xingando? Eu quero um cargo comissionado de servidor público com estabilidade...sem concurso kkkkkk

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