terça-feira, 11 de janeiro de 2022

O discurso quase eclesiástico do Ministro...

 


Até meus dez ou doze anos, as lendas que mais ouvia eram sempre sobre demônios. Dos quinze aos 30, sobre terroristas. Na primeira fase, era o demônio inventado pelos pobres e miseráveis nômades do paleolítico; na segunda fase, eram os terroristas vindos da União Soviética e da Albania, inventados pelos paranóicos da repressão policial. O primeiro, era um ser sedento por almas. Já, os segundos... o que queriam mesmo os segundos??? A guerra social? Ineptas quimeras!

Depois, essas bobagens foram aos poucos se esfumando. Apenas um ou outro idiota ainda seguia dando eco àquelas insanidades. 
Agora, de repente e curiosamente, um ministro, vem outra vez com essas lendas! O que estaria acontecendo? "As redes sociais fizeram surgir demônios que hibernavam à sombra" Diz. E "terroristas verbais  agora estão disseminando o ódio!" Ora! Isso é uma babaquice. Uma fantasia senil e reacionária, um bric-a-brac metafísico e tenebroso secretamente a serviço de uma determinada seita dominante, para assustar e para adestrar crianças na obediência e na disciplina (essas duas irmãs da servidão!). Abominamos essa insistência na antropopatia e essa obsessão em demonizar o ódio... Quando é que nos livraremos dessa visão maniqueísta? Qual é, afinal, o conflito com a existência do ódio? Sem ele, quem é que teria levantado as Muralhas da China? Traçado as Rotas da Seda? As Pirâmides do Egito? Aberto o Canal do Panamá, regado os Jardins da Babilônia e derrubado os portões da Bastille? Quem é que teria escrito Dos Delitos e das Penas? Mandado engendrar o Antigo e o Neo Testamento? E quem é que sustentaria esse teatro espetacular das aparências? Ora, sem ele, ainda estaríamos atolados como bactérias às margens dos pântanos. Ele faz parte de nossas vidas como as lufadas de ar que invadem nossos cortiços nestas manhãs sem grandes ilusões e sem porvir... 
Data vênia, (ilustre Ministro), mas não há demônio nenhum, nem nas sombras e nem na mais transparente luminosidade! E o terrorismo verbal, se é que existe, é fundamental para arrancar o populacho das trevas e da hibernação! É um antídoto para o mutismo, para o silêncio sepulcral e para as discussões entre palhaços que foi implantada no país desde que os portugueses encheram suas caravelas de ouro e de pedras preciosas e partiram... Nada é proibido! Tudo pode ser dito! Fake News?  Que noticia é mais fake do que a que afirma a existência do Demônio, do Diabo, do Satanás, de Belzebu e de congêneres? E mesmo assim é propagada livre e diariamente por aí, sem que ninguém se afete? Aliás, o mundo, as civilizações e as sociedades em geral foram e estão todas edificadas sobre mentiras, das mais cretinas às mais melancólicas...
Viva a Internet! Essa expressão máxima da razão, do raciocínio, da malandragem e do cinismo humano! O ato mais revolucionário de todos os tempos! 
E se ela abriu as portas para que todo e qualquer tipo de energúmeno possa se expressar, isto também é ótimo! Seu objetivo principal era exatamente este! Viva a dialética dos energúmenos! Viva a modificação genética da espécie! Já somos suficientemente adultos para saber que a fronteira entre a lógica e a verdade de um poeta, a de um cientista e a de um açougueiro é praticamente invisível.
Enfim, já que falamos em demônios, repetimos a pergunta que se fazia René Riesel: Como sair do inferno permanecendo nele?


Um comentário:

  1. Otimo! Mas é necessario enfatizar: a noticia mais fake ja inventada e que contaminou tudo absolutamwnte se chama...deus!

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