"É impossível conduzir a tocha da verdade em meio à multidão sem chamuscar a barba de alguém..."
(Lichtenberg)
Nesta segunda-feira cheia de nuvens e de idiotices, encontrei o Mendigo K encostado numa dessas árvores centenárias que ainda sobrevivem por aí. Estava com uma folha de jornal onde se via de longe a manchete (principio de propaganda) sobre a nova droga contra o Alzheimer.
Bazzo, já está reservando 300 mil para reativar seu cérebro? Para comprar o tal Aduhelm e livrar teu cérebro de suas placas de Beta amilóide? (deu uma gargalhada). Veja que idiotice! 300 mil reais! Declínio cognitivo um caralho! Esses cretinos não tem mesmo vergonha na cara! Quero que enfiem essa droga no rabo!
E depois, que estranha obsessão da "ciência" por querer manter a memória do velhos! Isso não te parece mais a um moderno tipo de sadomasoquismo do que a outra coisa? Obrigar o outro a lembrar-se! Lembrar-se? Lembrar-se de quê? Manter a memória de todos esses anos ridículos de abominações e de putarias? Desse banho de sangue estúpido e dessa sucessão de cambalachos que foi história do mundo? Ora! Querer sabotar esse período idílico em que os velhos poderiam enfim, livrar-se dos registros de um passado medíocre e vergonhoso... é uma sacanagem. Esquecer! Como deve ser um alivio esquecer-se de toda essa mixórdia...
E depois, (aqui entre nós) nada é mais poético e transcendente do que ver os velhinhos ziguezagueando por aí, tropeçando em alfinetes e nas nuvens e falando com as borboletas, sem saber a rua onde moram, se estamos em 2021 depois de Cristo ou em 4356 após Berlusconi... Vasculhando o mundo em busca de alguma porta para o infinito... Cumprimentando jumentos; espantando pernilongos com a bengala; jurando que participaram da construção épica do mundo... que aportaram em Galápagos com Darwin e que viram juntos a anunciação de uma santa, a mesma que apareceu lá em Portugal mil anos depois a três adolescentes autistas... Dizer que foram amantes de Lilith... Que foram advogados de defesa de Cain... A velhinha que encontro com frequência no mercado, - me disse com ironia -, jura que costuma sair das sessões espíritas sempre de braços dados com personagens famosos, tipo Calígula e Savonarola... que dão umas voltas pela cidade, pelos cafés e pelas igrejas e que acabam indo fornicar nos fundos do Palácio do governo... Falar com ela é uma maravilha! Conseguiu livrar-se do condicionamento da memória e da baboseira cultural...
Foi se retirando cinicamente depois de bradar:
300 mil reais! Quem é que não sente nojo por essa gente? E são os canonizados apóstolos da ciência! A santidade das farmacêuticas! Os humanistas do G7! Que enfiem essa droga no rabo e que Viva o Alzheimer e o esquecimento!!! O mais profundo dos esquecimentos... Viva a cândida solidão dos velhos... (com seus 300 mil enterrados no jardim e a salvo dos larápios e das farmacêuticas...)
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