quarta-feira, 2 de junho de 2021

CPI - A médica Luana Araujo (a Breve)

A presença da médica infectologista Luana Araujo hoje na CPI, foi uma espécie de exorcismo daquele lugar onde ontem foi protagonizado um festival de mau caratismo contra outra médica, a N. Yamaguchi. Um dos senadores chegou a dizer que ela era como um feixe de luz naquele ambiente...

Foi um show de beleza e de qualidade.

Não se sabe se porque assistiu ao massacre sofrido pela Yamaguchi ou se porque quis exaltar a Tradicional Família Mineira, a médica levou seu pai a tiracolo. Um senhor que também é médico, e mais: ortopedista, que ficou plantado a seu lado durante todo o "interrogatório". Imaginei, sem maledicência e sem aleivosia um ortopedista de plantão!

No meio de suas primeiras palavras já lançou um míssil sobre os nobres senadores:  "conto com a civilidade de vocês". Só o fato de ter trocado o [vossas excelências] por vocês já deu a dimensão de seu propósito. E uns momentos depois lançou sobre eles, num tom meio amoroso, esta outra frase tão herética e profana como a primeira: "Eu não pertenço a nenhuma esfera das quais os senhores estão acostumados!" Sem falar de seu frequente movimento da mão esquerda jogando a cabeleira para um lado... O exorcismo já havia iniciado.

E os senadores, que estavam de ressaca da vergonha de ontem  ficaram pianinho e bonzinhos do principio ao fim. E ela deu um baile de lucidez e de conhecimentos. Usou umas metáforas inebriantes tipo: "vácuo quântico"; "neo-curandeirismo"; "vanguarda da estupidez"; "discussão delirante"; "politização esdrúxula ; "iluminismo às avessas" e etc. Sepultando de vez aquela masturbação interminável e policialesca sobre o uso, ou não, da pobre cloroquina.

Como deve ter percebido que as médicas que a antecederam  exageraram na exposição de suas especialidades e que foram massacradas (possivelmente por isso), foi prudente com seu curriculum, exibiu-se com frugalidade, mencionando basicamente o Johns Hopkins. Eu, sabe-se lá por que, tenho um leve preconceito com essa instituição, mas alguns dos senadores, quando pronunciavam seu nome, pareciam tremer o lábio inferior e levitar na cadeira, como se se tratasse do Santo Graal ou de algum templo que os malandrins do passado haviam esquecido de registrar num pé de página do Antigo Testamento...

E o papo foi longo. A técnica investigativa/policialesca até então praticada lá não funcionou com a Luana. E ela foi o primeiro violino em todas as questões. De vez em quando, com o braço esquerdo, voltava a jogar a cabeleira para o alto o que, talvez, até irritasse a maioria de lá, já com calvice concluída ou em andamento. E o papai, como uma estátua de sal, ali no lado. Pensei em Édipo, mas muito fugazmente. Alguns senadores, provavelmente da TFP de seus estados até se emocionaram e enalteceram a presença do pai. Ah! A Sagrada Família! A família tradicional ainda está viva! E quando ela revelou espontaneamente à platéia o nome de seu herói eu pensei novamente na metafísica de Lacan: Le nom du père...

Algumas discussões delirantes iam e voltavam, mas tudo transcorreu na mais perfeita ordem. Voltou-se a falar em meta análise; nos axiomas clássicos da política e da saúde; nas lacunas na formação médica; nos negacionismos; na tática dos dois bandos para, dissimuladamente, abocanhar o poder; na diferença entre vírus e bactérias; na imunidade de rebanho; na mutação frenética dos vírus; em queijo suíço e outros truques da linguagem para se fazer entender. E todo mundo parecia querer jurar que estava e que sempre esteve do lado da ciência. Ciência! Muita ciência! A ciência acima de todos! Quase um misticismo! Uma ficção esotérica! Até quem acredita que a terra tem o formato de uma serpente, parecia estar convertido à ciência. E claro, voltavam à metafísica da meta-análise e dos estudos randomizados... (Que porra é essa?, ouvi um senador cochichando para outro).

E a vacina balizava todas as falas, como se fosse uma espécie de óleo da extrema-unção A Vacina! A vacina! Ai, meu Deus! a vacina! Como se ela nos garantisse uma espécie de felicidade, de imortalidade e até de eternidade. Naqueles momentos eu, que não desejo para mim e para mais ninguém, nem a imortalidade e nem a eternidade, pensava em Ésquilo, aquele lunático dramaturgo grego  que passeando pelos jardins de Siracusa, foi surpreendido por uma águia que deixou cair sobre seu crânio a tartaruga que levava no bico e que, como dizem os médicos, "o levou a óbito..."

Quem é que não se lembra dos tempos em que a ciência e a religião se enfrentavam nas academias e em baixo de cruzes com espadas e no meio de fogueiras? Achar que aqueles tempos ficaram para trás é ingenuidade. Só aqui nesta cidade existem uns trezentos desses prostíbulos sagrados. As crenças e a fé são mais ou menos como os vírus, podem ficar milhares de anos hibernando e de repente voltam à cena, já com outras cepas, quase sempre mais  tóxicas e venenosas.

E falavam da OMS da FDA, da ANVISA e de outras organizações paralelas como falam de Notre Dame; da Catedral de Chartres; de Aparecida ou da Colina do Horto de Juazeiro do Norte... Mencionavam os médicos como apóstolos e os cientistas como seres de uma Tribo Sagrada! Eu ia ouvindo aquela espécie de 'autismo coletivo', só pensando no significado da misteriosa metáfora da médica: vácuo quântico!

E o Ato Médico, doutora? E as mãos? Álcool em gel! Quase com a mesma função da água benta. Lavar-se as mãos! Pilatos foi o primeiro cínico a defender essa assepsia. E, curiosamente, a tese de Celine, em 1924, foi sobre Ignace Philippe Semmelweis, obstetra que lá num hospital de Viena, (1845), sacou que era necessário obrigar seus médicos a lavarem-se as mãos antes de se fazer um parto se não se quisesse infectar e matar a mãe e a criança. Quase foi linchado pelos colegas... 

E as gotículas que saltam de nossa boca? E o beijo? E as lambidas?Quanta gente qualquer um de nós já pode ter assassinado pelo mundo... (crime culposo ou doloso!)

Conversa vai e conversa vem, com todo mundo meio exausto de tanto dançar sob a batuta da infectologista, mas praticamente convertidos e loucos por uma 'verdade definitiva' ou por uma 'cláusula pétrea' sobre o assunto.., e foi então quando ela lançou este ultimo e chocante balde de água fria sobre aqueles pobres prosélitos enfiados atrás de suas burcas: 

É bom não esquecer o ditado antigo: tanto na medicina como no amor: nem SEMPRE, nem NUNCA...

O exorcismo estava concluído e o vácuo quântico se fez presente, mas com uma novidade que até então nem os místicos mais alucinados haviam imaginado: algumas das tais 'partículas virtuais' já não conseguiam nem interagir entre si... Segundo o Mendigo K, na verdade, estávamos diante de um vácuo cósmico!

Quê barbaridade!!!

;




4 comentários:


  1. This is very good post here. Thanks for taking the time to post such precious information. thanks
    woocnc.com

    ResponderExcluir
  2. https://www.youtube.com/watch?v=fngrsv5Mv5E

    ResponderExcluir
  3. Currículo de destaque: https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2021/06/03/interna_nacional,1273288/infectologista-luana-araujo-superou-um-cancer-e-se-dedica-a-saude-publica.shtml

    ResponderExcluir